NOSSAS LETRAS

O Ser Humano é Esboço

Leia cinco poemas com o tema “o ser humano é um esboço” publicados em livro (em 2019) e reproduzidos aqui pelo autor Baltazar Gonçalves.

Por Baltazar Gonçalves | 28/05/2022 | Tempo de leitura: 2 min
especial para o GCN

Nesse mundo avesso, maio é o mês das noivas e junho é dos namorados. Não devia ser ao contrário? Primeiro a gente namora, e depois casa. O amor desconhece calendários. A propósito de conhecer o outro e a si mesmo numa relação de descobertas, publico neste caderno cinco poemas com o tema “o ser humano é um esboço”. Os cinco poemas foram publicados em meu livro Tecido na papelaria, pela editora Penalux, em 2019.

Retrato | Teu rosto é estampa complexa, descrever-te em cores vivas equivale esquartejar a perfeição em grave risco de corte. Dobro o traço, no esboço tens largo cenho. O assunto por princípio fora do alcance é meu desejo de parar o tempo, para tal crime a pena comutada é desejar-te tanto. Recuo. Teu riso é lâmina afiada. Ao fim do inútil exercício de pintura e caligrafia desfaleço pinceis em punho, pauta contínua em branco. Teu encanto, meu desalento. Preso entre pontos e linhas suturado recolho alegria fugaz de tão breve guardado.

Rabisco | A ponta aguda grafite-carbono diamante desenha teu rosto quando vejo na fina estampa pingar dois pontos pretos em cada íris. No rabisco sobre teus lábios fulguram ressaltados finos fios de prata. Um riso torto desalinha o traço, rabisco ausências e desejo. Naufrago serenamente em tua virginiana calmaria, a malícia delicada dessa arte suavemente poderosa revela meu lugar favorito no mundo, o pouso de tuas asas na borda do abismo. No desenlace traçado encontro abrigo, praia ordenada que não sai de mim jamais.

Bordado | Começo sempre no fim e agonizo no parto. Assim acontece de amanhecer dormindo no bastidor o traço. Não mais animado, nem menos rascunho. Apenas eu, bordado.

Inacabado | Com a mão pensa inclinada, eu ergue a palma afilada. Alongo a palavra descanso, do bordado pende crisol da alma sem paz. A linha contínua da vida embaça. Ponto cruz, eu pensa punho cerrado no lábio mudo. Luz sem começo, amor árduo. Conforta o eu inacabado espalhar estrelas na vastidão.

Antinous | Deitado nesta margem ornamentada de lírios ordinários de perfume doce observo alturas. No meio e nas pontas e em cada extremidade da ponte erguida pilares sustentam o fim da alegria. Tão alta que parece magra tão fina que parece ausente o traço alongado de estilo tardio tem por saudade nome de pia. No extremo da construção abandonados elevamo-nos inebriados ponte, perfume e saudade.

Fale com o GCN/Sampi! Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Receba as notícias mais relevantes de Franca e região direto no seu WhatsApp
Participe da Comunidade

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.