NOSSAS LETRAS

Oceans

Coloquei aquela música que você estava sempre ouvindo quando eu ia te visitar, Oceans. Leia a crônica de Júlia Gonçalves.

Por Júlia Gonçalves | 29/10/2022 | Tempo de leitura: 3 min
Especial para o GCN

Coloquei aquela música que você estava sempre ouvindo quando eu ia te visitar, Oceans. Estou agora de fones de ouvido com o memorando aberto e te escrevo. Queria ter fotos nossas pra me lembrar melhor, pouco tempo se passou, mas já estou me esquecendo do seu rosto, isso é comum pra mim, as vezes de madrugada me levanto e me olho no espelho pra lembrar qual carcaça me veste. Apavoro-me e me apaixono em instantes esticados ao máximo como um elástico que ao soltar volta com intensidade e dói. Queria ter fotos nossas.

Eu me lembro das madrugadas que passávamos juntas, eu te fazia mais linda e você me fazia mais forte. Uma vez me disseram que eu tinha costas de ferro, se referiam a você, na época só conseguia pensar que tal pessoa afirmava isso com tanta convicção pois já havia tentado me esfaquear pelas costas muitas vezes. Isso sempre me doeu tanto, será que você se lembra? Eu nunca agradeci sua proteção, embora sempre tenha sido grata. Não tenho gratidão por todo meu passado, quantas vezes, inclusive por você fui colocada em lugares que não me pertenciam, rotulada por algo que não me representava, mas você me enxergou, no fim você viu quem eu era e me respeitou, como igual e com amor.

Eu ainda tenho os óculos de sol que você me deu, e a pulseira de esmeralda presente de aniversário de 15 anos. Eu ainda tenho os conselhos, ainda tenho as memórias, mas temo que elas desapareçam como seu rosto está sumindo da minha mente. Será que estou deixando você ir? Você desejou tanto isso, eu não tenho certeza do que posso esperar do céu ou inferno quando eu morrer, para quem conhece a dor física e a emocional acho que o inferno não seria tão útil com enxofre e fogo. Mas você, você foi exatamente para onde acreditou que iria a vida toda, saltou para um céu de anil, com ruas de ouro e de cristais, rios de águas vivas, anjos cantando noite e dia que só o senhor é Deus. Você deve estar usando vestido longos e amarelos e tenho certeza de que sua morada no céu é repleta de girassóis.

 Você dança aí? Ainda canta com a convicção de que é a Whitney Houston? Você era uma péssima cantora, mas as palavras que soavam de sua boca eram como um abraço quente e forte, verdadeiro e sincero. Por muito tempo eu quis estar distante, a vida as vezes é complicada e nem sempre conseguimos estar em acordo com tudo. Tive raiva de Deus e você era Deus, você era uma fera, era mulher, era guerreira, era forte, sábia, amorosa, você era um grande colo, um abrigo, era mãe, era avô, era pastora de ovelhas, era minha tia. Você era minha amiga. Você era linda e iluminada, era folgada pra caralho kkkkk não sei quantas vezes ouvi você contando a história de José do Egito e sorrateiramente se comparando ao nosso protagonista. Eu amei te servir, eu amei te exaltar, eu amei você, eu amo você e hoje escrevendo essa carta consigo sentir tudo, você se foi e não temos fotos, eu queria ter algumas pra me lembrar do seu rosto quando estava junto ao meu. Você me amou, obrigado por isso. Nós não nos encontraremos em breve, como você sempre pregava: Deus conhece os nossos corações, o íntimo de cada um. Ele sabe que preciso mais do que águas tranquilas e um grande coral angelical pra passar a eternidade. Eu sinto sua falta, sinceramente não todos os dias, pois na maioria do tempo estou com saudades de mim mesma. Eu te disse que não era fácil morrer e você sorriu, você sabia.

Como eu queria ver seu rosto só mais uma vez, eu estou te esquecendo, me desculpe. Queria ter fotos nossas, de como éramos juntas.

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1 COMENTÁRIOS

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  • José Manuel Serradas
    29/10/2022
    Lindo.O Amor entre Iguais.Filho de peixe sabe nadar.