NOSSAS LETRAS

As pesquisas e o Efeito Erundina

Os institutos de pesquisa do Brasil têm que fazer o mesmo que os dos EUA, ou seja, perguntar se o eleitor pretende votar. Leia o artigo de Mario Eugênio Saturno.

Por Mario Eugênio Saturno | 15/10/2022 | Tempo de leitura: 3 min
Especial para o GCN

Em 1988, Luiza Erundina estava em terceiro lugar. Não havia segundo turno na época. Ela atraiu o voto dos que votariam em candidatos que estavam atrás dela para evitar que Maluf e Leiva ganhassem. Essa foi a primeira vez no Brasil que as pesquisas deram ao eleitor a opção de escolher aquela em quem não votariam, mas consideravam uma opção menos ruim. Foi o Efeito Erundina.

A primeira pesquisa, feita a 15 dias da eleição, divulgada em 1 de novembro de 1988, mostrava Paulo Maluf com 26%, João Leiva com 20%, Luiza Erundina com 12%, José Serra com 10% e João Mellão com 6%. A segunda pesquisa, divulgada na véspera, 14 de novembro, mostrava Paulo Maluf com 26%, Luiza Erundina com 20%, João Leiva com 16%, José Serra com 9% e João Mellão com 7%. Erundina foi eleita!

Ao que parece, eleições polarizadas tendem a esse efeito, como observamos em diversas situações na eleição do último dia 2 de outubro. Há outros problemas, como já coloquei em artigos anteriores, o problema das amostras, pois temos um censo muito desatualizado e que certamente induz algum erro na montagem das amostras. E como os institutos de pesquisa não conseguem estimar esse tipo de erro, não se sabe a precisão real das pesquisas. Talvez um conceito de derating devesse ser aplicado a pesquisas.

Outra questão que fica como sugestão para os institutos de pesquisa: os institutos de pesquisa do Brasil têm que fazer o mesmo que os dos EUA, ou seja, perguntar se o eleitor pretende votar. Para ter 3 a 5%, estimam entrevistar mil pessoas, como cerca de metade não vota, entrevistam o dobro e perguntam primeiro se o eleitor irá votar. Como vimos, no Brasil, cerca de 20% dos entrevistados não foram votar, dessa forma, introduz um erro maior que os 2% calculados e da confiança de 95%, já que foram tratados como se fossem votar. Dessa forma, precisamos aumentar a amostra em 20% e perguntar se irão votar.

Talvez esteja na hora de utilizar Inteligência Artificial e isso possa melhorar a detecção desses movimentos que vimos acontecer. E não esqueçamos o Efeito Erundina, da migração de votos.

O Brasil tem 156,5 milhões de eleitores aptos a votar, porém, compareceram 123,7 milhões de eleitores e desses, votaram nulo ou branco, 5,4 milhões, reduzindo a 118,2 milhões de votos válidos ou 75,6% do total. Ou seja, um em cada quatro eleitores preferiram não participar da escolha de presidente, são mais de 38 milhões de pessoas, é muita gente. Tudo bem que parte esteja doente ou morta.

Lula teve mais de 57 milhões de eleitores e Bolsonaro, 51 milhões. Faltou a Lula apenas 1,86 milhão de eleitores para ganhar no primeiro turno, o que é impressionante, considerando que Lula foi retirado injustamente da disputa em 2018, sendo condenado por um juiz que não tinha a autoridade para julgá-lo (incompetente, no palavreado jurídico) e, pior dos mundos, esse juiz tornou-se ministro do candidato que ele favoreceu. Um problema grave de ética, conforme todo funcionário federal aprende no curso obrigatório de Fundamentos de Integridade Pública.

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