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Vó! Conta uma história? Leia a crônica de Lúcia Brigagão.

Por Lúcia Brigagão | 02/07/2022 | Tempo de leitura: 3 min
especial para o GCN

Vó! Conta uma história?

Meu avô contava que, há muito tempo, seu companheiro de escola disse-lhe que escutara esta história misteriosa de antigo mestre. Dizia o mestre que deveria pertencer ao folclore de algum lugar, pois jamais lhe descobrira a origem, ou conhecera as personagens e que, se fora inventada, nunca se saberia o autor. Muito menos se realmente acontecera. Mas era instigante e, como tal, intrigante. Há outras versões, mas a preferida dele é esta aqui...

“Pedro de Souza, jovem bem apessoado, foi mandado à França para incrementar seus conhecimentos de comércio. Era sua primeira viagem internacional, ele estava bastante excitado e Paris, ó Paris! morava no ideário masculino e jovem de todos os rapazes da época. Ele não falava, com exceção de merci, qualquer outra palavra ou expressão da língua do lugar. Chegou a Paris no final da tarde. Caminhou por linda ponte, acompanhando o nativo que o buscara na estação ferroviária. Deixado no hotel, guardou sua mala e saiu para breve passeio ao lado do Sena. Sentou-se no terraço de aprazível café. Foi quando ele viu a encantadora jovem que lhe sorria insistentemente. Receoso, não lhe sorriu de volta, afinal iria se casar em breve com a brasileirinha que deixou chorando na sua terra. Entretanto a jovem francesa não se deu por vencida. Tira da bolsa um pedaço de papel azul, escreve qualquer coisa, e deixa o bilhete cair aos pés do rapaz. Levanta-se, passa por ele, lança-lhe olhar expressivo e desaparece rapidamente na multidão do boulevard.

Intrigado e já arrependido de ter ignorado a garota bonita, Pedro de Souza abaixa-se e pega o papel. Abre, está escrito em francês. Na esperança de ter em mãos o endereço da moça, curiosíssimo pede ao garçom que traduza aquelas palavras. Depois de lê-las, ainda com expressão de horror, o homem o expulsou do café. Ele saiu desolado, foi para o hotel e contou ao gerente o que lhe acontecera. Mostra-lhe o papel azul. O homem lê, olha-o com asco e ordena que deixe imediatamente a casa, recusando qualquer explicação. Aturdido, atordoado, perplexo, Pedro de Souza mete o papel no bolo, decidido a não mostrá-lo mais para ninguém naquela cidade. Volta para seu país.  Encontra amigo de seu pai, também seu chefe, a quem narra a história. Crendo se tratar de alguma pilhéria - de mau gosto ainda por cima – Pedro quer decifrar o enigma. Dá-lhe o papel azul, já amarfanhado e meio sujo. O vermelhão do rosto do chefe transforma suas feições. Atirando o papel no pobre rapaz, expulsa-o dali com palavras grosseiras e ofensivas. Pedro acabara de perder o emprego, além da paz de espírito, tudo por causa de algumas palavras escritas em um pedaço de papel, absolutamente sem sentido para ele.

Lembrou-se, num estalo, de sua antiga ama de infância que era francesa de nascimento. Ela poderia lhe dar alguma ajuda. Certa de que ela traduziria aquelas palavras, procurou-a, sentou-se em frente a ela, dramaticamente tirou do bolso uma pistola, colocou-a sobre a mesa e já engasgado disse-lhe: “uma tradução imediata, correta e simples, por favor, ou não deixo esta sala com vida!”. Ela concorda, estende a mão para segurar o papel. Ansiosamente Pedro mergulha os dedos no bolso onde o trazia sempre. Não o encontra. Procura-o nervosamente de bolso em bolso. O papel desaparecera. E nunca mais foi encontrado.”

“O que estaria escrito no papel?” perguntou-nos vovó. Embora tivéssemos perdido o sono, estávamos mudos... 

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