
Uma médica de Franca está vendendo atestado para pessoas que querem se vacinar contra a covid-19 mesmo sem nenhuma comorbidade. O trâmite é feito todo via WhatsApp, em minutos. Por apenas R$ 100, ela emite um laudo e fornece uma receita médica que atestam alguma doença que permita a imunização. O portal GCN realizou a compra nesta sexta-feira, 11.
Após denúncias recebidas pela redação do GCN que indicavam a venda de atestados falsos, a médica Taísa Borges Flores foi contatada. Em uma negociação rápida, ela perguntou apenas o nome e idade. Quis saber também se havia alguma doença. O interessado informou que não tinha qualquer comorbidade. Ela sugeriu então duas opções: hipertensão ou bronquite. “Coloca bronquite, pois sou fumante”, pediu o repórter. Assim foi feito. Não houve consulta, pedido de exames nem qualquer pergunta adicional. O repórter é saudável e não tem comorbidades.
Ao longo das mensagens trocadas, Taísa chegou a sugerir que o procedimento fosse realizado pessoalmente, alegando que não estava em Franca nesta sexta-feira e não teria como entregar o atestado físico. A médica alertou sobre possível dificuldade do cliente para conseguir vacinar com a versão digital do atestado nas UBSs (Unidades Básica de Saúde) de Franca. O repórter contatou por telefone a UBS da Estação e foi informado que, desde que constasse a assinatura e o carimbo do médico, a versão por WhatsApp seria aceita.
Com isso, a médica se dispôs a concluir a negociação. Minutos depois a foto da receita foi enviada ao “paciente” por WhatsApp. Para concluir a compra, o pagamento de R$ 100 foi feito através de um PIX, cujo destinatário não levava o nome da doutora.
No documento, a médica "atesta" que o "paciente", que ela nunca viu nem examinou, passou por consulta e tem comorbidades. "Relatório Médico - Relato que o paciente, Vitor Teixeira, de 29 anos, esteve em consulta médica e constato bronquite e asma crônica (tabagismo de longa data)", diz trecho do atestado. Na receita médica, ela prescreve inclusive com dosagem e frequência medicamentos para o paciente que nunca examinou.
A médica é funcionária da Prefeitura e atende em uma Unidade Básica da cidade. Além deste trabalho, também atende como clínica geral e especialista em saúde mental em um consultório particular no centro de Franca.
O portal GCN está em posse da receita e laudo comprados. Os documentos serão encaminhados para as autoridades responsáveis. Os repórteres responsáveis por esta matéria nem qualquer outro funcionário do GCN fez ou fará uso do atestado para se vacinar. O áudio com a conversa mantida com a médica também está preservado pelo GCN.
Procurada, a médica Taísa Flores tentou justificar a venda do atestado. “Eu faço telemedicina, a gente atende assim. Hoje em dia está difícil atender pessoalmente, mas muita gente eu atendo assim. Meu preço é até bem mais barato do que o normal, porque eu atendo como psiquiatra e meu preço é R$ 350. Quem me pedir, que tem comorbidade, sim (emito o laudo e receita). Eu acho que não tem como não fazer”, disse ela.
Ao ser informada de que o "comprador" havia dito a ela não possuir comorbidade e mesmo assim ter conseguido comprar o atestado médico, a médica disse que o comprador "provavelmente" mentiu. “Ele não tinha doença? Porque a gente acredita no que a pessoa fala, né? Provavelmente, ele mentiu que tinha problema pulmonar, sobre uma doença. Isso foi uma exceção, ele mentiu porque disse que era tabagista. Mas vamos ver. Vamos atrás”, disse a médica.
Durante a conversa com a médica, o repórter foi explícito em afirmar que não tinha comorbidades. O repórter também não se consultou com a profissional nem nunca foi paciente dela. Desde o início do contato, ele afirma que quer um atestado para vacinar. Ela não faz qualquer pergunta adicional sobre o histórico médico do paciente.
Durante a conversa com a médica, o repórter foi explícito em afirmar que não tinha comorbidades. O repórter também não se consultou com a profissional nem nunca foi paciente dela. Desde o início do contato, ele afirma que quer um atestado para vacinar. Ela não faz qualquer pergunta adicional sobre o histórico médico do paciente.
A assessoria de comunicação da Prefeitura de Franca disse em nota que medidas têm sido adotadas para responsabilizar infratores do processo de vacinação. "A Prefeitura tem adotado algumas medidas para responsabilizar possíveis infratores ou falsificadores de receitas e laudos, como, por exemplo, a retenção de cópia dos mesmos. Assim, será possível municiar os órgãos de fiscalização profissional, o Ministério Público e a polícia, caso alguma denúncia seja confirmada. No serviço público, presume-se sempre a boa fé e a veracidade das informações apresentadas, comprovadas por meio de documentos médicos".
A Prefeitura disse ainda que o caso precisa ser apurado pelo conselho de classe. Uma sindicância será instaurada para acompanhar o processo.
A Prefeitura disse ainda que o caso precisa ser apurado pelo conselho de classe. Uma sindicância será instaurada para acompanhar o processo.
Confira a conversa, receita e laudo no slide:
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