OPINIÃO

Não é normal ser deputado por 32 anos

Apesar do frio histórico que se abateu sobre Franca na última semana, o cenário político local está começando a esquentar. Leia o artigo de Guilherme Cortez.

Por Guilherme Cortez | 22/05/2022 | Tempo de leitura: 2 min
especial para o GCN

Apesar do frio histórico que se abateu sobre Franca na última semana, o cenário político local está começando a esquentar com a proximidade das eleições de outubro. Uma notícia em particular surpreendeu os eleitores e políticos da região: o anúncio da aposentadoria do deputado estadual há mais tempo em atividade na Assembleia Legislativa de São Paulo, Roberto Engler.

Com 78 anos – mais da metade investidos na política, desde que foi eleito vereador de Franca em 1982 –, Engler conclui no ano que vem seu 8º mandato como deputado estadual, totalizando 32 anos de atividade na Assembleia. Sua aposentadoria, anunciada através de um vídeo compartilhado nas redes sociais em que diz que é preciso “passar o bastão”, chacoalhou a política regional. Afinal, será a primeira vez desde 1990 que o eleitor não terá a opção de votar em Engler para deputado.

O feito do parlamentar retirante não deveria ser considerado normal na política. A alternância de poder é um requisito de democracia saudáveis. A eleição de um deputado por oito mandatos consecutivos é uma deformidade democrática, fruto de um sistema que favorece a perpetuação de alguns mesmos atores e rostos na cena política. Quem passa tanto tempo assim afastado dos seus eleitores, encastelado em um gabinete em São Paulo, perde a sensibilidade para exercer uma boa representação. Não à toa, entre 2014 e 2018, Engler foi o deputado estadual que mais faltou entre seus pares, totalizando 389 ausências.

Assim que repercutiu o anúncio do decano, o ninho dos tucanos entrou em revoada para definir quem o sucederá na disputa para a Alesp. Até o momento, dois vereadores de Franca se postulam para a briga: o lacônico Kaká e o novato Daniel Bassi.

Homem de poucas palavras, com raríssimos posicionamentos na Câmara Municipal, Kaká ostenta o posto de vereador mais votado da história de Franca desde que recebeu 6.080 votos na eleição de 2016. Quatro anos depois, contudo, viu sua votação reduzida a uma pequena fração daquilo, recebendo meros 1.635, sendo apenas o 15º candidato mais votado no último pleito.

Bassi, o mais novo vereador da Câmara, está longe de ser uma novidade na política. Ele próprio foi assessor parlamentar de Engler e se reivindica como seu herdeiro político. Na Câmara, está longe de se posicionar de forma inovadora e costuma votar junto com a base do prefeito Alexandre e fugir de pautar polêmicas.

Franca costuma eleger entre um e dois deputados estaduais. Nas últimas oito eleições, Engler foi um deles – antes se alternando com Gilson de Souza (que também pretende voltar à disputa por uma vaga na Assembleia) e, na última eleição, com a delegada Graciela Ambrósio. Sua saída abre um vácuo inédito para a renovação da representação parlamentar da região na Alesp. Resta saber quem a ocupará.

Guilherme Cortez é advogado.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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