TRAJETÓRIA DE SUCESSO

Dieferson Nascimento: de músico em quermesses a percussionista de uma das maiores duplas do país

Por Higor Goulart | da Redação
| Tempo de leitura: 6 min
Dirceu Garcia/GCN
Distante dos palcos, devido à pandemia, Dié Dié está em Franca aproveitando a família
Distante dos palcos, devido à pandemia, Dié Dié está em Franca aproveitando a família
Pense só estar trabalhando como mecânico automotivo em sua cidade natal e, poucos anos depois, fazer parte da banda de uma das maiores duplas sertanejas do país. Não foi fácil, mas Dieferson Nascimento, ou melhor, Dié Dié, conseguiu. Aos 26 anos, o ainda jovem francano, que viveu anos da sua vida no jardim Aeroporto II, é músico percussionista da dupla Zé Neto e Cristiano, dona de vários hits de sucesso. Mas, para chegar a esse ponto, o caminho teve uma série de desafios.
 
Tudo começou como uma diversão, sem qualquer objetivo de seguir carreira profissional. Eram apenas apresentações na igreja, conciliadas com a oficina mecânica do seu pai. Só que aí, aos 15 anos, surgiu a primeira oportunidade: tocar numa banda da família. “Um primo meu tinha dupla em São Paulo e voltou para fazer um projeto. E um outro primo e meu irmão estavam nisso e me chamaram. Só que era algo profissional e não tinha músico percussionista. Então, falei para mim mesmo que seria músico profissional.”
 
E essa promessa fez com que Dié se dedicasse quase que inteiramente para aquilo, já que ainda trabalhava com seu pai. Só que todo o seu salário, fruto da dedicação ao emprego, era transformado na área musical. “Eu não tinha esse negócio de ir para uma balada, gastar com tênis. Trabalhava para aplicar em estudo e instrumento. Foi ficando muito sério. Para nós que moramos no interior, é difícil instrumentos de qualidade. Mas fui sempre aprimorando e foram acontecendo as coisas.”
 
Rapidamente, os investimentos foram tendo retorno. Quando um outro primo o convidou para ajudar numa banda de axé, chamada Stanley Bahia, mais oportunidades regionais surgiram. “Comecei a tocar com pequenas duplas em quermesses, com cajón. Parecia que estava num festeja de 40 mil pessoas. Aí toquei depois com banda baile. Comecei a viajar para outros Estados e, mesmo assim, mantive com essas duplas.”
 
Como músico de quermesses, Dieferson mal imaginava que começaria a mudar sua trajetória. E essa primeira mudança veio quando apareceu o convite da conhecida cantora Desiré. “Uma responsabilidade enorme. E eu sempre ouvi falar de Ângelo e Desirê. Fiz um show com ela e me passou 60 datas. Então, foi tudo muito desafiante na minha vida. Falei putz, cara, vou ter que ouvir esses MPBs. Desafio em cima de desafio. Só que não deixava de trabalhar com essas pequenas duplas.”
 
Ainda investindo e se aplicando, Dié entrava mais e mais de cabeça no seu talento. E um reforço, nesta mesma época, apareceu: Isabela Alipio, com quem ele atualmente é casado. Juntos, estiveram no momento que viraria a chave na vida deles – a Expoagro 2014, que contou apenas com artistas regionais. “Eu levei um setup para tocar com os meninos. Parecia que eu ia fazer um show para o Michael Jackson. E, tipo, tinha uma banda da Prefeitura que acompanhava. O percussionista, na semana seguinte, tinha um compromisso muito sério e o produtor da banda municipal estava lá. Ele gostou muito e me convidou.”
 
Ele só não sabia que o produtor trabalhava também para a dupla Turquin Violeiro e Fabiano e convidou Dieferson para tocar junto a dupla. Esse convite serviu para o percussionista colocar seu nome no cenário da música nacional. “Fiquei esse tempo com eles e fui me especializando, fazendo amizades, contatos fora daqui.”
 
Daí para frente, as coisas começaram a ficar sérias. O francano foi fazer teste na ainda não tão conhecida dupla Zé Neto e Cristiano, mas que permitiu uma atmosfera diferente da que Dieferson estava acostumado. “Meu primeiro show com o Zé Neto e Cristiano foi em Londrina, numa quarta-feira, com 15 mil pessoas. Você fala: ‘Cara, isso é totalmente outra realidade. Para quem tocava em quermesse, pagodes, churrascarias, olha como a realidade mudou’."
 
Mas, como nem tudo são flores, as grandes dificuldades surgiram. Para poder se concentrar na dupla, Dié saiu do seu serviço garantido na DPaschoal. Nessa época, a dupla iria gravar o DVD Seu Polícia, que os lançaria para o cenário nacional. Com o sucesso, a sede se mudou para Goiânia e o francano foi junto. Lá, a pressão apareceu e sua esposa teve início de depressão, com eles dormindo durante seis meses em um papelão. Vários fatores que fariam qualquer um desistir, mas não Dieferson Nascimento. 
 
“Trabalhava na DPaschoal, uma das maiores multinacionais, falei que ia arriscar e pedi demissão. Não peguei um real de acerto. Como não bastasse, a dupla gravou o DVD do Seu Polícia, que eu não participei, porque não tinha maturidade. Fiquei triste. Nesse meio tempo, a saída mudou para Goiânia e lá vou eu em um Escort 86 para lá. A dupla lá estourou e estava muito bem. Só que quando um artista estoura, quem não é capaz é mandado embora. Aí nessa pressão, longe de casa, morando durante seis meses numa quitinete e dormindo num papelão, minha esposa teve início de depressão. Até menti para meu pai, falando que estava tudo bem, tendo que pedir dinheiro para minha tia e indo tudo em instrumento. E eu pensando que um dia ia gravar o DVD da vida desses dois.”
 
E não é que ele estava certo. Depois de tanto sofrimento, a chave na vida de Dieferson deu mais uma volta e tudo mudou. Primeiro, decidiu morar em um lugar mais confortável. Pouco tempo depois, conseguiu concretizar suas palavras de que gravaria o DVD da vida dos cantores. “Eles não tinham pretensão nenhuma nesse DVD, mas foi muito especial para mim. Nele estava a música Largado às traças (música mais importante da dupla e uma das mais conhecidas no sertanejo) e eu me destaquei. Foi muito incrível. Eu participei da criação. Largado às traças entrou no top 13 mundial, abriu um leque e dali para frente tudo foi encaminhando.”
 
Realmente, tudo foi encaminhando. Dali em diante, Dieferson teve várias recompensas: foi presenteado por sua esposa, ganhando o pequeno Heitor como filho; participou de shows no Brasil todo e em vários cantos do globo; gravou outros DVDs com a dupla, com um deles sendo, inclusive, indicado ao Grammy; além de receber convites para tocar com outros artistas nacionais, como Israel e Rodolfo, Marília Mendonça, Daniel, Henrique e Juliano e muitos outros. “Foi tudo nesse meio e a engrenagem foi girando.”
 
Com tamanho sucesso e, ainda, com 26 anos, Dié Dié pode enfim olhar para trás e ver que todo o árduo caminho valeu a pena. “Eu me sinto muito feliz por estar levando o nome da minha cidade para o mundo e para o país e por ser referência, tendo pessoas que me reconhecem. Isso é muito gratificante. Só que ao mesmo tempo é muita responsabilidade, porque dá um frio muito grande. É só desafio. Eu poderia ter gravado largado as traças, mas manter a qualidade é muito difícil”, finalizou.

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