NOSSAS LETRAS

Fama

É difícil ser famoso e/ou célebre. É questão de profundidade vertical, do que vai além das aparências. Leia a crônica de Lúcia Brigagão.

Por Lúcia Brigagão | 06/08/2022 | Tempo de leitura: 2 min
especial para o GCN

(Segundo a Mitologia Grega, Fama nasceu de Gaia, logo após os gigantes Céos e Encélado. Habitava no centro do mundo, nos confins da terra, do céu e do mar. No seu palácio sonoro, construído de bronze, com milhares de orifícios, captava tudo que se falava, por mais baixo que fosse e, amplificando-o, propalava-o de imediato. Cercada pela credulidade, o erro, a falsa alegria, o terror, e a sedição e os falsos boatos, Fama supervisionava o mundo inteiro. Na representação clássica, possuía múltiplos olhos e ouvidos, que tudo viam e ouviam e de outras tantas bocas para divulgar. Dotada de asas, o que denota uma divindade ctônica, ligada aos mortos, deslocava-se rapidamente, quando necessário, para qualquer parte do Cosmo com a intenção de averiguar a veracidade dos fatos ou propagá-los pessoalmente.)

Fama e celebridade já foram privilégios de poucos. Alcançavam-nas apenas aqueles responsáveis por feitos, atitudes, proezas, descobertas incríveis: seres grandiosos, diferentes, distintos, excêntricos. Mereceriam muito mais que notoriedade fugaz, a permanência na memória da humanidade. Aí reinventaram o sucesso, acrescentando-lhe um toque modernoso. E efêmero.

Bem diferente da celebridade e fama – em essência e causa – esse sucesso na acepção moderna se caracteriza por sua ligeireza, por sua inconstância, por sua insustentável leveza. Embora com efeitos de popularidade semelhante ao de suas coirmãs, delas se distingue. E como!

Famosos e célebres compunham a galeria de estrelas humanas e dividiam, com suas obras, o antes e o depois de suas áreas de atividade, tornavam-se imortais e, mesmo que fossem superados, continuavam como referenciais respeitadas, independiam do tempo: possuíam a marca da perenidade. Eram nomes que se confundiam com suas realizações – Chaplin e Jô Soares; Newton Shakespeare; Einstein e Chanel; Gandhi e Pelé; Ronaldinho e Frank Sinatra. Spielberg e Jorge Lucas: algumas das estrelas de brilho próprio, eterno e reconhecido.

Obtiveram sucesso - nesse sentido modernoso que depende da mídia para se instalar - os dotados - ou bem-dotados - de virtudes efêmeras, passageiras, transitórias, frutos de modernismo, modismo e de interesses materiais, nem sempre muito explícitos. E seu brilho... comparável ao produzido pelos fogos de artifício que surgem fazem bonito, mas acabam. E quando passam deixam rastro: um indefinível quê de tristeza, algo de inconsistente e, além de muita dúvida, muito ressentimento naqueles que dele usufruíram e experimentaram E foram substituídos.

É fácil ter sucesso. É questão de medidas horizontais - centímetros dos atributos físicos, extensão do estardalhaço, do pitoresco e excentricidade de suas atitudes, além da distância dos parâmetros considerados como conduta desejável. É difícil ser famoso e/ou célebre. É questão de profundidade vertical, do que vai além das aparências, dos benefícios que causa, das mudanças estruturais que provoca.

Felizmente são todos necessários para a grande comunidade humana funcionar bem, pois compõem a heterogeneidade, característica fundamental e mais rica dos grupos sociais. Agora pertencer a qualquer destas categorias... isso é questão pessoal de intrincada complexidade e não vem ao caso qualquer tipo de avaliação. Bem disse o poeta, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”!

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