Setor responsável pela fama da cidade, a indústria calçadista de Franca recebeu o primeiro aceno positivo do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos). Em decreto assinado na última quarta-feira, 1°, o governador reduziu o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) dos calçados para os pequenos, médios e grandes fabricantes. A medida renovou as esperanças do setor.
“Estamos felizes com a atenção e cuidado com que esta equipe de Governo tem tratado a indústria e outros setores econômicos importantes. Isso mostra que podemos esperar grandes feitos deste novo governo paulista e poderemos, enfim, ver as promessas antigas saírem do papel”, disse o presidente do Sindifranca (Sindicato da Indústria de Calçados de Franca), José Carlos Brigagão.
O dirigente se refere à redução da alíquota do ICMS, que agora ficará em 3,5% para todos os fabricantes. A medida é válida até dezembro de 2024. Antes, o percentual poderia chegar a 18% dependendo do destino do produto. “Esta única mudança já reduz em muito o valor do ICMS incorporado ao calçado paulista, tornando-o mais barato para o lojista de São Paulo”.
“Ao longo dos anos, muitas indústrias de Franca foram para outros estados em busca de incentivos fiscais, levando consigo empregos e tributos que poderiam fazer a diferença para Franca”, completou.
A redução da alíquota não é o único desafio enfrentado pelo setor. Desburocratização do setor calçadista; método de estorno de crédito de ICMS para as empresas com predominância em exportação; diferimento do ICMS em toda a cadeia produtiva da matéria-prima; e celeridade na liberação dos pedidos de crédito acumulado de ICMS dos contribuintes exportadores também estão na lista.
Confira a entrevista com o presidente do Sindifranca na íntegra
GCN: Quais as reinvindicações do setor calçadista para o Governo do Estado de São Paulo?
José Carlos Brigagão: A principal reivindicação tributária do setor é o incentivo fiscal às indústrias calçadistas do estado de São Paulo, na forma de equiparação do regime especial de tributação (RET) ao modelo de Minas Gerais, cujas alíquotas de ICMS foram reduzidas para 1 a 3%, para venda de calçados interna e interestadual, além de creditar 12% para o lojista de SP. Isso torna o calçado mineiro mais competitivo e atrativo do que o de Franca, dentro do próprio estado de São Paulo. Essas reivindicações vêm sendo feitas desde 2012.
GCN: Quais foram as alterações que o ex-governador João Doria fez durante o mandato, que o setor calçadista está tentando desfazer?
Brigagão: O ex-governador João Doria anunciou a redução da alíquota de ICMS do calçado paulista de 7% para 3,5% (crédito outorgado) em 2019, para vendas dentro e fora do estado a partir de março de 2020. Infelizmente, o decreto não contemplava toda a cadeia e isso provocou desequilíbrio na compensação de créditos, prejudicando a relação entre fornecedores e fabricantes, além de não beneficiar exportadores. Porém, em outubro de 2020, Doria publicou novo decreto 65.255/2020 que além de alterar a alíquota de 3,5% para 4,3% (a depender do destino/estado das vendas), incluiu o parágrafo 4, artigo 30 do Anexo 2 do RICMS, que veda a redução de alíquota nos casos de venda para estabelecimentos optantes do Simples Nacional e consumidor final, a partir de jan/2021. Como a maioria dos lojistas (90 a 95%) são optantes do Simples, isso automaticamente faz com que a venda para este lojista seja tributada a 18% de ICMS, dentro do Estado de São Paulo, que é a mesma alíquota que uma empresa no Regime de Lucro Presumido ou Lucro Real pagaria para uma venda ao Consumidor Final. O que obviamente tornou o calçado paulista ainda mais caro que dos concorrentes mineiros e outros.
GCN: O que o atual governador Tarcísio de Freitas já fez para o setor? O que ele promete fazer?
Brigagão: Desde o início da campanha, Tarcísio vem acompanhando o sistema tributário do estado de SP, e se comprometeu com o setor calçadista a trabalhar em prol da reindustrialização do estado. Assim que assumiu, já tomou providências para reduzir a carga tributária não só do setor calçadista, como também dos demais setores afetados pelo Decreto 65.255/2020. Na verdade, o 65.255/2020 perdeu sua validade em 15/01/2023 (24 meses). Porém, era preciso publicar um novo decreto que determinasse como seria tratado o crédito outorgado dali para frente. Na data de ontem, foram publicados 11 decretos com esta finalidade, entre eles o 67.524/2023 que determinou que a redução de alíquota de ICMS para o calçado paulista voltou a ser 3,5% e revogou o parágrafo 4, artigo 30 do Anexo 2 do RICMS. Esta única mudança já reduz em muito o valor do ICMS incorporado ao calçado paulista, tornando-o mais barato para o lojista de SP. Além destas ações, o Sindifranca tem tratado diretamente com a Sefaz de modo a buscar soluções para outros entraves como a burocracia para conseguir o Regime Especial, reduzir o prazo de adesão de fornecedores ao Regime Especial, promover maior fluxo aos créditos acumulados, além de uma minuta, cujo teor demonstrou as dificuldades enfrentadas pelo setor em razão da perda de créditos de ICMS nos casos de adoção ao regime especial. Esta minuta poderá tornar-se uma portaria CAT, que poderá ser publicada em breve, corrigindo estas arestas.
GCN: Caso essas reinvindicações sejam atendidas, o que o setor calçadista de Franca ganha? Maior renda, mais empresas?
Brigagão: O cenário ideal seria uma redução definitiva de alíquota de ICMS, que contemple toda a cadeia produtiva do calçado, que aí sim reduziria de fato o seu custo na vitrine, promovendo maiores vendas e por consequência aumentando empregos e atraindo as indústrias de volta ao estado de SP. Ao longo dos anos, muitas indústrias de Franca foram para outros estados em busca de incentivos fiscais, levando consigo empregos e tributos que poderiam fazer a diferença para Franca. A reforma tributária é essencial para a indústria em nosso país, mas pode demorar muito para ser aprovada. Então toda iniciativa, ainda que temporária, que vise reduzir o impacto de tributos na vida das pessoas e da indústria, é extremamente bem-vinda. E é isso que temos visto como meta neste novo governo paulista, acelerar as coisas.
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Comentários
3 Comentários
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Darsio 05/03/2023Em suma. Brigagão deseja pagar menos impostos porque se preocupa com empregos. E, eu acredito no lobo mau. -
Darsio 04/03/2023Eu fico tão, mas tão comovido com essas palavras do senhor Brigagão de preocupação com os empregos. Meu caro, seja menos cínico. A única e verdadeira religião de vocês é o lucro pelo lucro e, estão pouco se lixando se para isso é necessário explorar o trabalhador até a sua última gota de sangue. O que os empresários de vinícolas fizeram no RS é o sonho de consumo de muitos outros empresários no Brasil. Certamente, depois de conseguirem uma realidade de total isenção de impostos, o próximo passo será a revogação da Lei Área. O cidadão e, especialmente a classe trabalhadora, que fiquem espertos com a reforma tributária, pois esses senhores tudo farão para eles que sejam isentos de impostos e, toda essa conta ser jogada em nossos bolsos. Além do mais, a história tem mostrado até mesmo em administrações petistas que, a isenção de impostos a setores empresariais não se reverteram em benefícios a sociedade, sejam eles relacionados a empregos ou produtos de preços mais baratos. Além do mais, as receitas são reduzidas e com isso os serviços públicos que já são um lixo em qualidade, pioram ainda mais. -
Sapateiro 04/03/2023Oque o setor ganha? Conhecendo os empresários francanos, ganhará mais lucro para investir forte em casas de luxo, chácaras e ranchos de cinema e carrões! Repassar o desconto para o lojista está fora de cogitação e aumentar salários dos colaboradores menos ainda! GCN eu desafio vcs a perguntarem para uns 10 fabricantes para ver a reação.