Tipinhos

Tristemente, porém, tão nefasta quanto a física causada por vírus é a contaminação emocional provocada por qualquer dessas psicopatias, pode crer. E com efeitos igualmente devastadores - Lúcia Brigagão

Por Lúcia Brigagão | 26/09/2020 | Tempo de leitura: 4 min
Especial para o GCN

Aqueles anos dourados deixarão saudades, pelo menos em termos de qualidade de músicas e letras. Gente do naipe de  Caetano, Jobim, Gil, Chico, Rita Lee, Raul Seixas e até Roberto Carlos deixam herança musical de valor incalculável, algo assim tão vultoso, que é de se guardar na Suiça. Não saberia apontar, em escala, o mais importante ou o menos talentoso. Posso apontar algumas músicas que, embora passado o tempo, continuam frescas e atuais. Atemporais.  Músicas inesquecíveis, de tons variados e diferentes teores. Músicas que embalam, que fazem pensar, que provocam turbilhoes de emoções e sensações de todos os gêneros. Algumas alegres, outras tristes. Algumas afetivas, outras filosóficas. Algumas para fundo melódico de cenas arrepiantes. Outras de arrepiar o cangote. Tem de tudo, para todos os gostos e ouvidos. Dentre meus prediletos se perde um pouco no quesito melodia, Gilberto Gil em termos de letra rivaliza e por vezes sai vencedor em diversas contendas. Dele, nesse momento,  destaco a fantástica Pessoa Nefasta, que talvez não entre no rol das preferidas de muitos fãs. Talvez nem seja tão conhecida assim dos seus admiradores ou tietes. Não tocou tanto nas rádios mas é arrepiante, desde os primeiros versos: “Tu, pessoa nefasta, vê se afasta teu mal, teu austral que se arrasta tão baixo no chão. Tu, pessoa nefasta, tens a aura da besta, essa alma bissexta, essa cara de cão... Pede que retirem a cobiça, a preguiça, a malícia, a polícia de cima de ti... Basta ver-te em teu mundo interno, pra sacar teu inferno, teu inferno é aqui! Livre das dentadas do mundo, já não terás, no fundo, desejo profundo por nada que não seja bom. Não mais que um pedaço de tábua a boiar sobre as águas,  sem destino nenhum.” Quase um hino dedicado a muitos dos nossos políticos.

Por estes tempos de pandemia, a gente liga o computador e sai navegando um tempão por aí, já que as opções de lazer extra-doméstico ficaram restritas. Numa dessas incursões, dei de topa com profissional interessante, bem articulado e muito bom orador, com trabalho que intitulou “Seis tipos de pessoas que você deve retirar de sua vida.” Só seis? pensei. A curiosidade venceu. Os tipos se mesclam e, no fim, você se vê selecionando e botando cara em muitos dos seus relacionamentos que apresentam algumas daquelas características - puras, ou mescladas e se lembra de outros nefandos atributos ou particularidades  não citados por ele.

O primeiro desses detestáveis tipos, diz ele,  é o Desencorajador, aquele ser frustrado, que repete à exaustão “Isso que você está pensando, não vai dar certo!” tão logo você demonstra que se arriscará em ir para a frente. O segundo tipo é o Invejoso, facilmente detectável pela falta de regozijo que demonstra diante de qualquer conquista do próximo: por exemplo, ele jamais dará os parabéns por qualquer conquista alheia. O terceiro, o Miudeiro, aquele que reclama de tudo; acha que tudo é caro, nada vale a pena. É avarento e miserável. É mesquinho. Não gosta de dividir. Elenca, em seguida, o Inconveniente: fala o que não deve na hora que não deve; vai à sua casa sem ser convidado. Aparece no churrasco sem levar nada e, no churrasco judeu – “cada um leva o seu” tem a caradura de levar carne de terceira e reclamar para seu prato, parte da picanha de marca.  Ou doar a pior marca de cerveja e só pegar as de selo dourado... Quarto tipo, o Urubú Emocional. É o que se alimenta das carniças sociais. Assuntos recorrentes: mortes, destruição, estatísticas do corona vírus; quantos morreram nos tsunamis, terremotos. Vida alheia, escândalos, fofocas. Sabem de cor os nomes dos obituários do dia. Falam de chuva nas viagens às praias, de acidentes nas estradas das montanhas.  Contrapõem tristeza às manifestações de alegria; dão calote, prejuízos, mas o errado é sempre o outro. (Tipinho desprezível!)  Finalmente, nesta seleção pelo menos,  o Hipocondríaco. À saudação “Olá! Tudo bem? responderá com seus males: tem dor no nariz, na mão, no joelho, na bunda, no coração, no tornozelo, no braço. Tem bursite, amigdalite, tendinite, suspeita de câncer e tuberculose. Conhece bula de remédio de cor e, se for levar sua bateria de exames e o médico considera-los satisfatórios, ele duvidará e sairá dali para outra opinião. É a alegria das farmácias.

Tristemente, porém, tão nefasta quanto a física causada por vírus é a contaminação emocional provocada por qualquer dessas psicopatias, pode crer. E com efeitos igualmente devastadores.

 

 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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