PROBLEMA ANTIGO

Violência nas proximidades da Unesp: 'Quase toda estudante tem algo para contar'

Por Vinícius Nunes | da Redação
| Tempo de leitura: 4 min
Arquivo GCN
Moradoras relatam muitas histórias de violência nas proximidades da Unesp, como nos bairros Jardim Petraglia, Nova Franca e Vila Totoli
Moradoras relatam muitas histórias de violência nas proximidades da Unesp, como nos bairros Jardim Petraglia, Nova Franca e Vila Totoli

O medo tem ganhado cada vez mais espaço na vida de estudantes da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Franca e de moradoras das proximidades da universidade, nos bairros Jardim Petráglia, Vila Totoli e Nova Franca.

Relatos de situações de violência, assédio sexual e invasões tem se tornado cada vez mais comum. Para se proteger, vem sendo uma tradição entre as alunas da Unesp formarem grupos e deixarem avisos sobre o perigo na região.

No dia 8 de junho de 2021, em nome de um grupo de mulheres, Gabriela Rangel, atualmente advogada, usou a tribuna da Câmara Municipal para pedir mais segurança na região. Oito meses depois, ela explica que nada mudou em relação à segurança.

“Não virou nada. A gente fez a proposta de uma audiência pública. Alguns vereadores até demonstraram certo interesse com essa proposta, mas não foi para frente. Agora a situação continua igual, não conseguimos nem mesmo um diálogo para apontar quais ruas são mais perigosas. Acabou que nenhum dos vereadores levaram para frente as propostas que a gente colocou. Acompanho muito a Câmara e até agora nada está sendo feito em relação a essa situação”, conta Rangel.

Algumas semanas antes em que Gabriela utilizou a tribuna, um crime aterrorizante tinha acontecido na mesma rua em que o homem se masturbou em frente ao portão da jovem de 24 anos. No dia 27 de maio, uma estudante de 21 anos saiu de seu banheiro e se deparou com um homem desconhecido dentro do quarto. O criminoso estuprou e ejaculou na jovem, e forçou que o levasse até o portão para que fosse embora logo após o crime. A vítima gritou por socorro, mas ninguém a ouviu. Leia o caso aqui.

Quando tudo isso aconteceu, Gabriela era estudante da Unesp, mas agora em 2022 é formada em direito por essa universidade. Ela conta que durante seu período de formação, esse perigo nas proximidades da faculdade sempre existiu. “Quando entrei na Unesp, minhas veteranas já me alertavam sobre andar sozinha e sobre o perigo no bairro, isso faz cerca de 5 anos. Durante todo esse tempo, já ocorreram diversos crimes de homens se masturbando na rua, roubos e estupros. Acho difícil ter uma estudante que não tenha nada para contar”, explica a advogada.

A “tradição” de alertar calouras sobre os perigos na região continua, tendo algumas planejado maneiras para que possam ficar mais seguras. “Comecei a faculdade ano passado, tudo de forma remota, mas as veteranas já me avisaram para tomar cuidado quando eu precisar ir à região. Estou tomando cuidado, até conversei com as minhas amigas da Unesp para combinarmos formas de ficarmos mais seguras”, disse Luísa Sasaki, 18, estudante de direito na Unesp.

Além de estudante da universidade, Luísa também é moradora do bairro Vila Totoli, que também é próximo à Unesp. “Nesta segunda-feira roubaram meu vizinho. No dia seguinte a padaria daqui. O mais bizarro é que foi tudo em plena luz do dia”, conta ela.

Campainha toca

Recentemente, uma situação assustadora deixou muheres da região com ainda mais medo. Na madrugada do dia 3 de fevereiro, um homem desconhecido estacionou uma moto Biz de cor branca em frente à casa de uma jovem de 24 anos, apertou a campainha, e logo depois começou a se masturbar em frente ao portão da residência diante da moradora.

A situação aconteceu duas vezes no mesmo dia, uma por volta da meia-noite, e a outra das 3 horas da madrugada. A jovem não tem ideia de quem seja o criminoso. Tampouco percebeu no primeiro momento que o homem praticava o ato libidinoso, tendo descoberto apenas às 6h do mesmo dia, quando viu gravações de seu vizinho para tentar entender a situação.

A vítima, que prefere manter sua identidade preservada, conta que está muito assustada com a situação. Hoje, a jovem vive com medo. O epísódio mudou completamente sua vida. “Aquela cena dele no meu portão me chamando para fora e depois ver o que ele estava fazendo nas câmeras me deixaram muito apavorada. Não sei se é uma pessoa que me conhece ou que tem contato comigo, já não confio em ninguém”, lamenta a vítima.

A jovem explica que mora no bairro há cerca de dois anos, mas que a violência nunca foi tão intensa, tendo aumentado muito nos últimos dias. “Na mesma semana, havia três homens parados na frente da minha casa e cheios de sacolas. No dia seguinte, fiquei sabendo que eles haviam roubado um estabelecimento de bebidas. Esses dias roubaram meu vizinho, depois, acho que nesse fim de semana, no sábado, roubaram o carro da prima de um amigo que estava do lado de fora da casa. Não sei o que está acontecendo, as coisas nunca foram assim aqui. As coisas estão muito sérias agora”, explica a jovem.

Unesp

A reportagem entrou em contato com Murilo Gaspardo, diretor da Unesp de Franca, que confirmou que há relatos de estudantes sobre a violência na região. “Há esse tipo de reclamação, inclusive, recentemente, foi pauta de reunião que tivemos com lideranças estudantis. Temos mantido diálogo com a PM e, com a retomada das aulas presenciais previstas para março, nos reuniremos novamente para tratar o assunto”, conta o diretor.

Polícia Militar

A reportagem do GCN questionou a Polícia Militar sobre a situação de violência nesta região de Franca. Até a publicação deste texto, nenhuma resposta foi enviada.

Fale com o GCN/Sampi!
Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Comentários

Comentários