O lockdown é necessário

Desde que voltou para a Prefeitura, Alexandre proferiu bravatas contra as medidas restritivas e o Plano São Paulo, tentou recomendar medicamentos sem eficácia para o tratamento da covid-19 e, mais recentemente, viu sua administração envolvida no escândalo dos fura-filas da vacina na cidade.

Por Guilherme Cortez | 30/05/2021 | Tempo de leitura: 4 min
Especial para o GCN

Na semana passada, escrevi aqui nesta coluna sobre a gestão da pandemia pelo prefeito Alexandre Ferreira ao longo dos seus 5 primeiros meses de mandato, marcada por enfrentamentos contra a ciência em contraposição ao perfil racional e responsável que o novo velho chefe do Executivo municipal tentou mostrar para a população nas eleições passadas. Desde que voltou para a Prefeitura, Alexandre proferiu bravatas contra as medidas restritivas e o Plano São Paulo, tentou recomendar medicamentos sem eficácia para o tratamento da covid-19 e, mais recentemente, viu sua administração envolvida no escândalo dos fura-filas da vacina na cidade.

Mas a pandemia não tem título de eleitor e não espera pela mudança de consciência de qualquer autoridade. Enquanto Alexandre se enfrentava com as recomendações científicas, Franca viu os casos de covid dispararem e o sistema de saúde municipal entrar em colapso, com mais de 50 pessoas esperando na fila por um leito de UTI.

Assim, diante da imposição da realidade, o prefeito finalmente tomou a decisão correta, anunciando no começo da semana passada o início de um lockdown na cidade por 15 dias a partir da última quinta-feira.

‘Lockdown’ é uma palavra inglesa e significa ‘confinamento’, em tradução para o português. Ao longo do último ano, se tornou sinônimo de um fechamento mais duro das atividades para conter a disseminação do coronavírus em determinada cidade, estado ou país, no qual as pessoas que não prestam serviços essenciais devem ficar em casa e quem desrespeita recebe sanções mais pesadas, em comparação com as medidas “brandas” que restringiam o funcionamento apenas de alguns setores – o conhecido “abre e fecha”.

Nós já sabemos que o coronavírus se espalha com muita facilidade através do contato, o que o torna tão perigoso. Por isso, a recomendação é que as pessoas mantenham o distanciamento umas das outras, utilizem equipamentos para evitar a disseminação do vírus (como máscaras) e, se possível, se confinem dentro de casa. Mas boa parte dessas medidas é impossível de ser cumprida pela maioria sem a ação do poder público. Quem precisa trabalhar para pagar as contas e não tem a opção do home office, por exemplo, não consegue ficar em casa e é obrigado a se submeter a situações em que sequer o distanciamento social e o uso correto de máscaras são garantidos, como dentro de ônibus, fábricas e obras de construção.

O lockdown é a única medida capaz de reverter o quadro de colapso do sistema de saúde em curto prazo porque garante o cumprimento dessas medidas. Assim mostraram nossos vizinhos de Araraquara, que passaram por 10 dias de rígido confinamento no começo do ano e viram os casos de covid caírem 74%, e boa parte dos países da Europa, que adotaram lockdowns para deter a disseminação do vírus.

Apesar disso, não é uma decisão fácil de ser tomada. Naturalmente, um fechamento completo das atividades não essenciais de uma cidade impacta a vida de todos os seus moradores. Consumidores e comerciantes são obrigados a adaptar seus métodos de compra e venda, quem trabalha em escritórios têm que migrar o serviço para dentro de casa e quem não pode fica na expectativa pela retomada do serviço ou da insegurança diante da possibilidade do desemprego. As opções de mobilidade urbana, lazer e convívio ao ar livre também se tornam escassas.

O lockdown é uma medida necessária para situações extremas porque somente a administração pública consegue garantir as condições para que a maioria da população pratique o distanciamento e o isolamento social. Mas ela também não pode ficar à própria sorte durante esse momento. A mesma Prefeitura que determina o confinamento também precisa garantir condições para que as pessoas possam cumpri-lo de fato.

Os pequenos empreendedores e comerciantes precisam ter acesso facilitado a crédito subsidiado para manterem seus negócios durante esse período, o que poderia ser oferecido pelo Banco do Povo, bem como a isenção de impostos municipais. O programa Renda Franca, que oferece auxílio de R$300 para pessoas em situação de vulnerabilidade na cidade, poderia ser expandido para atender mais famílias em situação de vulnerabilidade, enquanto os trabalhadores dos serviços essenciais, que não podem parar sequer durante o lockdown, precisam receber equipamentos adequados para se protegerem da contaminação pelo vírus, como máscaras PFF2 e KN95.

Situações emergenciais exigem medidas excepcionais e não deveria existir prioridade maior hoje do que garantir saúde e condições para a população sobreviver a essa grave crise. Felizmente, o prefeito ouviu a voz da razão e decretou o lockdown antes que tivéssemos que conviver com dezenas de mortos na cidade por dia (horas depois do confinamento ser anunciado, a cidade registrou recorde de mortes por covid em único dia, com 17 óbitos). A população tem que ter consciência e fazer a sua parte, mas a Prefeitura precisa apoiar e oferecer as condições para que ela se mantenha durante esse período.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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