OPINIÃO

Grandes Amores

Leia o artigo de Lúcia Brigagão.

Por Lúcia Brigagão | 30/04/2022 | Tempo de leitura: 3 min
especial para o GCN

Há algum tempo planejei, anunciei, lavei as mãos, abri olhos e ouvidos, fui ouvida, iniciei, dei os primeiros e muitos passos, planejei, delineei a intenção, mas como (quase) tudo na vida, abandonei. Sou cheia de grandes planos jamais concluídos, talvez porque não tenha coragem suficiente para aguentar o fim do projeto, seu sucesso ou insucesso. Deixo a conclusão para o psiquiatra que me ajudou durante anos. Não sou covarde, isso não sou, mas talvez não tenha coragem para ir ao fim de nada: tenho mil paixões que não deram certo; tenho zilhões de minutos jogados fora porque me faltou pique para chegar à batida da hora exata que me confirmaria se obtivera sucesso ou o insucesso na relação.

Minha vida amorosa mostrou, durante minha juventude inteira e parte da vida adulta a terrível incapacidade de amar como o outro era. Sempre idealizei e me dei mal, muito mal. Um dia, parei de fazer fita e firula e me entreguei. Não completamente, mas o outro entrou na minha vida e nela permaneceu durante muito tempo. Muito tempo mesmo. E foi bom. Muito bom.

Foi esse outro quem durante anos me cobrou a conclusão de muitos projetos abandonados. Um desses projetos foi a elaboração de livro que, antes mesmo de ser concebido ganhou nome: Grandes Amores. Numa conversa banal tipo turma à beira de piscina, lembro-me bem, falava-se sobre Camilla Parker e príncipe Charles. Sempre defendi que, em matéria de grande amor, nenhum outro superara o desse icônico casal. Claro, ninguém concordou comigo. Então decidi pedir depoimentos – presenciais e pelo jornal, de amores vividos ou presenciados.  Muita gente me atendeu. Escreveram e enviaram-me histórias de amores experimentados por elas, grandes paixões que evoluíram algumas, definharam outras. Eu tinha conhecimento anterior de muitos contos, alguns de fada, outros de bruxas, muitos de ogros, alguns de mocinho bonzinho da novela das seis. Reais! Fui escrevendo todas. O projeto ia de vento em popa, quando alguma coisa me desagradou e eu parei de escrever o livro. Brochei. Perdi o desejo de continuar. Como muitos outros interesses anteriores, nem sei quantos.

Recentemente passei por grandes dores, surpresas, decepções e saí da crise no momento em que descobri que enquanto existirem sentimentos, grandes amores acontecerão. Procurei os antigos arquivos, felizmente achei, retomei a escrita. Volto aqui, na tentativa de receber novas histórias vindas daqueles que me leem e têm confiança no que faço.

Continuo acreditando que o maior amor do mundo é o do casal inglês Camilla e Charles que foi separado na marra. E ela continuou amada por ele, tão feia quanto era quando se conheceram. E ele, veio no tempo amando-a mesmo assim, já casado com uma das mulheres mais conhecidas e badaladas de todo o mundo e da era moderna e com dois filhos. Nada os separou. História assim, nem a da Wally Simpson e Eduardo VIII, tio de Carles, que abdicou o trono por amor, porque “não conseguiria governar o império, longe da mulher que ele amava.”

A ficção, mesclada com a vida real, mostra-nos grandes amores: de Cleópatra e Marco Antônio a Bonnie e Clyde; de Romeu e Julieta a Juan e Evita Perón, de Lizzie e Mr. Darcy a Marquezine e Ronaldinho. Personagens da mitologia, da literatura, de histórias reais ou imaginadas: de fato, algumas têm finais trágicos, mas vão continuar inspirando corações apaixonados, com certeza. Outrossim, sempre me perguntei se apenas o amor idealizado e não realizado, sem final feliz, sem o foram felizes para sempre, apenas ele é perfeito? Justamente porque não deu certo?

Ainda não encontrei a resposta.

Lúcia Helena Maniglia Brigagão é publicitária e escritora.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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