CIDADE

O francano é 'barbeiro no trânsito'? Especialistas explicam por que é comum flagrar infrações

Por Melissa Toledo | da Redação
| Tempo de leitura: 5 min
Dirceu Garcia/GCN
Trânsito em Franca: cenas com infrações são comuns
Trânsito em Franca: cenas com infrações são comuns

Quarta-feira, 12 de janeiro, 14h30, avenida Dr. Ismael Alonso y Alonso, Franca. No cruzamento com a rua Saldanha Marinho, um motociclista, sem sequer sinalizar com seta, faz uma conversão proibida com sua moto. Poucos segundos depois, é a vez de um motorista cometer a mesma infração ao rumar à esquerda, sentido bairro, com sua BMW branca.

Bastam poucos minutos de observação próximo aos canteiros centrais para flagrar, não um, mas muitos veículos infringindo regras simples de trânsito.

Em data diferente, em outro cruzamento da mesma via, a garota aparentemente recém-habilitada manuseia o smartphone enquanto aguarda a abertura do semáforo a bordo de um SUV. Ao lado, distraído, um homem de meia idade também aguarda o “verde” com metade de seu sedan invadindo quase toda a faixa de pedestres.

Em comum, todos cometeram infrações de trânsito previstas no CTB (Código Brasileiro de Trânsito). O que variam, segundo profissionais especialistas no trânsito, são os motivos que os levam às irregularidades.

Para Silvia Cristina de Mello, que soma mais de 30 anos de experiência como instrutora de autoescola em Franca, o problema está no que chama de base: a educação.

Ela afirma que as autoescolas locais oferecem cursos de qualidade, principalmente porque há rigor imposto pelo Detran-SP (Departamento de Trânsito de São Paulo) nos exames para obtenção da CNH (Carteira Nacional de Habilitação), mas que o problema comportamental dos motoristas necessita de atenção em sua origem. “Os motoristas, uma vez habilitados, ignoram e cometem as infrações por falta de ‘educação para o trânsito’. Embora haja previsão legal no Código Brasileiro de Trânsito de que essa educação deveria ser ministrada em diversos segmentos, inclusive nas escolas, isso na prática não acontece”, disse.

Segundo Cristina, a questão tem ainda conexões com a educação familiar e com aspectos culturais, o que faz com que o novo motorista reproduza comportamentos - bons e também ruins - dos mais experientes.

De maneira semelhante pensa Ruan Henrique, instrutor de autoescola há nove anos. Ele disse que se as pessoas fossem educadas, não haveria tantos problemas. “Um motorista educado tem várias qualidades. Ele respeita as regras, tem paciência com os idosos, não fica nervoso no trânsito. Os alunos são bem instruídos pelos instrutores, os exames teóricos e práticos são corretos, mas precisa haver educação.”

E a tal da falta de educação tem reflexos diretos no comportamento. Ruan cita um problema bem específico que considera ser o atual “vilão” do trânsito. “O celular. Não tem uma pesquisa, mas, para mim, 90% do que fazem de errado no trânsito tem causa na desatenção pelo uso do celular enquanto dirige”, disse.

Com 35 anos de experiência em sua autoescola em Franca, Leila Vandira Gonçalves Silva atribui as “barbeiragens” do trânsito francano à irresponsabilidade inerente a parte dos motoristas. “Muitos deles ignoram as regras simplesmente porque não querem fazer o que aprenderam e, sim, fazer do jeito deles. Há uma falta de responsabilidade, que muitas vezes vem da família”, afirma, completando que já aconteceu de ela estar explicando normas a um aluno, ele dizer que faria daquela forma “só para tirar carta” e ela ter de repetir até convencê-lo da importância da legislação de trânsito.

Assim como Ruan, Leila também aponta o celular como o principal inimigo do trânsito dos tempos atuais. “Hoje, a grande questão é o celular. A gente fala o tempo todo durante as aulas. Já houve quem, no início das aulas, tenha parado o carro para mexer no celular”, disse.

O QUE DIZ O DIRETOR DE HABILITAÇÃO DO DETRAN-SP

Sobre o aspecto educacional dos motoristas, o diretor de Habilitação do Detran-SP, Raul Vicentini, disse que o processo de habilitação inclui a fase do exame teórico, em que o aluno recebe instruções não apenas da legislação de trânsito, mas também de regras de cidadania, noções básicas de educação para o trânsito, além de todo o processo prático que, inclusive, abrange esse ponto.

Ele afirma que o processo de obtenção da habilitação, para o aluno, é “muito duro”, segue a regulamentação federal, mas pondera que há uma questão cultural que influencia na prática da direção.

“Temos uma questão cultural quando o cidadão infringe as regras de trânsito. Há quem tenha a cultura de dirigir e falar ao celular, fazer uso de bebidas alcoólicas misturando com direção, também é questão cultural/comportamental tentar dar ‘um jeitinho’, fazer uma ultrapassagem proibida, exceder a velocidade, passar no sinal vermelho. É uma questão pessoal que vivenciamos no dia a dia, mas o trânsito precisa ser harmonioso, de bom convívio entre as pessoas, e o limite é o respeito”, afirmou.

Para coibir os maus hábitos, o diretor cita que já há as sanções administrativas previstas na legislação. “Há punição de suspensão, de cassação da CNH, entre outras, e isso faz com que se tenha um mecanismo didático para fazer com que o condutor possa cumprir o ordenamento e as regras de trânsito”, disse.

A cassação da CNH, citada por Vicentini, é a penalidade mais grave prevista pelo Código de Trânsito Brasileiro. O condutor penalizado permanece dois anos sem poder dirigir. Para recuperar o documento, tem de passar por todo o processo de habilitação novamente.

NOVA CNH COMEÇA A SER EMITIDA EM JUNHO

A partir de 1º de junho, uma nova versão de CNH começará a ser emitida no Brasil. As exigências para tirar a habilitação permanecerão as mesmas e em nada deve impactar no comportamento dos motoristas no trânsito.

Para obter o documento, o interessado deverá realizar os testes de aptidão psicológica e saúde física, além de aulas teóricas com duração de 45 horas/aula, seguidas de uma prova.

A etapa seguinte inclui curso prático de direção com, no mínimo, 20 horas/aula tanto para a categoria A (motocicleta) quanto para categoria B (automóvel). O exame prático é feito na sequência.

De acordo com a Resolução 886, de 13 dezembro de 2021 do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), os novos habilitados receberão a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) com elementos que devem trazer mais modernidade e segurança ao documento.

A nova CNH terá, além do QR Code - já disponível nos documentos emitidos a partir de 2017 -, o código internacional utilizado nos passaportes. O documento poderá ser portado tanto no formato físico como no digital, que é obtido por meio da carteira digital de trânsito.

Os novos itens serão incorporados em uma tentativa de dificultar a falsificação. Também permitirão identificar com mais agilidade qual veículo o motorista está habilitado a conduzir e se há algum tipo de restrição médica, como a necessidade de uso de lentes visuais.

Outra novidade é que o documento permitirá a inserção do nome social do condutor, caso ele queira

Fale com o GCN/Sampi!
Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Comentários

Comentários