NOSSAS LETRAS

Papel

(...) não fosse o papel não teríamos livros, não teríamos cartas, não teríamos segredos, não teríamos História nem histórias para contar. Leia a crônica de Lúcia Brigagão.

Por Lúcia Brigagão | 20/08/2022 | Tempo de leitura: 4 min
especial para o GCN

A Feira Escolar da Francal começava a ser pensada. Corria 2004, janeiro ia em meio. Seria montada exposição, o Papel seria o tema, pois era matéria-prima da maioria dos objetos expostos naquela específica mostra. Destaque para a origem, história e trajetória do papel, com destaque para o papel do Papel na vida das pessoas, desde sua invenção até os dias atuais. No embalo do sonho de montar a exposição no espaço onde estariam invenções importantes, fatos e momentos ligados ao assunto - propulsores do conhecimento humano como Linguagem Imprensa, Comunicação, Escrita, Signos, Símbolos e Símbolos universais, começamos. O Papel deveria ser mostrado como elemento imprescindível no registro do cotidiano humano, fio condutor, de ligação e perpetuador dos sentimentos manifestos – ou não – de várias e diferentes gerações, povos e pessoas: não fosse o papel não teríamos livros, não teríamos cartas, não teríamos segredos, não teríamos História nem histórias para contar. A mostra foi batizada: O Papel do Papel.

Pensar num mundo sem papel é uma forma de dimensionar sua importância. O Papel é guardião da cultura. O papel tem a função de sacralizar a compromissos. O papel oferece aconchego para a angústia humana. Durante muito tempo oficializou posse de terras, mas, sobretudo, foi a única possibilidade de transporte da cultura escrita de geração para geração. É meio de diversão. Perpetua lembranças. Registramos no papel nossas emoções, angústias, alegrias e, através dos registros, socializamos estas reações – do coração – ou do inconsciente. No papel foram escritas as mais belas obras da literatura mundial, cartas de amor, de ódio, de alforria, as mais belas poesias e sentenças de morte. O papel é democrático: aceita tudo e tudo de todos... Claro, outras invenções auxiliaram-no nestas e em outras tarefas: a tinta, a máquina de escrever, a fotografia, a borracha, o caderno, o clip, a caneta tinteiro, a esferográfica. Do chip, aos aparelhos eletrônicos, à telefonia, à possibilidade de comunicação à distância. Todos estes resultados da inteligência humana são, porém, evoluções variações e aperfeiçoamento da invenção do papel. Simples assim...

Num plano pessoal o papel registra nossa história de vida através de diários, fotografias, documentos, bilhetes, cartas, escritos, depoimentos. Enquanto escolhia, do meu acervo particular, os elementos para montar na exposição o espaço que denominei “Intimidade”, percebia que através de objetos de papel poderia perfeitamente contar minha história de vida, que cada uma das pessoas – independentemente do tempo em que viveu - ou que viveu poderia fazer o mesmo. E que, principalmente, procurar nosso passado é hábito extremamente saudável. Pode remexer feridas, mas a emoção retorna vívida e intensa.

Montei painel extenso com fotos que chamei a Linha do Tempo, onde estavam registrados e comentados cada momento significativo da história do Papel, desde sua invenção, e cada uma das invenções humanas que auxiliam, ou auxiliaram-no a desempenhar suas múltiplas funções. Desde as pedras, até computadores, de símbolos antigos aos modernos de significado coletivo. Máquinas de escrever, reproduções de fotos da primeira delas inventada por Gutenberg, que tornou possível a reprodução inclusive de obras de arte. Fotos que registram o cotidiano humano, alguns livros e jornais raros, objetos confeccionados com papel, cartas antigas, cartões comemorativos.

Trabalho do qual me orgulho, deixou lembranças, algumas delas bem amargas. Porém, através dele pude definir o que seja um Cidadão. Cidadão é aquele que possui conhecimento do passado histórico de seu país, aprendeu a respeitá-lo e valoriza os papéis que desempenharam seus ancestrais na busca do desenvolvimento. Que, através de autoconhecimento, descobre e dimensiona seu papel no contexto social. Que mantém olhos e ouvidos atentos considerando essa vigília o meio de aprendizagem com o passado, para evitar a repetição de erros no presente e planejar um futuro brilhante: por esta perspectiva só pode ser Cidadão quem tiver memória. Na memória do povo estão registrados seus grandes feitos, iniquidades cometidas; acertos e erros do governo e dos particulares: sucessos, derrotas, vitórias e conquistas. O importante e maravilhoso papel dos agentes de comunicação – que divulgam esses fatos e notícias; dos profissionais que os analisam e os comparam; dos leitores que formam suas opiniões críticas a partir destas análises – tem origem na invenção da Linguagem, nas descobertas do Papel, na China e, principalmente, na possibilidade da divulgação dessas grandes ideias dos homens, através de técnica e do aparelho que se tornou símbolo da transmissão de cultura e conhecimento: da Imprensa.

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