O que faz um ser humano querer acabar com a vida de outra pessoa? Pode ser por vingança, por raiva, por paixão, por necessidade financeira, por fraqueza, dentre vários outros motivos, inclusive, acidentalmente. No último fim de semana, um epidódio tratado como acidente chamou a atenção das autoridades locais. Um mecânico de Franca perdeu a vida após ser atingido por uma caminhonete na vicinal Antônio Giolo, que liga o vilarejo Vila Primavera, mais conhecido como “Chora Nenê”, até a rodovia Cândido Portinari. O que chama a atenção é a forma que ele aconteceu e suas circunstâncias. Apesar de diferentes histórias, o desfecho é o mesmo: a morte de Paulo Fernandes da Silva, de 46 anos.
O principal acusado de ter atingido o motociclista, que estava com duas mulheres em sua motocicleta Yamaha-Teneré 250cc, é o mecânico de tratores Adauto, mais conhecido como “Javali”. Em um vídeo que circula nas redes sociais, o homem aparece mostrando a caminhonete danificada e nega que o acidente aconteceu propositalmente. Afirmação que diverge das vítimas e também de pessoas que viram o homem durante todo aquele sábado, de 27 de março.
Segundo informações exclusivas obtidas pelo portal GCN, Adauto e um amigo que ainda não foi identificado foram até o “Chora Nenê”. Na caminhonete, foram mais duas mulheres adultas e um casal de adolescentes. Eles iam curtir o dia na casa de uma amiga das mulheres. Todos são moradores de Pedregulho, que fica a 34 quilômetros do vilarejo.
Chegando ao bairro, que tem somente duas ruas principais e sete ruas paralelas, Adauto e seus amigos foram até um posto de combustível que fica na entrada da cidade. Os adultos queriam "bebemorar", mas como o posto não está vendendo bebidas alcoólicas, devido à pandemia da Covid-19, eles pegaram somente um salgado.
“Eles vieram aqui e pediram cerveja, mas como não estamos vendendo, pegaram só um salgado para os menores e foram embora”, disse um funcionário do posto que preferiu não ser identificado.
Após a compra do salgado, a turma foi até a casa de uma mulher chamada pelos moradores do vilarejo de “Ju” (não encontrada pela equipe de reportagem). Nesta casa, Adauto e seus amigos ficaram bebendo por um tempo, mas depois decidiram ir até uns banquinhos que ficam à margem da vicinal e também rua principal do bairro. Por lá, Adauto já teria brigado com uma das mulheres.
Nesses banquinhos que ficam em frente a bares e também a um mercadinho, eles compraram cervejas e salgadinho. Neste momento de lazer e diversão, ninguém imaginava o que estava por vir.
Enquanto todos bebiam e comemoravam, o mecânico francano Paulo Fernandes estava perdido por aquela região. Ele e seu concunhado procuravam um sítio, onde arrumariam um carro e como não encontraram o local resolveram ir embora.
“Ele foi arrumar um carro e como não achou, mandou uma mensagem para o rapaz e disse pra levar o carro na segunda. Eles ficaram horas procurando o sítio, mas não acharam. E, então, ele e meu tio resolveram voltar para casa, quando viram as moças correndo perigo na rodovia. Nesse momento, o homem ficou com ciúmes”, contou Iago Igor, 25, enteado de Paulo.
Após rodarem a região, os motociclistas decidiram descansar um pouco e tomar algo no mercado para se refrescarem. É a partir deste momento que “Javali” começa ter suas crises de ciúmes.
Segundo uma funcionária do mercado, Paulo chegou no estabelecimento e perguntou se aquele movimento na vicinal era rotineiro. “Ele entrou e perguntou: ‘essa bagunça é assim todo fim de semana?’ Eu disse que sim, mas que durante a noite piorava”, disse a moça que também preferiu não se identificar.
A funcionária do mercado disse que, após isso, Paulo e seu concunhado ficaram conversando na porta do estabelecimento. Neste momento, Adauto teria começado a brigar com uma das mulheres. No boletim de ocorrência, Erika Euripa da Silva, de 29 anos, disse que não queria ir embora com o homem, pois ele estava embriagado e estava com medo de pegar a rodovia com os dois adolescentes.
Além da funcionária do mercado, outras pessoas que moram em frente à vicinal contaram a mesma história. Após a crise de ciúmes de Adauto, por ver as mulheres que passaram o dia todo com ele conversando com outros homens, ele começou a dizer que ia matá-las.
Foi aí que Paulo e seu concunhado ofereceram ajuda e colocaram em suas motocicletas, cada, uma mulher e um dos adolescentes. O combinado é que eles deixariam todos no trevo da rodovia Cândido Portinari, onde passa ônibus que vai até Pedregulho.
“Meu tio colocou a criança na frente da moto e a mulher foi atrás. Meu padrasto disse para ele ir na frente que eles se encontravam no trevo. Depois disso, meu tio não viu mais ele. Chegou a voltar, mas como ali tem outra vicinal, pensou que ele tinha ido por outro caminho” continuou Igor.
O tio de Iago não sabia, mas naquele momento seu amigo de infância tinha sido atropelado pela caminhonete que era conduzida por Adauto. O amigo de Javali também estava na caminhonete quando o “acidente” aconteceu.
Em seguida ao acidente, o condutor da caminhonete foi embora, deixando Paulo, Erika e a adolescente, no chão da vicinal, à mercê de alguém que passasse pela pista.
O sitiante Sergio Ferrari voltava para sua casa pela vicinal, quando viu o mecânico e as mulheres no chão. Ele logo percebeu a gravidade do acidente e conseguiu acionar o socorro. Ferrari também foi o responsável pela sinalização do local (além do bairro Primavera, a vicinal liga ao bairro do Estreito, uma região cheia de ranchos e pontos turísticos).
“Ligamos para o socorro, mas demoraram mais de uma hora para chegar. As moças estavam com frio, outras pessoas passaram e deixaram um cobertor para elas. O rapaz perdeu muito sangue, mas acho que se o socorro tivesse chego antes ele tinha sobrevivido. Cena muito triste”, narrou o sitiante, que mora no local há mais de 30 anos.
Paulo chegou a ser socorrido para a Santa Casa de Pedregulho, mas precisou ser transferido para Franca, onde acabou não resistindo e morrendo na madrugada de domingo. O caso foi registrado como homicídio e está sendo investigado pela Polícia Civil de Pedregulho.
O mecânico era casado há 12 anos e deixa uma filha. Agora a família de Paulo busca justiça pela morte dele.
Segundo a Polícia Civil, um advogado de Adauto já procurou a delegacia local. Adauto será ouvido, após todas as vítimas e testemunhas. Um laudo pericial foi feito no KM-17 da vicinal, local do acidente, e deverá ajudar na investigação.
Em vídeo que circula na internet, o principal acusado de ter matado o mecânico nega que teve intenção em atingi-lo
No vídeo, Adauto aparece do lado da caminhonete, que aparenta ser uma Nissan Frontier. O veículo está com uma carenagem lateral amarrada com uma corda. Ele afirma que foi somente isso que atingiu a motocicleta.
Adauto não foi encontrado para dar sua versão do acontecido. Somente seu advogado entrou em contato com a Polícia.