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O Polegar

Afirmam os antropólogos, o fato propulsor do desenvolvimento humano -intelectual e material- foi o uso do polegar. Leia o artigo de Lúcia Brigagão.

Por Lúcia Brigagão | 08/10/2022 | Tempo de leitura: 3 min
Especial para o GCN

Afirmam os antropólogos, o fato propulsor do desenvolvimento humano -intelectual e material- foi o uso do polegar. Nas mãos, esse dedo fica isolado dos outros o que permite, primeiro, a apreensão dos objetos mais variados: da arma de fogo à flor; dos talheres aos livros; da caneta aos utensílios de cozinha; do pincel de barba às ferramentas de trabalho; da chave do trator à do barco de pesca; da filmadora que produz documentários e desvenda segredos ao giz que, nas classes de aula, esclarecia dúvidas, demostrava teoremas e produzia conhecimento.

Nos computadores, abre espaço entre palavras. Igualmente, ele autoriza a materialização dos desejos e estímulos dos cérebros humanos, tornando possíveis escritas de amor ou assinaturas de sentenças de morte. Ajuda na criação de textos que lançam perguntas ou aumentam a curiosidade das pessoas. Possibilita a criação de esculturas, pinturas, naves espaciais, vacinas preventivas contra doenças fatais e drogas letais, que matam milhares em segundos. 

Continuando a observação da estrutura humana, nos pés esse mesmo dedo tem posição e tamanho estratégicos: a postura ereta que conseguimos ao longo de milhares de anos – tão duramente alcançada e tão árdua de ser mantida, somente foi possível pela atuação importante que o dedo polegar dos pés exerce para obtenção do equilíbrio. Com os pés, e consequente ausência de oscilações e desvios, é que buscamos e vencemos caminhos, percorremos distâncias, superamos obstáculos, afastamos pedras, subimos montanhas e atravessamos rios na tentativa de alcançar um objetivo ou propósito.

Costumes, crenças, comportamento humanos, organização social seriam consequências do uso dos dedos polegares, os quais, nas mãos, ainda são responsáveis por importante simbologia: dedão para cima significa positivo e vida; dedão para baixo, negativo e morte. Isso, sem falar que carregava a delicada função de ser –também o da mão-  em algumas situações, nossa identificação maior, dada pelas impressões digitais. Já foi nome de banda juvenil, ainda é usado para assepsia nasal e, em alguns casos, para assinaturas de documentos, além de ser eficiente arma para matar piolhos. E dar nome a história infantil cheia de simbologias e interpretações. 

O passado e o presente da humanidade estão recheados de revelações que ora enaltecem e elevam os protagonistas: o homem, por ter sido capaz de segurar lápis e produzir papel, criou locais de recolhimento e reflexão onde o espírito se solta e vai para uma outra dimensão. Nessas horas tornou-se possível sonhar com paz entre os seres vivos, respeito incondicional pelas divergências de opinião, estabelecer limites de atuação, fronteiras e barreiras entre os frágeis e eventuais habitantes do mundo. Mas o homem, por ter sido capaz de inventar lápis e papel, inventou também fórmulas econômicas de extorsão e ganância.

O homem, por ter conseguido andar e descobrir novos mundos, criou estradas velozes, aparelhos que lhe permitem ir, voltar e, encontrando outros semelhantes, confrontar suas conclusões, verificar novas maneiras de se conduzir, resolver problemas imediatos de sobrevivência e adquirir novos padrões de comportamento. Depois, voltar. Crescer. Evoluir. Mas o homem, por ter conseguido andar e descobrir novos mundos, criou formas de opressão sobre os semelhantes.

O homem, apreendendo objetos, conseguiu escrever para que as outras gerações ampliassem o acervo anteriormente encontrado. Poderia ter-se tornado muito mais sábio do que se apresenta. Poderia mostrar-se muito menos egoísta, prepotente e, o que é pior, poderia ter solucionado questões de ordem subjetiva, que o atormentam há séculos e séculos.  Mas inventou de perpetuar suas próprias verdades, considerando-as irrefutáveis.

Milhares de anos de evolução, tanto progresso tecnológico e expansão territorial obtidos pelas atividades de mãos e pés humanos, tanto conhecimento sobre o funcionamento do corpo!... E ainda estamos longe de aprendermos a esgotar as vantagens emocionais que poderemos tirar deste específico privilégio da nossa estrutura física.

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