NOSSAS LETRAS

Humor, mulheres, tabus, identidade e gênero

Uma adicta recuperada, uma dependente de sexo, (...) uma jovem mulher andrógina que busca homens femininos são alguns dos exemplos de personagens. Leia o artigo de Thalyta Martins.

Por Thalyta Martins | 17/09/2022 | Tempo de leitura: 4 min
especial para o GCN

Dentro de um universo rico de histórias para contar, a brasileira Virna Teixeira, psiquiatra que trabalha numa prisão inglesa, resolveu aventurar-se pelo conto e suas narrativas perpassam vivências e experiências como médica, pesquisadora e mulher. Seu primeiro livro de ficção chama-se A Pupila e o relato inicial leva o nome do livro. Inspirado em fatos autobiográficos durante os anos de formação como médica, exibe humor nas estratégias para lidar com um universo patriarcal na medicina e o desencanto com a neurologia. Nos demais contos, Virna apresenta personagens que são, em sua maioria, mulheres vistas como audaciosas por uma sociedade que trata o erotismo feminino de forma diferente do masculino. Já os personagens masculinos debatem-se com crises de afirmação e estereótipos patriarcais.

"É muito interessante fazer o trabalho de pensar o feminino de outra forma, entrar no universo de mulheres que não são comumente retratadas na literatura, no cinema e nas artes. Porque é como se a mulher que não tem um modelo de feminilidade, digamos assim, ela fica de fora do discurso. Se é uma mulher presidiária, uma adicta, ela fica em uma certa sombra do feminino", destaca a autora. Uma adicta recuperada, uma dependente de sexo, uma dominatrix, uma jovem mulher andrógina que busca homens femininos são alguns dos exemplos de personagens deste livro.

De autoria da escritora Valéria Lourenço, a plaquete bilíngue O país que me habita/The country that inhabits me, lançada em conjunto com A Pupila, é uma atuação de Virna como editora, tradutora e ilustradora, tendo feito a capa da obra que conta em métricas poéticas a história da vida de Valéria.

Doutoranda em Literatura comparada pela UFC e professora de Língua Portuguesa e Literaturas do IFCE campus Crateús, Valéria cresceu numa família negra em Minas Gerais, que migrou para o Rio de Janeiro, onde ela nasceu, em busca de melhores condições de vida. Sua mãe trabalhou como empregada doméstica, seu pai cometeu suicídio, e seu padrasto foi assassinado. Uma tragédia não só individual, mas também coletiva em muitas famílias no Brasil, onde o preconceito, a violência, e as cicatrizes pós-coloniais e as desigualdades econômicas são imensas.

O livro com menos de 40, costurado à mão, foi publicado em Londres por Virna, através do seu selo independente Carnaval Press, pelo qual a cearense já lançou mais de 15 títulos de poesia, tendo no catálogo autores europeus e latino-americanos, como Jèssica Pujol e Gladys Mendía.

No campo da poesia e das artes, Virna Teixeira tem vasta experiência e habilidades. Participou de diversos festivais de poesia no Brasil e no exterior. O início da jornada com a poesia foi no ano 2000, com a obra Visita, pela editora 7 Letras, seguido de outros livros com temas ligados a viagens, distâncias, deslocamentos e retornos.

Desde 2015, escreve livros bilíngues e aborda questões como criação e maternidade (Maternal Instincts); a imersão nas enfermarias psiquiátricas (Suite 136); e as tensões de gênero (The Couple's Room). Sua última coleção, My Doll and I, que saiu pela editora Lumme (2021) no Brasil, reflete sobre gênero, identidades e modos de vestir, através do diálogo com um homem travestido. Em 2021, publicou sua antologia El mapa dolorido del cuerpo pela Universidade de Buenos Aires, traduzida por Francisco Gelman Constantin, professor e pesquisador da área de humanidades médicas.

Ela também passeia pela tradução, do inglês para o português ou o inverso. Fez três títulos de poesia escocesa, incluindo a antologia Ovelha Negra (editora Lumme) e uma seleção de poemas de Edwin Morgan, Na Estação Central (Editora UnB). Traduziu plaquetes de Tristan Tzara e Paul Éluard, coleções de autores latino-americanos contemporâneos, e uma variedade de autores de língua inglesa para revistas de poesia. Traduziu e publicou o trabalho das autoras brasileiras Lígia Dabul, Rosane Carneiro e Valéria Lourenço.

Nas artes visuais, Virna trabalha com arte digital, gravura em metal, colagem e silk screen. Teve a primeira exposição dos seus trabalhos digitais, Nothing to fear, este ano um salão de artes em Belgrado, na Sérvia. As obras podem ser visualizadas no Instagram @virna.visual.art. A costura e a moda compõem as formas de expressão visual da artista, suas criações podem ser encontradas no Instagram @pinsandneedlesfashion.

Em 2009, Virna Teixeira criou o selo "Arqueria Editorial" em São Paulo, com a proposta de publicar pequenas coleções de poesia em plaquetes costuradas à mão. No total, já foram publicados cerca de 20 títulos de poesia e tradução, incluindo poetas de renome como Horácio Costa, traduções de e.e.cummings, Paul Éluard e autores contemporâneos argentinos, como Maria Eugenia López.

Além do selo independente Carnaval Press, também lançou a revista eletrônica de literatura e artes visuais Theodora. O projeto internacional cria pontes entre a literatura e as artes na América Latina e Europa. Do Ceará houve a participação do artista Eduardo Frota, e do poeta e artista multimídia Eduardo Jorge, radicado na Suíça.

Fale com o GCN/Sampi! Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Receba as notícias mais relevantes de Franca e região direto no seu WhatsApp
Participe da Comunidade

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.