Era uma sexta-feira, 28 de agosto de 2020. A pandemia ainda impedia que a vida seguisse seu rumo. As restrições não tinham nem data para acabar. As aulas, tampouco eram presenciais. Wesley Alves Filho estava com 13 anos e ficava em casa o dia todo junto com suas duas irmãs: uma mais velha e outra mais nova. Pouco depois das 15h30, Weslinho, como era chamado, disse a elas que iria ao varejão próximo, mas que não demoraria. Esse demora completa hoje 365 dias.
Desde que o garoto desapareceu, as únicas pistas concretas são as que foram obtidas poucas horas após a saída de Wesley de casa. Em um ano, informações surgiram de todos os lugares do país. Versões assustadoras foram criadas e dezenas de meninos foram confundidos, mas de certo só existem algumas poucas imagens de câmeras que indicam que o garoto saiu do Jardim Aeroporto a pé, passou pelo Recanto Elimar, cumprimentou um colega e foi identificado pela última vez em frente a um pesque-pague na rodovia, empurrando uma bicicleta vermelha.
Na época, não havia um francano sequer se fazendo outra pergunta a não ser: onde está Wesley? Além do desaparecimento, as pistas sobre o caso formavam um mistério ainda maior sobre o paradeiro do garoto. Milhares de pessoas foram envolvidas pela angústia. Para Camila Alves, mãe de Wesley, a dor hoje é ainda mais forte.
“Meu coração está despedaçado, muito pior do que no começo. É como se não tivesse acontecido nada depois daquele dia, como se tudo tivesse ocorrido ontem, porque não houve nenhuma informação depois disso. Parece que estou na beira do precipício todos os dias. É desesperador”, disse, emocionada.
Camila tenta tirar forças para amparar suas outras filhas. Dentro de casa, as meninas, ainda adolescentes, sentem a falta do irmão, mas tocam o menos possível no assunto para preservar os pais. “Eu e meu marido temos que tirar o sustento de algum lugar ainda por elas, porque elas não têm culpa disso e dependem de nós.”
Camila relembrou como foi o último dia junto ao filho. Um dia normal, como sempre acontecia: arrumaram a casa, fizeram almoço, Wesley preparou o suco e depois tomaram sorvete. Todos juntos, no sofá. O relógio marcava pouco menos de 15 horas e a mãe tinha que sair para trabalhar no mercado na avenida Presidnete Vargas. Ela deu um beijo em cada um dos filhos.
“Eu estava saindo para trabalhar, dei um beijo neles e ainda falei para não abrirem o portão para ninguém, porque era um bairro perigoso. Eu sempre falava isso, todos os dias. Só não imaginava que ele ia sair com as próprias pernas do jeito que foi.”
Quando a filha mais velha avisou Camila que Wesley não estava em casa, ao menos três horas já tinham se passado desde sua saída. Camila ainda estava no mercado e foi avisada por telefone. Os pais começaram as buscas imediatamente. Procuraram por todas as ruas da vizinhança. Abordaram viaturas da Polícia Militar, que estavam nas redondezas, e foram orientados a fazer o boletim de ocorrência na manhã do dia seguinte. Mas a PM passou a procurar imediatamente.
Nada que a família fez, surtiu efeito. Nem buscas, nem postagens em redes sociais, nem entrevistas para portais, rádios, emissoras de TV. Para Camila, alguém esteve envolvido desde o princípio. “A sensação que eu tenho é que alguém combinou algo com ele ou o iludiu com alguma coisa que, na cabeça dele, ele sairia de casa, mas ia voltar. Acho que alguém fez esse combinado, ensinou o caminho e eu não consigo nem imaginar quem seja.”
O caminho percorrido por Wesley era um trajeto até então desconhecido por ele, segundo a família. Em uma das câmeras de segurança que captam a imagem do garoto, ainda no dia do desaparecimento, ele parece olhar para os dois lados, próximo a um depósito de tijolos, como se estivesse procurando algo antes de correr para a entrada de um pasto, ainda na zona urbana da cidade.
A investigação formal no caso começou apenas na segunda-feira seguinte, mais de 48 horas depois que o garoto saiu de casa. Para Camila, se as buscas tivessem sido iniciadas no sábado, outras pistas teriam aparecido. “Pode até ser ignorância da minha parte, mas assassinos não deixam pistas, traficantes também não. Esse pessoal não quer ser encontrado, e ainda assim (as autoridades) encontram. Por que um menino de 13 anos não quer ser encontrado e ninguém acha?”
Poucas esperanças existem para a mãe de que o filho vá ser identificado nas ruas. Camila acredita que, se Wesley estiver vivo, está com alguém, dentro de algum lugar. Mesmo com diversas possibilidades, algumas mais tristes que outras, ela tem fé de que poderá abraçá-lo algum dia.
“Eu sinto que ainda vou encontrar ele, vou poder abraçar, falar o tanto que eu o amo, porque não é fácil viver isso. É muito dolorido. Quando eu vou fazer comida, lembro que ele ficava do lado, via alguma piadinha na internet e me contava. São coisas que ninguém vai tirar de mim e eu nunca vou esquecer. Tudo que você precisava, ele estava ali para ajudar. Tudo me lembra ele, porque ele sempre estava comigo”, disse, chorando.
Além da dor de não saber onde está seu filho, Camila sofre com ataques e críticas nas redes sociais. Segundo ela, já a acusaram de matar o próprio filho e esconder o corpo, de se mudar de casa para atrapalhar investigações ou até mesmo recusar entrevistas porque o marido a proibiria. Tudo mentira, segundo Camila.
Mesmo diante dos ataques, Camila diz que nada tem grande relevância porque só que importa mesmo é o desparecimento do filho. “Se alguém vir ele, que conte. Se tem alguém com ele, que me ligue, me mande mensagem ou avise que ele está em algum lugar. Se estiver com medo, por causa da repercussão, pode ficar tranquilo. Não me interessa nada, não quero prender ninguém, matar ninguém. Só quero meu filho de volta.”
Confira abaixo um compacto da entrevista concedida por Camila Alves, mãe de Weslinho, ao jornalista Corrêa Neves Jr. A íntegra da entrevista será exibida neste domingo, 29, a partir das 21h30, na Live do GCN, transmitida pelas redes sociais do portal no Facebook e Youtube.
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