NOSSAS LETRAS

O melhor presente

Ainda acho extraordinário como a Internet descobre nossos interesses, embora saiba que os responsáveis por isso sejam os tais algoritmos. Leia o artigo de Sonia Machiavelli.

Por Sonia Machiavelli | 08/10/2022 | Tempo de leitura: 3 min
Especial para o GCN

Ainda acho extraordinário como a Internet descobre nossos interesses, embora saiba que os responsáveis por isso sejam os tais algoritmos das redes sociais. Conjunto de dados e regras estabelecidos para determinar quais conteúdos e páginas aparecem primeiro para o público na linha do tempo das contas, eles desvelam nossas intenções. Assim, desde que outubro começou, minha caixa de e-mails veio se enchendo de sugestões de itens destinados a crianças. Não só a minha, imagino, mas a de milhões de avós, pais, tios, padrinhos. Somos os mais visados neste período do ano que precede o Dia da Criança.

A data, 12 de outubro, não é universal. Cada país escolhe a sua. Pessoalmente acho que todos deveriam seguir o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que convencionou para a comemoração o 20 de novembro. Neste dia, no ano de 1959, o Fundo oficializou a Declaração dos Direitos da Criança. Esse documento estabeleceu uma série de direitos válidos a todas as crianças do mundo, entre eles alimentação, saúde, educação, amor. Pena que sejam descumpridos com afinco por muitos adultos todos os dias.

No Brasil, a tentativa de estabelecer um dia especial para homenagear os pequenos começou durante o 3º Congresso Sul-Americano da Criança, sediado no Rio de Janeiro. Aproveitando a realização do evento, um deputado federal elaborou projeto de lei que fixava a data no 12 de outubro.  Entretanto, ela não se tornou unanimidade. Foi só em 1955 que começou a ser celebrada a partir de uma campanha publicitária, “Semana do Bebê Robusto”, lançada por indústria de produtos de higiene, a Johnson. Foi tal o sucesso que logo atraiu a atenção de outros empresários ligados à indústria de brinquedos, como a Estrela, que patrocinou o evento “Semana da Criança” com o objetivo de alavancar suas vendas. O êxito fez com que um grupo de empresários revitalizasse a comemoração do “12 de outubro” criado pelo deputado. Foi dessa forma, sob o signo do capitalismo, que o Dia das Crianças passou a integrar o calendário de datas festivas do nosso país.

Como se pode deduzir com facilidade, há uma distância imensa entre a gênese do nosso 12 de outubro e a do 20 de novembro adotado por outros países. A Unicef nos conclama a pensar nos direitos que têm todas as crianças do mundo. O marketing estimula o consumo de um número imensurável de produtos que, às vezes, nem agradam a meninos e meninas privilegiados, que mal os testam os descartam. Todo excesso é entediante. Humanos são seres desejantes.

Não sou anticonsumista, embora o exagero me incomode. Sempre gostei de presentear meus netos e outras crianças nesta data. Mas acima de tudo acredito que junto com o presente físico, outro se impõe: uma reflexão séria, profunda, sobre o que podemos fazer pelo pleno desenvolvimento das crianças. As próximas e as distantes. 

Nesse momento onde há guerras, fome, desamparo e doenças em muitas regiões do mundo, doar um pouquinho às atendidas pelo Unicef é algo que podemos fazer. Apenas 30 reais, o correspondente a 1 real por dia, podem amparar crianças refugiadas, manter escolas em aldeias distantes de áreas urbanas, salvar bebês cujas vidas vão se estiolando por falta de alimentos e remédios. 

Quanto às crianças brasileiras, podemos dar a elas um presente muito importante neste ano. Não será comprado em lojas físicas ou virtuais, mas lhes trará grandes benefícios. Ao escolher o candidato à presidência da República e à governança de nosso Estado no dia 30 de outubro, elejamos aqueles que expressem interesse genuíno pela vida e pela educação.

Os baixos resultados de avaliação recente de português e matemática nos ensinos fundamental e médio, a evasão que se intensificou com a pandemia, a merenda depauperada para quem chega à sala de aula com fome, o desinteresse pelas campanhas de vacinação são apenas alguns dos indicativos que acenam para uma geração que vem se perdendo por conta da falta de atenção verdadeira. Ou muitas gerações, pois como escreveu sabiamente Victor Hugo, “a educação de uma criança começa pela de seus avós”.

Pensemos nas crianças que não merecem o destino que vem sendo traçado para elas. Escolhamos os candidatos que demonstram empatia pela infância e expressam compaixão pelos desvalidos. Será o melhor presente para milhões de meninas e meninos do Brasil.

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