Vontade de viajar? Vem comigo! Vamos recordar.
Broken Relationships: título de canção dos anos 60? Poderia ser, mas não é. Entre sugestões e programações turísticas para Zagreb, na Croácia, roteiro inusitado de férias curtas, proveitosas e acessíveis financeiramente – só para aguçar desejos - havia a visita ao Museum of Broken Relantionships, que na língua croata, que só eles entendem, é Musej Prekinutih Veza. O endereço da exposição, Cirilometodska Ulica 10 000, embora complicado de ler, facílimo de achar. Fica no centro histórico, no alto do morro que pode ser escalado a pé ou de bondinho, perto da Igreja de telhado de azulejos, ícone daquela simpática capital. Ao escolher entre o Veza e o museu vizinho, fã que sou de boleros, tangos e sambas-canções, meu coração meloso falou mais alto.
O prédio é enorme, branco da cabeça aos pés: piso, parede, batentes de portas e portas. Os objetos estão colocados sobre expositores de acrílico dispostos nas paredes de maneira simétrica também brancos, e estão iluminados por facho de luz direta; ao lado, pequeno texto com o depoimento do doador da peça exposta. As pessoas percorrem os cômodos e param diante do expositor com o objeto que chama sua atenção quer seja pelo colorido, pelo inusitado, beleza, feiúra e pela surpresa. Não raro, encontra algo familiar: malas, vestidos de noiva, de baile, álbuns de fotografia, sapatos. Ou bizarros: duas mãos de manequins de loja entrelaçadas, espelho retrovisor de carro, embalagem de sabonete íntimo, machado de cortar lenha, a tecla T retirada do teclado de computador. Comuns. Incomuns são as histórias que ilustram. A que me fez chorar acompanhava chave de ferro belíssima, de algum portão antigo. Velha, zinabre acumulado. O texto, em forma carta póstuma, relato do profundo, intenso e curto amor que duas pessoas viveram. Algo assim: “enquanto durou nossa ligação, todos os dias você me trouxe um presente, que guardo como relíquias, como esta chave, talvez comprada em algum antiquário, talvez achada entre despojos. Durou meses nosso relacionamento, até você partir. Não entendi nunca porque jamais quis ir para a cama comigo. Só fui compreender o quanto você me amou, quando soube que sua morte, que não assisti, foi em decorrência da Aids.” O machado foi doado por visitante da exposição, na passagem por Berlim. Quando a doadora soube que o marido a trocara por outra e das mentiras que lhe pregou, comprou o machado, entrou na casa dele, não deixou móvel sobre móvel. Saiu cansada, vingada e, certeza, mais feliz.
O museu foi concebido por casal de artistas croatas, que o dedicaram inicialmente ao registro de casos de amor que não deram certo, como o deles próprios. Já viajou o mundo – Argentina, Alemanha, Singapura, Inglaterra e Estados Unidos. Está se popularizando e pode ser visitado virtualmente, pela internet. O acervo cresce todos os dias, acompanhado por cartas, fotos, mensagens. Sala especial, interativa, permite aos visitantes deixar objetos ou mensagens. Ou gravar suas confissões. Nada deixei registrado mas, como todos, teria revelações a fazer. Algumas tristes, como o namoro que não vingou porque, quando íamos a pé para o cinema e, ao atravessar a rua, escorreguei, desequilibrei e voei de calçada a calçada. Meias, saia e ban-lon cor-de-rosa rasgados e sujos. Tombo humilhante e revelador: deusas jamais caíam, assim eu era meramente humana. Histórias e tragédias humanas são parecidas e sempre reveladas por decepções que ciúme, inveja e raiva provocam. A diferença está na forma de contá-las e nas conclusões que tiramos delas, quando as ouvimos.
A visita pode ser feita pelo Facebook. Viagem moderna é assim...
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