DÚVIDAS

Colégio Champagnat e antiga Unesp: patrimônios da cidade abandonados no tempo

Por Pedro Baccelli | da Redação
| Tempo de leitura: 6 min
Dirceu Garcia/GCN
Colégio Champagnat e antigo prédio da Unesp, respectivamente
Colégio Champagnat e antigo prédio da Unesp, respectivamente
Dois prédios históricos de Franca, construídos entre os séculos XIX e XX, se tornaram grandes colchas de retalhos: o Colégio Champagnat e o prédio da antiga Unesp. No caso do primeiro, a responsabilidade é da prefeitura e do segundo, a questão se tornou uma confusão entre governo do Estado e Unesp e, agora, caberá à Unesp decidir como manter o local. Além de não possuírem uma destinação específica, outra característica une os dois prédios: o abandono.

Ponto turístico de Franca no final de ano. Luzes e decorações que encantam os amantes do Natal. Famílias que moram nos quatro candos de Franca e deixam suas casas para celebrar o momento que marca as festas de fim de ano na cidade. Sucesso em dezembro, mas esquecido no restante do ano. O tempo apequenou o antigo Colégio Marista de Franca, o famoso Colégio Champagnat. 
 
A história do colégio começa com o Monsenhor Cândido da Silveira Rosa, que desejava fundar uma escola católica para meninos em Franca. O vigário municipal intermediou a chegada da Congregação Marista à cidade. A princípio, os religiosos iniciaram os trabalhos em uma chácara, localizada na Estação, onde montaram uma casa de educação chamada de Collégio Internato São Paulo em 1904. Devido uma epidemia de Varíola, o local foi transformado em abrigo para doentes, encerrando os trabalhos educacionais em 1912.
 
Neste período, o Colégio Culto às Letras de César Augusto Ribeiro e o Colégio do Professor Chiquinho funcionaram na área do atual Champagnat. Os maristas compraram um terreno no local em 1915. A inauguração do Instituto Champagnat aconteceu dois anos depois - em 8 de setembro de 1917.
 
Documentos apontam que os maristas ficaram 53 anos em Franca, desde a inauguração do prédio. O auge da instituição aconteceu entre as décadas de 1930 e 1960. Mais de uma reforma foi realizada até chegar à planta atual. 
 
Acredita-se que o fechamento do Colégio Champagnat ocorreu em 1971. Queda na quantidade de alunos, escassez de professores e as novas concepções de vida são fatores apontados para o fechamento. 
 
O município reivindicou a utilização do prédio, que foi cedido à Prefeitura de Franca em 1979. Após reforma e restauração da estrutura, a reinauguração aconteceu em novembro de 1982. Em março de 1983, o município recebeu a doação do complexo, onde a Secretaria Municipal de Educação foi alocada. Desde então, diferentes serviços e trabalhos foram prestados no espaço.
 
Champagnat no século XXl 
O portão principal, fechado. Quem deseja visitar o colégio precisa entrar pelo estacionamento. Mas além do cuidado com o entra e saí de veículos, outro risco é se perder no prédio, uma vez que as placas sofreram a ação do tempo. No caminho certo, após desviar de algumas rachaduras pelo chão, os visitantes chegam ao pátio. 
 
O silêncio ecoa nas salas. Menos em uma, onde acontecem as aulas da Emim (Escola Municipal de Iniciação Musical). Os quase 300 alunos do projeto precisam tomar cuidado com os pequenos degraus da escada. Em tempos de chuva, os corredores são campos minados com poças de água formadas pelas goteiras. Durante a aula, o desafio é com as janelas que pouco arejam o ambiente.
 
“Se fosse fazer uma reforma, no meu ponto de vista, faria salas mais amplas, principalmente por causa da covid e ter o distanciamento. (Também) carece de um outro espaço igual o salão, para as aulas coletivas”, disse a professora de música Renata Chioca. 
 
A Emim está no colégio há cinco anos. Apaixonada pelo ambiente, Renata faz ressalvas da conservação. “A arquitetura acho que deveria ser restaurada. Preservar o que já tem. Preservando essa arquitetura original, mas colocando os degraus mais amplos. (Cuidando) das goteiras”. 
 
Além da escola de música, o Colégio Champagnat abriga o Almoxarifado, Arquivo Histórico, Biblioteca Municipal, Cesum (Centro de Ensino Supletivo Municipal), Espaço de Difusão Cientifica, Fundo Social de Solidariedade, IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), Manutenção Escolar, Observatório Astronômico, Transporte Escolar, UAB (Universidade Aberta do Brasil) e Zeladoria.  
 
A reportagem questionou a Prefeitura de Franca sobre a possibilidade de revitalização do Colégio Champagnat, mas o município não se posicionou sobre o caso até o fechamento deste texto.  
 
Antigo prédio da Unesp Franca
Sinônimo de boa educação para meninas da elite no passado, o Colégio Nossa Senhora de Lourdes, conhecido popularmente como antigo prédio da Unesp, virou "depósito" de repartições publicas do Governo do Estado.
 
Assim como o Champagnat, a instituição nasceu por meio do esforço de Monsenhor Rosa, que buscava entregar uma formação educacional religiosa comparada àquelas existentes na Europa. 
 
Um grupo da Congregação das Irmãs de São José de Chambéry chegaram em Franca em 1888. O casal Major Claudiano Ferreira Martins e sua esposa Mariana doou um sobrado, onde foi adaptado o colégio. A inauguração do prédio aconteceu em novembro daquele mesmo ano. 
 
Durante anos, o colégio atendeu meninas da elite, formando mulheres "dóceis" para o casamento e a sociedade. Igual ao Champagnat, a evolução do pensamento culminou no fechamento da instituição em 1967, quando as irmãs decidiram encerrar as atividades no município.
 
A estrutura sentiu os efeitos do tempo. Fechada há quase 20 anos, a capela de Nossa Senhora de Lourdes precisou ser restaurada, sendo reinaugurada em 2015. A reforma aconteceu após iniciativa de um grupo de ex-alunas do colégio. A fachada do prédio histórico foi interditada para reforma em 2019. Devido o valor histórico, a capela e a fachada são tombados pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico).
 
Planos para o prédio
A Unesp desocupou o campus central em 2009, quando transferiu suas atividades para o Jardim Petráglia. O prédio foi cedido ao Governo do Estado, que instalou repartições ligadas à Secretaria de Desenvolvimento Regional, inclusive um posto fiscal da Secretaria de Fazenda do Estado. O sistema de concessão estava previsto para durar 20 anos, mas está sendo encerrado com dez anos.  
 
O Estado fez um estudo preliminar sobre os investimentos que seriam necessários para reforma. “Em razão da pandemia e outras questões fiscais e administrativas, isso não seguiu como prioridade em razão ao investimento. O Governo entendeu que o melhor seria devolver e realocar as atividades empenhadas e desenvolvidas lá para espaços a serem alugados”, explica o diretor da Unesp Franca, Prof. Dr. Murilo Gaspardo. 
 
As atividades não foram completamente encerradas e a universidade ainda não recebeu o prédio formalmente. Assim, o Governo do Estado foi notificado para continuar responsável pela área até que os trâmites sejam concluídos. 
 
A universidade busca articulações com forças econômicas, políticas, sociais e universitárias para reforma e revitalização do edifício. “Numa estimativa preliminar da própria administração, a partir do estudo que foi feito, estima-se algo em torno de R$ 12 milhões para deixar o edifício em condições adequadas de funcionamento”.
 
Murilo descarta demolir o prédio. “Não queremos que esse prédio seja abandonado, degradado ou até mesmo vendido. Tanto em função do valor histórico que ele tem, quanto a importância da sua preservação, não só do edifício em si, mas de uma funcionalidade de ligada à educação e a cultura”. 
 
Outra opção descartada é a transferência das graduações para o centro. “Não há nenhuma perspectiva de voltar a ter seus cursos lá, principalmente de graduação e pós-graduação. Estamos bem instalados no campus, não dá para dividir os cursos, uma parte fica num lugar outra parte para o outro, não tem sentido”, disse. 
 
O espaço possivelmente será usado para abrigar eventos e projetos sociais, como o curso preparatório gratuito para vestibulares, universidade aberta para eventos e atividades para terceira idade.

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