POLÍTICA

'O movimento social não invade a casa de ninguém. Isso é meme', diz Boulos

Por Heloísa Taveira | da Redação
| Tempo de leitura: 3 min
Dirceu Garcia/GCN
Guilherme Boulos, em entrevista à rádio Difusora
Guilherme Boulos, em entrevista à rádio Difusora

Em visita a Franca nesta quinta-feira, 12, o ex-candidato à Presidência da República e Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSol), participou do programa A Hora é Essa, da rádio Difusora. Conhecido principalmente em questões sobre moradia, Boulos falou sobre o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto). “É importante a gente desmistificar as coisas. O movimento social não invade a casa de ninguém. Isso é um meme.”

Boulos já disputou a Presidência da República e, no ano passado, foi para o segundo turno na disputa pela Prefeitura de São Paulo contra Bruno Covas (PSDB), que saiu vitorioso. Hoje é cotado para disputar o Governo de São Paulo.

Seu nome é diretamente ligado à luta por moradia e repúdio à desigualdade. “O que o movimento faz é identificar imóveis que estão abandonados há 20, 30 anos, que devem impostos e que, pela Constituição Brasileira, já deveriam ter sido desapropriados para fazer moradia popular.”

Boulos, que é professor, afirmou que não é contra a propriedade privada e que o MTST não tem como alvo pessoas que tenham casas ou terrenos próprios. “Nem governador nem presidente têm condição de se sobrepor e dizer que vai acabar com a propriedade privada, dentro de um regime ordenado que nós vivemos. Isso não existe.”

Além de questões sobre moradia, para Boulos, a população de rua também deve ser tratada com atenção, assim como as áreas de concentração. “Não existe solução mágica para uma região como a Cracolândia. É preciso, pelo menos, três ações integradas: moradia, saúde pública e renda. São essas.”

A abordagem com profissionais de assistência social e de saúde foi destacada entre as medidas, em seguida da moradia. “Muitas vezes, a dependência química se alimenta da miséria. A pessoa que não tem perspectiva, que está jogada na rua, vai beber, vai usar droga. A ideia é disponibilizar casas solidárias, que são espécies de pensões com o acompanhamento dos profissionais”, citou.

Por fim, Boulos defendeu a geração de renda para a população a partir de frentes de trabalho que não exijam mão-de-obra qualificada, como pequenas obras de infraestrutura e zeladoria. “Assim, resolveu a questão da saúde mental, deu um abrigo emergencial para tirar da rua e uma renda, a partir do trabalho, para que essas pessoas possam tocar suas vidas.”

Relação entre Estado e Prefeitura
O provável candidato não poupou críticas em relação ao papel do atual governo estadual e a relação à política desenvolvida no âmbito regional, sobretudo para o interior. “Eles (PSDB) ficam enfurnados lá no Palácio dos Bandeirantes e o interior só aparece quando está perto da eleição ou liberam uma verba simbólica para prefeitos e deputados, em troca de uma fidelidade política-eleitoral daquela Prefeitura”, afirmou.

Para um avanço, Boulos defendeu a descentralização administrativa para a resolução dos problemas regionais, como por exemplo, o cenário que vive a indústria calçadista em Franca.

“Tem que ir para cada região, ver os problemas, escutar quem está na região e fazer uma política descentralizada para cada uma delas. Isso é o governo do Estado tratar o interior com respeito, não com clientelismo.”

Polarização política
Autointitulado como socialista, Guilherme Boulos falou sobre a dedicação ao diálogo, principalmente na última campanha para a Prefeitura de São Paulo, para quebrar resistências. “Dialogar de forma tranquila permitiu que nós quebrássemos barreiras das pessoas, mesmo que ela não concordasse comigo, mas pelo menos ela não ia ficar semeando preconceito.”

Segundo ele, a construção de um projeto político não pode ter a hegemonia de um único partido ou frente e que as opiniões divergentes colaboram para o debate, desde que com respeito.

“A esquerda, felizmente, não tem um pensamento único, ao contrário do bolsonarismo, que se alguém fala uma vírgula diferente dele é chamado de traidor e vira uma coisa que não é um debate democrático. Na esquerda, há inúmeras nuanças. Eu tenho boa relação com o Lula, mas tenho críticas também a caminhos do PT, posturas que foram tomadas no governo. Sentar para conversar com as pessoas não significa que você está abrindo mão de seus princípios, significa que você está tentando entender.”

A agenda de Boulos pelo interior paulista continua nas próximas semanas. Nesta sexta-feira, 13, estará em São José do Rio Preto.

Fale com o GCN/Sampi!
Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Comentários

Comentários