OPINIÃO

A democracia deve prevalecer

Às vésperas do bicentenário da Independência, o Brasil chega a mais um 7 de setembro imerso em um clima de incerteza e apreensão como há décadas não se via por essas terras. Muitos esperam que o dia de hoje seja um divisor de águas na crise política e institucional que domina o Brasil nos últimos anos e, em especial, desde o começo da pandemia.

Por Guilherme Cortez | 06/09/2021 | Tempo de leitura: 4 min
Especial para o GCN

Às vésperas do bicentenário da Independência, o Brasil chega a mais um 7 de setembro imerso em um clima de incerteza e apreensão como há décadas não se via por essas terras. Muitos esperam que o dia de hoje seja um divisor de águas na crise política e institucional que domina o Brasil nos últimos anos e, em especial, desde o começo da pandemia.

Há semanas, o país acompanha atentamente as movimentações para os atos em apoio ao presidente Jair Bolsonaro. Com a popularidade em queda depois de uma gestão catastrófica da maior crise de saúde da história do Brasil, os preços dos alimentos e da gasolina sufocando o bolso dos brasileiros e o desabastecimento de água e energia assombrando o país, o governo vê nas manifestações de hoje uma demonstração de força decisiva.

Mas o que, afinal, há de diferente entre os atos de hoje e tantos outros que já aconteceram em apoio ao governo?

O principal ponto é que Jair e seus apoiadores subiram o tom. Embora pedidos de intervenção militar e outras estripulias autoritárias e inconstitucionais estivessem presentes em todas as manifestações recentes em apoio ao presidente – muitas com a sua participação pessoal –, os atos marcados para hoje acontecerão no auge da crise entre o governo e o Supremo Tribunal Federal. Além de pedir o impeachment e ofender diretamente ministros da Suprema Corte, Bolsonaro tem ameaçado “jogar fora das 4 linhas da Constituição” se continuar sendo contrariado e vem mobilizando seus apoiadores dentro das Forças Armadas e das policiais militares.

Sem dúvida, estamos diante do momento que entrará para a História como a maior crise institucional desde a redemocratização do país. Nenhum dos presidentes eleitos pelo voto popular desde o fim da ditadura militar chegou perto de ameaçar as instituições democráticas dessa forma ou incitar seus apoiadores a romperem a legalidade como Bolsonaro faz descaradamente.

Jair nunca escondeu suas aspirações autoritárias. Desde que era um deputado desconhecido e com uma produção legislativa nula, já se declarava um admirador do regime militar que governou o Brasil por 21 anos, além de sugerir o fuzilamento de um presidente e a necessidade de uma guerra civil no país. Na sessão da Câmara dos Deputados que aprovou o seguimento do processo de impeachment contra a então presidente Dilma Rousseff, dedicou seu voto ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, até hoje o único militar condenado pela prática de sequestros e tortura durante a ditadura. Sob seu governo, Ustra, já falecido, foi promovido ao posto de marechal, dedicado a heróis nacionais.

Mesmo assim, foi eleito presidente com o voto de mais de 57 milhões de brasileiros. Se frustrou quem esperava que, no Palácio do Planalto, Bolsonaro agiria diferente do que demonstrou em sua trajetória como deputado. Desde que foi empossado no cargo maior da República, se dedicou a tensionar a relação entre os Poderes, ampliar a participação de militares no governo e impor suas ideologias. Recentemente, colocou em dúvida a realização das eleições no ano que vem caso a retrógrada proposta do voto impresso não fosse aprovada.

As atitudes de Jair extrapolam e muito o limite do razoável e o rol de crimes de responsabilidade que podem ser cometidos por um presidente no exercício de seu mandato. Ao invés de “manter, defender e cumprir a Constituição”, como se comprometeu em seu juramento de posse, ele viola frontalmente o texto constitucional, ameaça a frágil democracia do nosso país e coloca em risco a vida dos brasileiros.

Uma lista tão extensa de crimes não pode ficar impune. Bolsonaro já deveria ter sido removido da Presidência da República há muito tempo, mas o mero afastamento do cargo não será suficiente para reparar os danos causados para a sociedade brasileira. A prisão é o destino que espera por Jair Messias Bolsonaro e sua trupe de agitadores do atraso para que tentativas futuras de ataques à nossa democracia não sejam sequer cogitadas.

199 anos depois do grito de “Independência ou morte” às margens do Rio Ipiranga, a alma do Brasil está em disputa. A democracia precisa prevalecer contra as trevas, a violência e o medo. Ainda que incompleta e desigual, ela ainda é muito melhor do que a ditadura e o autoritarismo. Se encarregará a História de destinar os fantasmas do passado aos seus devidos lugares.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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