OPINIÃO

Lembranças de Natal

Ao invés de abordarmos temas políticos e legais como fazemos durante todo ano, peço licença para rememorar neste dia festivo os meus Natais. Leia o artigo de Toninho Menezes.

Por Toninho Menezes | 24/12/2022 | Tempo de leitura: 4 min
Especial para o GCN

“Quando eu era menino, os mais velhos me perguntavam:
Que é que você quer ser quando crescer?
Hoje, não me perguntam mais.
Se perguntassem, eu diria que quero ser menino.”
Fernando Sabino

Escrever sobre a nossa infância não é somente saudosismo, mas sim ratificarmos e preservarmos lições de vida que ficaram marcadas e nos acompanham. Nessa época de Natal, ao invés de abordarmos temas políticos e legais como fazemos durante todo ano, peço licença para rememorar neste dia festivo os meus Natais.

Nos meus tempos de menino, as comemorações natalinas eram bem mais singelas, porém festivas e criativas, pois não havia disponibilidade de venda e tampouco poder aquisitivo para adquirir produtos prontos e acabados. Tínhamos que criar nossos enfeites, auxiliar na preparação das guloseimas etc. Hoje, as comemorações perderam parte de seu encanto e da ternura, passando a ser uma festa muito mais consumista do que religiosa.

Nos primeiros dias de dezembro, eu e meus irmãos mais velhos saíamos nos matos das cercanias da cidade em busca de algum arbusto que pudesse representar um pinheirinho. Meu saudoso pai era perfeccionista, os galhos tinham que ser retos, bem formados, uniformes, de cor verde. Aproveitávamos também para pegar musgo, que seria a base da árvore e do presépio. A tarefa não era fácil, principalmente a de transportar o arbusto até nossa casa, pois sempre causava “avarias” em nossas mãos e braços.

Em casa, na Vila Peixe, papai e mamãe ornamentavam aquele arbusto com bolas coloridas, que ficavam cuidadosamente guardadas durante todo o ano, e pedaços de algodão que imitavam os flocos de neve. Na base do arbusto, num tapete de musgo, montávamos o presépio com Maria, José, o menino Jesus, os Reis Magos e outros figurantes improvisados. Havia até uma pequena girafa de tamanho desproporcional aos outros integrantes do cenário, que eu todos os anos insistia em colocá-la no presépio. Papai, no dia de Santa Luzia (13/12), plantava arroz em pedaços de bambu para enfeitar ainda mais o nosso cenário.

A ansiedade pela espera do dia era grande, somente quebrada pelos ensaios que fazíamos da encenação da Missa do Galo na Igreja Matriz, conduzidos pelos Freis Elói e José.

A nossa inocência e candura ainda permitiam que acreditássemos em Papai Noel, e que era ele quem distribuía os presentes, apesar dos “avisos” e “alertas” dos mais velhos para que não ficássemos tão esperançosos de que ganharíamos tudo o que pedíamos. Independentemente disso, ficávamos admirando os presentes pendurados na loja da Dona Silvéria, lá no mercadão municipal, ao mesmo tempo em que ganhávamos algumas castanhas no armazém do Sr. Jacó e, em troca, carregávamos algumas sacolas de compras.

Na minha inocência, uma coisa que eu não entendia era o que ocorria na Rua do Comércio, onde, em frente à Loja Betarello, Papai Noel ficava distribuindo balas e bolinhas de gude para as crianças e ouvindo os pedidos de Natal. Eu sabia que não era Papai Noel, pois todos os dias do ano via o Sr. Leandro passando em frente à Vila Peixe, pela Rua Couto Magalhães, em direção à sua casa na Vila Flores. E aquele Papai Noel era ele, como isso era possível? Até hoje tenho algumas bolinhas guardadas que ganhei daquele inesquecível Papai Noel.

Na véspera do Natal, ao entardecer, já de banho tomado, vestíamos nossa melhor roupa e, com alegria, ficávamos na porta de casa aguardando alguma visita. Eram poucas, é verdade, porém era uma delícia quando alguma pessoa virava a rua e começava a subir a Vila. A propósito, a Vila Peixe era fantástica, pois tinha o cheirinho de Natal no ar, principalmente o que sentíamos ao passar em frente à casa da D. Dorama e do Seu Adib Calil, ou no interior do antigo “Mercadão” da rua Couto Magalhães.

Enfim, a noite esperada. Papai tocava na Corporação Musical São José, apelidada de “Furiosa”, enchendo a Praça Nossa Senhora da Conceição de alegria contagiante. Após a retreta, todos se dirigiam até a Igreja Matriz para a Missa do Galo, onde com o mesmo orgulho dos “artistas” principais, participávamos como coadjuvantes. Eu, durante alguns anos e sem nenhuma fala, tinha por missão conduzir um carneirinho. Sempre imaginava que o pastor era importante, mas todos davam mais atenção ao carneirinho, assim passava a ser o coadjuvante do coadjuvante. As crianças que não participavam da encenação, estavam sonolentas, mas em seus rostos havia a esperança do dia seguinte.

No dia de Natal, ao acordar era uma festa, cada um querendo mostrar o que havia ganhado e independentemente do valor do presente ficávamos muito felizes saindo pela rua a brincar. Bons tempos!

Algumas pessoas não gostam de relatar o seu passado e suas origens, mas o bom da vida é olhar para trás e sentir orgulho de nossa história e utilizar como receita da felicidade o viver cada momento como se último fosse. É lógico que a vida nem sempre é da forma que imaginamos e queremos, mas não tem graça viver sem dar uma boa e gostosa risada a cada dia.

Há sempre Natal, mesmo sem a neve dos filmes, sem os pinheiros da taiga europeia, sem chaminés para Papai Noel descer, mas, como aprendemos ao longo da vida, há sempre um Natal a cada ano em nosso interior, onde efetuamos uma reflexão e autocrítica de nossos comportamentos. Assim sempre, a cada ano, repetimos:

Senhor,
De quantos Natais ainda necessitaremos
Para lembrarmos de que a fraternidade
Deve ser vivificada em todos os dias do ano?
Feliz Natal a todos!

Toninho Menezes é mestre em direito público, advogado e professor universitário.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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11 COMENTÁRIOS

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  • ELISETE FERRAZ SALMAZO LAMEIRÃO
    02/01/2023
    BOA TARDE!!! Que narrativa deliciosa, quantas lembranças nos remetem do nosso NATAL. O quanto o NATAL é mágico, faz com que as pessoas fiquem mais solidárias e reflexivas. Lembro de alguns lugares citados, o Mercadão é o mais presente. E que sempre as lembranças dos nosso NATAL seja para nós uma forma de que Gratidão por tudo o que nós vivemos .. Um Ano Novo Repleto de Alegrias e Realizações..
  • Alex
    30/12/2022
    Au! Au! Au! AAAAAUUUUUUUUUUUUUU! KKKKKKKKKKKKKK
  • Alex
    29/12/2022
    KKKKKKK. Que pretensão a sua achando que eu perco o meu tempo lendo as baboseiras que você escreve. KKKKKKKK. Eu só escrevo algo para ver você rasgar a sua calcinha de raiva com minhas provocações mesmo. KKKKKKKK. Sempre me divirto com as respostas que você me dá. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK.
  • Darsio
    28/12/2022
    Minha nossa! Viu só alex múúúúúúúúúúúú´. A loja da Havan em Vitória da Conquista pegou fogo e, até nisso deu PT. É queima de estoque. Tá fia a coisa pra vocês, hein? Mas, vai lá comer a sua pica nha, vai.
  • Darsio
    28/12/2022
    É tão bom saber que o alex múúúúúúúú lê os meus comentários. Quem sabe com isso ele possa se curar da psicopatia e da insistência em ser um ruminante. Todavia, eu não perco um único milésimo de segundo para ler os seus fétidos comentários que, como de costume, ele tira da privada. ALÉX MÚÚÚÚÚÚ! JÁ COMEU A SUA PICA NHA?
  • Alex
    28/12/2022
    KKKKKK. E o puldo continua latindo sozinho pra lua e de vez em quando dá uma lambidinha nas bolas do cumpanheiro. KKKKKK
    • Darsio
      28/12/2022
      Alex múúúúúúúúú! Já comeu a sua pica nha?
  • Darsio
    27/12/2022
    Professor. Em que pese toda essa fala natalina, volto a alguns de seus artigos anteriores e insisto em lhe perguntar: por qual motivo o senhor se calou diante do descalabro da base governista que, apoiou e aprovou aumentos salariais escandalosamente altos para todos os cargos políticos, juízes e para a elite do funcionalismo público? Afinal, ela ainda é maioria no Congresso. É verdade que, vergonhosamente muitos ditos da esquerda, também foram autores desse assalto aos cofres públicos, mas e o que dizer da base direitista do Genocida? Afinal, não era ela a defensora da moralidade, da decência? Bolsonaro foi contemplado com mais uma bela aposentadoria e, sem qualquer efeito da reforma previdenciária maldosa que ele aprovou e que, condenou a classe trabalhadora a trabalhar muito mais e a receber muito menos. Os enfermeiros batalham para que o piso seja respeitado e, estão sozinhos nessa luta. E, o terrorismo praticado pelos psicopatas que adoram o Mito Cristo e, que por pouco não dizimou dezenas ou até centenas de vidas humanas? Nenhum comentário? Ou se aprova um governo que sempre virou as costas para livros e tudo fez para que esses insanos organizassem verdadeiros arsenais de guerra, para justamente promover uma situação que exigisse o estado de sítio? O próprio psicopata reconheceu que foi motivado pelo GENOCIDA a praticar o atentado terrorista. Enquanto isso, o GENOCIDA e sua quadrilha, digo família, estão de fuga pronta para os Estados Unidos para deliciarem dias de lazer em resort de luxo do fétido Trump. Enquanto isso, os seus psicopatas continuam acampados com caganeiras, tomando chuva, passando frio e, comendo o pão que o diabo amassou. E, aí professor! Tudo isso é normal?
  • Darsio
    26/12/2022
    É muito gratificante ler comentários com elevada capacidade de argumentação. Parabéns ao Francisco Matos que, se faz importante aliado na luta contra os fascistas psicopaptas que, se não forem contidos, vão desencadear inúmeros atentados terroristas.
  • Francisco Matos
    26/12/2022
    Nossa! tentando imitar uma colunista desse mesmo espaço? Ela, outrora recente, blasfemava asneira defendendo essa nefasta política dos extremos direitistas que defendem o nazismo. Atualmente escreve histórias para bois dormir. Professor, pelo seu texto, sua infância foi pautada por festas por ser da nobre sociedade Francana, parte dela imunda . Um grande mestre diretor da Faculdade de Direito, que sempre viveu na nobreza , gostava de me ouvir quando sempre mostrava a ele o que era viver na penúria por atos inconsequentes, criminosos, por parte de alguns prefeitos de nossa cidade que gastavam fortunas com festas carnavalescas e outras, em detrimento de pagar mensalmente os salários dos servidores públicos, atrasando em até seis meses, atuações de má fé. O prejudicado era orientado a comprar, via vales, na mercearia do amigo dele, político. Sabe o que é não comer nada de especial nas \" ceias\"? às vezes nem uma simples macarronada!. Então, como questiona um comentarista ai acima, o senhor prefere neste momento de tentativa de golpe a escrever história para criancinha dormir. O senhor defendeu o pior dirigente de uma nação do planeta. Os imbecis que exigem o golpe estão preparando o caos para que seja decretado o estado de sítio e ,pelo exército, esse monstro , hoje pior a Mussolini, com o mesmo slogan sobre Deus, família... que definitivamente transformar nosso país num tipo de colônia de Satanás. O que me deixa PASMADO é saber que o senhor e professor universitário, que por isso, formador de opinião. Vamos torcer para que haja total frustração dos golpistas e que o Ministro Dino, bota esses nazistas nos porões da ditadura militar.
  • Darsio
    26/12/2022
    Caro professor! Como podemos falar de natal, de proximidade com o cristianismo, quando os insanos seguidores do seu adorado governo, por pouco não provocaram uma tragédia muito maior, causando explosões que poderiam fazer com que nesse momento de festas, famílias trocassem a confraternização por velórios? Aliás, o senhor acredita que, um gerente de posto de combustível, numa cidade lá no fim do mundo, teria dinheiro para adquirir todo aquele arsenal de guerra, bem como para transportá-lo para Brasília? Também teria dinheiro para alugar para toda a família, apartamento em Brasília que, como se sabe o cisto do aluguel é caríssimo, sendo que nesses dois meses ele não está trabalhando? É óbvio que existe o financiamento por parte de pessoas poderosas e gente desse desgoverno que, como bem sabemos, as explosões provocariam um estado de sítio, o que daria ao Bolsonaro Hitler, condições para enfim decretar uma intervenção militar e , com isso se manter no poder. Tudo isso é o que se passava na cabeça desses patriotários. Mas, professor! O que tem a dizer sobre essa tentativa de terrorismo por parte dos patriotários? Afinal, se os planos desses psicopatas e terroristas tivesse dado certo, quantas famílias não estariam chorando a perda de entes queridos em plena festividade de natal. Mas, e aí professor! Patriotários trocam brinquedos por armas de guerra e. tudo normal?
  • Darsio
    25/12/2022
    Com poucas exceções o ser humano é, na prática, o oposto do que vive pregando dentro de uma igreja. Afinal, para muitos a verdadeira religião se chama lucro e, para obtê-lo vale qualquer tipo de exploração sobre quem trabalha. Solidariedade, simplicidade, fraternidade etc, são princípios que existem apenas no discurso dessas pessoas, pois no cotidiano ostentam fortunas ao passo que assistem muitos a passar fome e outras necessidades. O Natal está perdendo o seu verdadeiro sentido e, se transformando em mais um instrumento de exploração e de desvio do significado que a data possui. É algo típico do capitalismo consumista, em que o ter é infinitamente muito mais importante que o ser, ou seja, o valor da pessoa está no que ela usa, possui, come, ostenta e, não no seu caráter e humildade.