ARTIGO

Os primeiros meses de Alexandre de volta à Prefeitura

Alexandre assumiu com uma grande responsabilidade: substituir a lembrança do seu 1º mandato e tirar a cidade da maior crise de saúde da sua história. Convenhamos, uma tarefa nada fácil.

Por Guilherme Cortez | 23/05/2021 | Tempo de leitura: 4 min
Especial para o GCN

Arquivo/GCN

O prefeito Alexandre Ferreira
O prefeito Alexandre Ferreira

Depois de deixar o Paço Municipal pela porta dos fundos na esteira do escândalo dos falsos médicos, brigado com seu padrinho político e sobrevivendo por pouco a um processo de impeachment, o veterinário de profissão Alexandre Ferreira conseguiu um feito que muitos consideravam impossível: reabilitar sua imagem perante os eleitores e reconquistar um mandato à frente da Prefeitura de Franca.

A estratégia do atual prefeito exigiu uma mudança radical de estilo. Ao invés da imagem durona e intransigente que marcou seu primeiro mandato, se apresentou na última eleição com um perfil sereno, racional e comedido. Traumatizada com a aventura dos últimos 4 anos de governo de Gilson de Souza, a população preferiu dar uma segunda chance a Alexandre em sua versão “paz e amor”. Assim, o ex-prefeito desbancou a candidata favorita e ganhou a chance de voltar para a Prefeitura, embora com menos votos do que a quantidade de eleitores que não optaram por nenhuma candidatura no 2º turno – anulando, votando em branco ou se abstendo de ir às urnas.

Alexandre assumiu com uma grande responsabilidade: substituir a lembrança do seu 1º mandato e tirar a cidade da maior crise de saúde da sua história. Convenhamos, uma tarefa nada fácil.

Costuma-se dizer que os primeiros meses de um governo são uma espécie de “lua de mel”, em que o mandatário tem salvo-conduto e conta com a paciência da população para iniciar seus projetos. Com uma larguíssima base de apoio na Câmara, Alexandre não encontrou grandes obstáculos a suas empreitadas até aqui. Mas, caminhando para o 6º mês de mandato do novo velho prefeito, alguns deslizes na gestão da pandemia não passaram despercebidos.

Antes de assumir, o prefeito declarou que não respeitaria as medidas do Plano São Paulo e disse que ia “passar por cima” do decreto que restringia o funcionamento de bares e restaurantes. Depois de eleito, cumpriu a promessa mesmo com o aumento dos casos de covid-19 na cidade. Pressionado pelo Ministério Público e na mira de um processo por improbidade administrativa, recuou e mandou fechar tudo, tentando vender sua derrota como uma vitória.

Ainda no primeiro mês de governo, determinou a compra emergencial de medicamentos do chamado “tratamento precoce” contra a covid – que, como já escrevemos aqui, não tem nada de tratamento, nem de precoce e nem eficácia no combate à pandemia. Mesmo vindo da área da saúde, o prefeito não se incomodou com o gasto de R$1,6 milhão do dinheiro público na compra de um vermífugo sem utilidade no tratamento do coronavírus. Alvo de uma ação popular, foi proibido pela Justiça de comprar medicamentos sem eficácia e de fazer qualquer apologia a tratamentos ineficientes.

Mais recentemente, a revelação de centenas de erros e nomes suspeitos na lista de pessoas vacinadas na cidade complicou o prefeito. Após a denúncia de mais de 900 irregularidades na lista da vacinação, a Polícia Civil e o Ministério Público iniciaram investigações e Alexandre teve que se explicar em uma entrevista pouco agradável ao programa “Bom Dia São Paulo”, da TV Globo da capital.

Mas o escândalo dos “fura-filas” ganhou uma proporção ainda maior na última semana com as confissões de que dois ex-chefes das vigilâncias sanitária e epidemiológica de Franca teriam destinado doses da “xepa” da vacina para parentes de fora dos grupos contemplados pelo plano de imunização. Além de abalar a confiança da população, o episódio mostrou que as autoridades que deveriam zelar pela segurança do processo de vacinação contribuíram diretamente com o desvio de doses em benefícios de seus familiares e levantaram uma dúvida: o prefeito não tinha conhecimento e nem responsabilidade pela ação dos seus subordinados diretos?

Também na semana passada, o prefeito voltou a protagonizar o espetáculo de “abre-e-fecha” das atividades na cidade. Diante da falta de leitos, anunciou uma série de restrições para os próximos dias, descartando a possibilidade de um “lockdown” como o diabo foge da cruz. No entanto, sem planejamento e fiscalização, já vimos mais de uma vez que essas medidas repentinas tendem a não controlar a disseminação do vírus na cidade e só criar confusão com a população.

Alexandre ainda tem pela frente bastante tempo para mostrar que mereceu a 2ª chance que a população generosamente lhe concedeu. Apesar de ter começado a “limpar a bagunça” da gestão anterior e tido iniciativas importantes, com destaque para o programa Renda Franca (que, embora insuficiente, complementa a renda de famílias em situação de vulnerabilidade durante a pandemia), seus primeiros meses de volta à Prefeitura não fizeram jus à imagem que buscou passar durante a campanha de 2020.

No momento mais crítico da pandemia na cidade, com o sistema de saúde municipal colapsando, Franca precisa mesmo de um prefeito racional e responsável, que tome medidas embasadas na ciência a despeito da reação da sua base eleitoral e de seus projetos pessoais. Espera-se que esse perfil não tenha sido apenas um produto de marketing. Alexandre ainda tem tempo para corrigir os tropeços dos seus primeiros meses de novo mandato, mas a pandemia não vai esperar.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

Fale com o GCN/Sampi! Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Receba as notícias mais relevantes de Franca e região direto no seu WhatsApp
Participe da Comunidade

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.