OPINIÃO

Agora é pra valer?

Com ares de campanha eleitoral, o recém-empossado governador e já pré-candidato à reeleição anunciou um pacote de investimentos para a região. Leia o artigo de Guilherme Cortez.

Por Guilherme Cortez | 10/04/2022 | Tempo de leitura: 3 min
especial para o GCN

Depois de quase ver sua candidatura ao governo ir por água abaixo pelas mãos do titular do cargo, João Doria, que ameaçou desistir de concorrer à Presidência e continuar no Palácio dos Bandeirantes, o ex-vice e agora atual governador, Rodrigo Garcia, inaugurou sua agenda como chefe do Executivo estadual visitando Franca na última segunda-feira, 4. Por uma coincidência talvez inexplicável, no mesmo dia também resolveram dar o ar da graça à cidade das três colinas o deputado federal Eduardo Bolsonaro, que um dia antes debochou da tortura sofrida pela jornalista Miriam Leitão quando estava grávida durante a ditadura, e o polêmico ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que tentou boicotar o quanto pôde a vacinação de crianças contra o coronavírus.

Com ares de campanha eleitoral, o recém-empossado governador e já pré-candidato à reeleição anunciou um pacote de investimentos para a região, incluindo a construção do tão falado hospital público regional.

Ao longo de anos, a construção de um hospital público tem sido promessa de campanha de políticos dos mais variados partidos. O mais notório dentre eles foi o ex-prefeito Gilson de Souza, que se elegeu defendendo a instalação de uma unidade do Hospital das Clínicas na cidade, que nunca passou sequer de um esboço. Não é de se espantar, portanto, que muita gente veja com desconfiança o anúncio de que o hospital finalmente pode sair do papel.

Enquanto isso, políticos da região e de fora, como o vereador Daniel Bassi, o prefeito Alexandre Ferreira e os deputados estaduais Arnaldo Jardim e Roberto Engler, disputam a “paternidade” do projeto e tentam colher para si os louros do anúncio do governador.

Os dois anos de pandemia de covid-19 escancararam o que já era óbvio para quem trabalha na linha de frente: o sistema de saúde de Franca é precário e insuficiente para atender a demanda de toda a região. Não à toa, em mais de um momento amargamos a posição de epicentro da pandemia no estado de São Paulo, como no fatídico mês de maio do ano passado, quando foi necessário decretar um lockdown na cidade.

Diante desse cenário, o fortalecimento do Sistema Único de Saúde e a construção de um hospital público para atender à região são medidas muito importantes. Mas não é possível brincar nem barganhar com algo tão sério como a saúde das pessoas.

Não é por coincidência nem pela astúcia do prefeito, do vereador ou dos deputados que reivindicam para si a glória que a construção do hospital esteja sendo anunciada agora. Em campanha para continuar morando pelos próximos quatro anos no Palácio dos Bandeirantes, o desconhecido governador Rodrigo Garcia, que pontua míseros 6% nas pesquisas de intenção de voto, tem intensificado agendas e investimentos no interior para cacifar suas chances eleitorais.

A construção do hospital em Franca se situa nesse quadro. Tanto é que, durante as horas em que sua candidatura esteve ameaçada pelo vaivém de Doria, a visita a Franca e o tão aguardado anúncio também ficaram em suspenso, para desespero dos políticos que já cantavam vitória para si. Não chega a ser estranho também que o projeto tenha se tornado realidade semanas depois que o secretário estadual de Saúde Jean Carlo Gorinchteyn descartou sua viabilidade. O que explica a mudança de posição do governo estadual se não os interesses eleitorais do governador?

O anúncio na última segunda foi só o primeiro passo. Há muitas perguntas ainda a serem respondidas. As obras começarão esse ano? E se Garcia não for reeleito, serão mantidas? Quanto tempo vai demorar para o hospital estar pronto e em pleno funcionamento?

Se a construção do hospital vai ser pra valer dessa vez ou não, só o futuro dirá. Mas só com muita vigilância da população será possível garantir que o projeto não seja mais uma promessa vazia de campanha eleitoral.

Guilherme Cortez é advogado.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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