NOSSAS LETRAS

A luz há de chegar aos corações

Neste domingo, um novo presidente poderá ser eleito, se conquistar metade dos votos válidos mais um. Leia o artigo de Sonia Machiavelli.

Por Sonia Machiavelli | 01/10/2022 | Tempo de leitura: 4 min
Especial para o GCN

Outubro estreia com eleições que poderão definir melhores rumos para o Brasil a partir de 2023. Neste domingo, um novo presidente poderá ser eleito, se conquistar metade dos votos válidos mais um. Caso contrário teremos segundo turno no último dia do mês.

Somos 156 milhões de eleitores, número 6,21% maior que o registrado em 2018. A se considerarem corretas todas as pesquisas até aqui divulgadas, metade deste contingente, ou seja, cerca de 78 milhões, rejeita o atual presidente, candidato à reeleição. Os índices são alarmantes para a campanha dele, mas não surpreendentes para quem, isento de fanatismos, observa de fora. Eles trazem em seu bojo o histórico de um político que como liderança mostrou-se despreparado em todos os sentidos, inclusive no psicológico. Não houve preâmbulos: desde o primeiro momento mostrou-se autoritário, insensato, grosseiro, bizarro. Empatia passou longe. Compaixão também.

Foi insensível à causa das mulheres, revelando-se muitas vezes agressivo com elas. Foi racista ao se referir a índios e pretos, nada criando para amenizar preconceitos estruturais. Foi homofóbico. Foi inimigo de artistas, intelectuais e jornalistas a quem ofendeu e humilhou. Foi indiferente ao sofrimento alheio quando a pandemia nos atingiu, matando quase 700 mil brasileiros. 

Fez vista grossa à questão ambiental. Ignorou a extrema desigualdade social.  Tornou opaco o que era transparente, ao impor sigilo de um século a documentos pessoais e contribuir para tornar secreto um orçamento até então público, o das verbas obtidas por deputados. Confrontou de forma nunca vista o Poder Judiciário. Instrumentalizou as Forças Armadas. Facilitou a compra de armas de fogo.

Colocou no Ministério da Educação um ministro que fraudou seu próprio currículo e outro que se conluiou com pastores para vender à mancheia bíblias com foto de políticos na contracapa. Nenhum dos quatro nomeados apresentou um plano, por mais simples que fosse, para melhorar a qualidade de ensino no país.

Os últimos dados do IDEB revelam problemas de aprendizagem sérios em crianças do Ensino Fundamental, vítimas do descaso das autoridades e dos efeitos da Covid, que as obrigou ao ensino remoto por dois anos. Teria sido pior o resultado dos últimos exames de avaliação não fosse o esforço de professores que conseguiram vencer o desânimo e trabalharam no limite de suas forças para vencer contextos de miséria, crises emocionais, falta de conectividade.

Se levamos em consideração o que disse na semana passada o escritor israelense Yuval Raval, em visita ao Brasil, “aqueles que vão mudar a face do mundo são as crianças que hoje têm dez anos”. É legítimo então perguntar se nosso povo tem alguma chance de alcançar um patamar favorável no conjunto das nações prósperas no futuro próximo. Sobre educação, junto com saúde uma das maiores preocupações dos brasileiros, muito pouco falou o atual presidente ávido por mais um mandato. Entretanto, diante do que estão registrando as pesquisas, é provável que seja seu adversário o eleito, no primeiro ou segundo turno.

Para mudar a rota do País em retrocesso e incluí-lo no rol das nações democráticas e civilizadas, o novo presidente deverá criar com urgência uma agenda que busque efetivamente reduzir os danos causados ao Brasil nos últimos anos. Esta agenda contemplará obrigatoriamente e de imediato a educação, a ser pensada por grupo de especialistas que se disponham a um esforço hercúleo para diagnosticar os problemas e saná-los, pois não mais será possível levar o assunto de forma leviana. Precisará encarar o problema da fome, que está castigando milhões, e o da violência, que cresceu a olhos vistos não só nas metrópoles, também nos rincões interioranos. A política ambiental e o desenvolvimento sustentável estão na ordem do dia de todos os países mais evoluídos e não há como ficar for do tema, sobretudo tendo a Amazônia sob nosso nariz. E há as questões que professores como Marco Aurélio Nogueira citam como imprescindíveis de serem resolvidas: “a recuperação dos sistemas básicos de gestão destruídos, orçamento, política exterior, reforma tributária, qualificação da classe política, revalorização do Executivo e...  compostura presidencial. “

Terminada a eleição, o que o cansado povo brasileiro deseja é que o jogo do palanque se encerre de vez, o ódio recue, a polarização esmoreça, cessem as batalhas identitárias, as disputas mesquinhas, as divisões políticas. E às ideias simplistas sobrevenham planos factíveis que recuperem o vigor da vida democrática e promovam a restauração do que foi estilhaçado. Não são objetivos a serem alcançados em curto prazo, mas como não se pode viver sem esperança, enquanto aguardamos os resultados pensemos nos poetas que nos inspiram em momentos difíceis de atravessar:

“O sol há de brilhar mais uma vez/ A luz há de chegar aos corações/ Do mal será queimada a semente/ O amor será eterno novamente.”
Nelson Cavaquinho

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