OPINIÃO

Os 60 anos da Unesp

A Unesp (Universidade Estadual Paulista) “Júlio de Mesquita Filho” comemorou na última semana o sexagenário de seu campus em Franca. Leia o artigo de Guilherme Cortez.

Por Guilherme Cortez | 12/06/2022 | Tempo de leitura: 4 min
especial para o GCN

A Unesp (Universidade Estadual Paulista) “Júlio de Mesquita Filho” comemorou na última semana o sexagenário de seu campus em Franca. A antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Franca foi criada em 1962, ocupando o histórico prédio do Colégio Nossa Senhora de Lourdes, no Centro.

Em 1977, a faculdade foi incorporada à recém-fundada Unesp, assim como uma dezena de instituições isoladas estado afora. A universidade se tornou uma gigante, espalhada por 24 cidades de todas as regiões de São Paulo. Hoje, a FCHS (Faculdade de Ciências Humanas e Sociais), instalada no Jardim Petráglia, reúne cerca de 2 mil alunos nos cursos de direito, serviço social, história e relações internacionais, além da pós-graduação, empregando 200 profissionais entre professores e servidores técnico-administrativos e movimentando a economia da cidade.

Uma trajetória tão longeva dedicada à educação deveria ser, certamente, motivo de orgulho e comemoração para Franca. A Unesp tem sido, ao longo desses 60 anos, um patrimônio para o ensino da cidade, formando mentes e profissionais notáveis em cada um dos seus cursos. Mas sua contribuição para vai muito além.

Como uma faculdade pública, a FCHS é também um centro de pesquisa científica e debate crítico. Milhares de projetos de pesquisa, da graduação até o doutorado, já foram desenvolvidos por seus alunos durante esses 60 anos. Projetos estes fundamentais para expandir o que se sabe no Brasil e no mundo sobre a historiografia da região, a aplicação de normas jurídicas e sua comparação com outros países e os aspectos mais variados do universo das relações internacionais e da assistência social.

Além disso, a faculdade desenvolve dezenas de projetos de extensão, que prestam serviços para a comunidade. O Núcleo Agrário Terra e Raiz atua junto aos assentamentos e acampamentos rurais da região. O Centro Jurídico e Social oferece atendimento jurídico gratuito para pessoas de baixa renda. O Cursinho Popular da Unesp, onde este colunista teve o prazer de lecionar durante seus anos de graduação em direito, prepara alunos para o exame vestibular. O NEPECC e o NETPDH, respectivamente, trabalham temáticas relacionadas à cidadania e direitos humanos em escolas de ensino básico de Franca. O Núcleo Cidadania Ativa acompanha órgãos públicos e da sociedade civil da cidade. O Observatório de Desigualdades publicou, no ano passado, um estado valioso sobre os indicadores sociais da região. Para citar só uma minoria dos grupos existentes na faculdade.

Mais popular entre as universidades estaduais paulistas, a Unesp foi a primeira a instituir o sistema de cotas e hoje já conta com mais da metade dos seus ingressantes oriundos do ensino público. Apesar disso, ainda há muito para se avançar para garantir que esses estudantes consigam se manter na faculdade e completar seus estudos – as chamadas políticas de permanência estudantil. Na volta às aulas em março, os estudantes protestaram contra o atraso nas obras da moradia estudantil e a insuficiência do serviço oferecido pela Empresa São José.

Junto com a USP e a Unicamp, a Unesp é financiada por uma parcela do ICMS que é arrecado no estado de São Paulo, imposto que incide sobre as mercadorias e serviços em circulação. Imposto, aliás, que o presidente Jair Bolsonaro anunciou que irá reduzir para fazer demagogia eleitoral e pode retirar até R$ 1 bilhão das universidades paulistas, prejudicando os estudos que elas desenvolvem. Não é o ICMS que tem deixado os preços nas alturas. Sem rever a política de preços da Petrobrás e combater a inflação, o brasileiro vai continuar pagando caro, agora com as universidades estaduais paulistas sem investimento.

Indomesticável por essência, a Unesp foi parte ativa de importantes momentos da história de Franca. Mais recentemente, foi protagonista das grandes manifestações contra os cortes de investimento do governo federal nas universidades públicas em 2019. Nos últimos dois anos, sofreu um revés com a interrupção das aulas presenciais e migração para o ensino remoto devido à pandemia. Agora, com obrigatoriedade de vacina para estudantes e funcionários, as atividades estão sendo retomadas. Na quinta-feira, como parte das comemorações do sexagenário, a faculdade ofereceu um concerto comemorativo no Teatro Municipal com a orquestra filarmônica da USP e os corais das unidades de Franca e Jaboticabal.

Infelizmente, o obscurantismo que ascendeu no país nos últimos anos levou muitas pessoas a desacreditarem o papel das universidades públicas, com o estímulo de ministros da Educação desqualificados e teóricos da conspiração que as trataram como espaços de “balbúrdia” e depravação. Nada mais desonesto: são elas as responsáveis pela produção de 95% dos estudos científicos no Brasil, que vão servir para a produção medicamentos, vacinas, tratamentos médicos, equipamentos mais eficazes e técnicas para aperfeiçoar políticas públicas no país.

Não dá para se falar da história de Franca na última metade de século sem considerar o papel da Unesp para a economia, a política, a cultura e a educação da região. Resta ainda que a FCHS seja mais incluída e valorizada na cidade, pela população e pelas autoridades públicas. Pelo tamanho da sua contribuição, com certeza será. Que sejam só os primeiros 60 anos e a universidade pública continue cumprindo sua missão!

Guilherme Cortez é advogado.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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