OPINIÃO

Quem mandou matar Marielle?

A democracia no nosso país não pode ser verdadeiramente chamada como tal enquanto o crime contra as vidas de Marielle e Anderson estiver impune. Leia o artigo de Guilherme Cortez.

Por Guilherme Cortez | 15/05/2022 | Tempo de leitura: 2 min
especial para o GCN

Mil quinhentos e vinte e três dias atrás, o Brasil adormeceu consternado pela notícia de um crime brutal. No dia 14 de março de 2018, o centro da cidade do Rio de Janeiro foi palco de um ato de violência não somente contra as vidas de duas pessoas, mas um atentado contra a democracia no nosso país. Marielle Franco, vereadora do Rio no exercício do seu primeiro mandato, para o qual foi eleita com a quinta maior votação das eleições, e seu motorista Anderson Gomes foram alvejados com 13 disparos de arma de fogo e perderam suas vidas.

Marielle era uma mulher negra, lésbica, criada na favela da Maré e defensora dos direitos humanos, que adotava em seu mandato uma postura de defesa de pautas historicamente marginalizadas. Criticava os abusos e excessos das operações policiais e militares nas comunidades cariocas, defendia as comunidades negra e LGBT, as religiões de matriz africana, a população em situação de rua, os direitos das mulheres e os serviços públicos.

O assassinato de Marielle e Anderson chocou o Brasil e o mundo não somente pela sua brutalidade, mas pelo sentido da execução de uma parlamentar democraticamente eleita. O crime da noite de 14 de março de 2018 não foi motivado por uma mera desavença ou desentendimento pessoal, mas se tratou de uma tentativa de interromper a atuação política de uma vereadora. Quando Marielle foi assassinada, a intenção era de que sua militância política pudesse ser assim neutralizada.

É pressuposto de uma democracia sadia que as pessoas eleitas para exercer mandatos de representação popular possam desempenhar suas funções de maneira ética e sem restrições. Quando um parlamentar eleito é ameaçado, agredido ou tem que interromper seu mandato, o que está em risco não é somente sua própria integridade, mas a representação de todas as pessoas que o elegeram.

Infelizmente, o Brasil tem convivido com cada vez mais casos de violência política contra parlamentares e ativistas, sobretudo mulheres, pessoas negras e transexuais. Nenhuma vítima de violência num país que tem índices alarmantes de feminicídios, violência contra negros, lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais é mais importante do que outra, mas a violência contra Marielle foi endereçada também para silenciar as pautas que ela defendia e todas as pessoas que se sentiam representadas por sua atuação.

Quatro anos e dois meses depois da noite que chocou o país, as investigações ainda não concluíram quem foram os mandantes do assassinato de Marielle. A democracia no nosso país não pode ser verdadeiramente chamada como tal enquanto o crime contra as vidas de Marielle e Anderson estiver impune.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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