NOSSAS LETRAS

Caçambas

Há um milhão de anos os ancestrais do homem começaram a apresentar várias características de comportamento que os distinguiu dos outros animais. Leia a crônica de Lúcia Brigagão.

Por Lúcia Brigagão | 22/10/2022 | Tempo de leitura: 3 min
Especial para o GCN

Há um milhão de anos os ancestrais do homem começaram a apresentar várias características de comportamento que os distinguiu dos outros animais. A atividade da caça, por exemplo, que lhes garantia a subsistência, exigia a cooperação de vários indivíduos, cada qual com especificação definida de tarefa. Um localizava o bicho; outros encurralavam-no; havia que o distraísse; surgia o abatedor e assim por diante, imagino. Num determinado momento, acuada a caça, abatiam-na e estava garantida a refeição. Acabado o estoque, recomeçava tudo. Ninguém era apressado: no início, comia-se tudo cru. Passado o tempo, pelo menos 500 anos, antes de Cristo, o fogo é descoberto, o que mudaria o modo de vida daqueles antepassados do homem, que ainda se mostra gregário pois descobre que em grupo sobreviveria; isolado, não. Lareiras já fazem parte dos acampamentos; fondues demorariam a ser inventados e alguns alimentos passam a ser cozidos: descobre-se que assim podem ser conservados por mais tempo. Churrasqueiras, máquinas de lavar, air fryers demorariam para aparecer, entretanto.

50 mil anos atrás. A linguagem falada está completamente estruturada e a necessidade de proteger-se contra o frio intenso, força o homem primitivo a procurar abrigo em cavernas. Surgem os primeiros desenhos rupestres. Habitantes das regiões mais quentes, sem necessidade de proteção contra o frio intenso e sob condições climáticas diferentes, não deixaram registros dessa espécie. Sempre defendi a tese, por minha conta, que o homem que viveu sob situações precárias – frio intenso, entre elas, desenvolveu habilidades e inteligência muito mais rapidamente. (Olhe nossos índios, por exemplo. País tropical, temperatura privilegiada, água em abundância, cospe semente aqui, nasce árvore. Pega alimento com a mão, não precisa sapato, pouca roupa, algumas penas bastam: ficaram anos no subdesenvolvimento enquanto os índios canadenses, norte-americanos maias, incas astecas, mais tarde, inventaram tendas, mocassins, roupas de couro.) Na África são raros os desenhos rupestres, mas no Piauí, ancestrais de alguns políticos brasileiros desenharam suas memórias nas paredes.

Há 5 mil anos, começa no Egito e na Babilônia a produção de bebidas as partir da fermentação de grãos. Há 4 mil anos, bebidas fermentadas a partir da uva começam a ser fabricadas, embora não se possa precisar onde isso começou a ser feito. Há 4 mil anos cidades e estados no Egito e na Mesopotâmia já mostram cidades e estados altamente desenvolvidos. E o vinho, que só vai se sofisticar com Louis Pasteur, séculos depois, por volta de 2500 a.C. se torna conhecido dos egípcios. 3400 a.C. começa no Egito o registro escrito dos acontecimentos e com hieroglifos, registravam-se palavras inteiras. Cernes dos avisos modernos de sinalização de trânsito, de avisos de não fumar etc.

Muito tempo passou e dizem, evoluímos. Se a tecnologia caminhou a passos largos, a comunicação não evoluiu tanto assim, pelo menos em alguns casos. Um particular: as caçambas que recolhem lixos das construções urbanas e, algumas vezes, rurais. Em frente e ao redor de obras faraônicas modernas – prédios de altura inimaginável, em frente de casas simples ou sofisticadas que estão sendo reformadas, em demolições - são colocadas bacias de ferro, enormes que, embora pintadas de amarelo pintassilgo, se tornam invisíveis quando a noite cai, porque não possuem luzes de sinalização. Não há qualquer sinalização de alerta, não há luzes piscando, bips, nada. O motorista, mesmo cauteloso e cuidadoso, corre risco de bater numa quina da caixa reforçada de ferro e se arrebentar. Motos, carros, bicicletas, pedestres: ninguém tem salvo-conduto. Ou segurança. Ou proteção. Não temos a quem recorrer, caso precisemos de nos defender ou exigir ressarcimento por causa de algum acidente com eles. Somos órfãos de sistema de direitos civis e humanos.

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