PANDEMIAS

A pandemia e a falta de memória

Esperamos passar o 'pico' da pandemia da Covid-19 para efetuarmos os comentários a seguir. Leia o artigo de Toninho Menezes.

Por Toninho Menezes | 12/03/2022 | Tempo de leitura: 4 min
especial para o GCN

Esperamos passar o pico da pandemia da Covid-19 para efetuarmos os comentários a seguir. Nós, pesquisadores, não podemos nos furtar e deixar de efetuar comentários sobre a pandemia da gripe A, H1N1, também chamada de gripe suína. Cidadãos do mundo que não se recordam de acontecimentos recentes são pessoas subjugadas a interesses outros. Assim, os que detêm o poder conseguem moldar os fatos à sua ideologia, passam a contar suas versões a um público que é incapaz de se lembrar de fatos passados e facilmente serão vítimas de situações dominadoras.

Já dizia o filósofo grego Aristóteles: “O medo é um sentimento que gera a expectativa de um mal”. Em junho de 2009, sem pré-aviso, a OMS (Organização Mundial de Saúde), órgão pertencente a ONU (Organização das Nações Unidas), declarou a gripe A (suína) pelo H1N1 uma pandemia, ousando afirmar que ela mataria em torno de 150 milhões de pessoas.

Imediatamente o pânico tomou conta de toda comunidade mundial, com governos tomando medidas alarmistas. Tais números de óbitos nunca ocorreram, chegando ao máximo em algumas centenas. Só para citar como exemplo: na Espanha, enquanto a gripe sazonal comum matou naquele período em torno de três a quatro mil espanhóis, a gripe suína H1N1 ceifou a vida de 275 pessoas. O governo espanhol gastou em torno de 332 milhões de euros em vacinas e antivirais. O México gastou 55 milhões de euros em vacinas para a gripe A (suína), contabilizando 1.185 óbitos até abril de 2010, sendo que morrem anualmente 14 mil mexicanos em razão de doenças respiratórias.

Para resumir, a monja Beneditina do monastério de Sant Benet de Montserrat, em Barcelona, Teresa Forcads, que é teóloga e doutora em medicina, destaca que desde que a doença foi detectada em 2009, até 15 de setembro do mesmo ano, morreram 137 pessoas na Europa e 3.559 em todo o mundo em razão do H1N1, enquanto que a gripe estacionária comum mata anualmente de 40 a 200 mil pessoas. E aí que fica a questão: por que a OMS declarou, de repente, o vírus da gripe A como uma pandemia, se teve mortalidade mundial inferior à da gripe sazonal comum?

Já naquela oportunidade, como agora, políticos se tornaram os porta-vozes da gripe A suína, e não os cientistas. Tanto é que, posteriormente, frente aos números de óbitos e aos gastos despendidos com o dinheiro público, chegou-se à conclusão que a doença causada pela gripe suína, mais que um caso de saúde pública, foi uma questão política.

Posteriormente, tivemos no ano de 2014 o alarmismo do vírus ebola, que se tornou o comentário do momento, inclusive com cenas, nos EUA, de policiais motorizados abrindo caminho para ambulâncias que levavam os doentes recém-chegados do continente africano até os hospitais.

Apesar do grande alarme causado mundialmente, ninguém se atentou para o fato de que o ebola existe na África desde os anos 70 e nenhuma das autoridades da OMS, até então, nunca tinham dado a devida atenção ao vírus.

Bem, a propósito cabe aqui citar o exemplo do ex-presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt, quando proferiu em seu discurso de posse (em 4 de março de 1933), diante de aproximadamente 250 mil pessoas, as seguintes palavras: “...permitam-me manifestar minha total convicção no fato de que a única coisa que devemos temer é o próprio temor, o medo anônimo, irracional e sem sentido, que impede todos os esforços necessários para transformar o retrocesso em progresso...”.

A comoção da gripe A suína, alertada pelos cientistas como “pouco comum” --pois é uma combinação de vírus humano, aviários e suínos, uma miscelânea que ninguém sabe de onde veio--, foi um ensaio prévio na disseminação de um pânico sanitário global, ou seja, de um temor que tomaria conta de todos habitantes do planeta. Porém, frente às resistências científicas e populacionais daquele período, a gripe suína não surtiu os efeitos desejados.

Posteriormente, a toda controvérsia que tivemos em relação a gripe suína e outras, fato a se destacar é o alerta sobre uma futura pandemia mundial que foi dado pelo senhor Bill Gates durante a celebração da Conferência de Segurança de Munique, em fevereiro de 2017, afirmando que “...temos que estar preparados para uma pandemia mundial...” (HTTP://www.elciudadano.cl/2017/02/19/360004/bill-gates-advierte-unapandemia-global-para-la-que-el-mundo-debe-prepararse/).

É muita coincidência, ou será que de tempos em tempos tem-se que impor um temor na população?

Enfim, um povo sem memória é um povo sem história. E um povo sem história está fadado a cometer, no presente e no futuro, os mesmos erros do passado.

Toninho Menezes é mestre em direito público, advogado e professor universitário.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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