10 mil sapateiros desempregados em Franca

Nacionalmente conhecida como “capital do calçado”, Franca é uma cidade orgulhosa da sua indústria calçadista. Gerações de pais e filhos dedicaram suas vidas ao trabalho em bancas, firmas e fábricas na cidade. Não é certo que, justamente nesse momento, nossa cidade abandone 10 mil homens e mulheres que construíram e carregaram essa indústria nas costas. - Guilherme Cortez

Por Guilherme Cortez | 15/05/2021 | Tempo de leitura: 4 min

10 mil trabalhadores da indústria calçadista estão sem emprego na cidade do calçado, segundo estimativas do Sindicato dos Sapateiros de Franca. Isso mesmo: 10 mil.

A pandemia de covid-19 alavancou o desemprego (que já vinha galopando) em todo o país. Segundo o IBGE, em média 13,5% da população brasileira esteve sem trabalho no ano passado, o que corresponde a mais de 13 milhões de pessoas. Essa foi a maior taxa registrada desde 2012, mas as expectativas para esse ano são ainda menos animadoras: o Brasil pode fechar o ano com 14,5% da sua população desempregada, segundo projeções de agências especializadas.

Muita gente coloca essa culpa na conta das medidas sanitárias adotadas para conter a disseminação do coronavírus. Além do uso de máscaras e abuso de álcool em gel, o distanciamento entre as pessoas foi indicado para evitar a transmissão através de secreções e do contato físico. “Fique em casa” se tornou o lema para incentivar a população a evitar exposições desnecessárias.

Com a restrição da circulação em todo o mundo, o consumo caiu. Pequenos negócios, sem apoio, não conseguiram manter o funcionamento com as portas fechadas, arruinando economias e empreendimentos familiares. Empresas de todos os tamanhos reduziram gastos e demitiram funcionários, empurrando milhões de trabalhadores para a rua.

As medidas de prevenção ao coronavírus se tornaram alvo de pequenos e grandes empresários e atraíram a antipatia de quem perdeu o emprego na pandemia. Franca foi palco de dezenas de manifestações pedindo a reabertura das atividades na cidade. Na realidade, somente uma ínfima minoria pôde seguir à risca as recomendações: a maioria dos empregos se manteve presencialmente e quem ficou desempregado teve que “se virar” para trazer comida pra dentro de casa.

Negligente em relação à pandemia desde o começo, o presidente Bolsonaro lançou mão de um desafio muito difícil: as pessoas deveriam escolher entre se proteger do vírus e seguir as medidas sanitárias ou se arriscar e manter sua renda. Ao “fica em casa”, o presidente opôs a palavra de ordem “a economia não pode parar”, custe quantas vidas custar.

Assim, quem defendia a prevenção contra o coronavírus passou a ser taxado de inimigo dos empregos e da renda alheia. A realidade, no entanto, é que essas duas necessidades não são opostas. Afinal, ninguém consegue trabalhar e trazer comida para casa entubado em uma UTI e uma quantidade muito pequena de pessoas não depende de salário para comer, morar e viver.

Nesse cabo de guerra entre emprego e saúde, o governo federal lavou as mãos da sua responsabilidade de amparar a população. O auxílio emergencial de R$600 só foi conquistado pela pressão da oposição no Congresso Nacional e, mesmo assim, reduzido para 1/4 desse valor neste ano, depois de meses sem pagamento, enquanto pequenos e médios empreendedores ficaram sem apoio e crédito para manter seus negócios. Mas não foi só isso. Enquanto boicotava as medidas sanitárias, o governo também recusou ao menos 14 ofertas de vacinas que poderiam pôr fim mais rápido à pandemia, poupando vidas e retomando a economia.

Já os governos estaduais que defenderam as medidas de isolamento social não fizeram mais do que repetir o mantra “fique em casa”, sem oferecer condições para que a maior parte da população pudesse, de fato, ficar em casa e se proteger do vírus. Palavras como lockdown e quarentena se tornaram verdadeiros espantalhos na boca de políticos mais preocupados em agradar suas bases do que gerir a maior crise de saúde do nosso tempo. No meio do caminho entre a adoção de medidas sanitárias e a pressão pela reabertura, sem política para oferecer renda e crédito para a população, o governo de São Paulo protagonizou um espetáculo de “abre-e-fecha” desordenado, não conseguindo nem controlar a pandemia no estado e nem proteger os negócios locais.

Nacionalmente conhecida como “capital do calçado”, Franca é uma cidade orgulhosa da sua indústria calçadista. Gerações de pais e filhos dedicaram suas vidas ao trabalho em bancas, firmas e fábricas na cidade. Não é certo que, justamente nesse momento, nossa cidade abandone 10 mil homens e mulheres que construíram e carregaram essa indústria nas costas.

É por isso que o Sindicato dos Sapateiros está organizando a campanha Solidariedade Franca, em parceria com o agrupamento Resistência, para arrecadar cestas básicas para as famílias desses trabalhadores. As doações de alimentos podem ser feitas na sede do sindicato, na Rua Padre Anchieta, número 2160, e de qualquer quantia através de uma plataforma de arrecadação virtual ou PIX, pela chave: solidariedadefranca@gmail.com.

Ninguém deveria ter que escolher entre comer ou cuidar da saúde. Com mais de 430 mil mortos pela covid e a carestia voltando a assombrar os lares brasileiros, não precisamos perder mais ninguém para esse vírus e nem para a fome. Se não podemos contar com o governo, só resta a nós cuidarmos uns dos outros.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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