Balanço

De verdade, no começo do ano 2020, todos percebemos que estávamos sob nuvem escura de perigo que ninguém sabia dimensionar ou, pelo menos, determinar qual.

Por Lúcia Brigagão | 20/09/2020 | Tempo de leitura: 4 min
Especial para o GCN

Já parou para pensar que maior lição a pandemia Covid-19 vai deixar para sua vida? Pense bem, Peste Negra, Bubônica, Gripe Russa, Espanhola e outras igualmente devastadoras: você nem era nascido – dificilmente conhecerá alguém que padeceu ou ao menos conviveu com alguma delas, mas sofre com as consequências anos ou séculos depois, assim mesmo. Mas, preste atenção. Você terá histórias para contar para seus netos, os jovens de hoje terão histórias para contar para os descendentes daqui a vinte, trinta anos. No caso de escaparem da nova peste, claro... E, lá na frente seremos parte de uma história que dificilmente será esclarecida.

De onde surgiu? Você sabe? Vamos descobrir algum dia? Teria vindo da China, dizem alguns. Veio de laboratório chinês, garantem muitos. De verdade, no começo do ano 2020, todos percebemos que estávamos sob nuvem escura de perigo que ninguém sabia dimensionar ou, pelo menos, determinar qual. De repente, quem estava viajando ou longe de casa foi coagido a voltar; fomos obrigados a usar máscaras de proteção que, afirmaram, barraria a penetração do vírus pelas mucosas do nariz, da boca ou dos olhos – que é assim que se daria o contágio. Fomos obrigados ao confinamento coagido: quem está fora não entra, quem está dentro não sai. De casa, do bairro ou do país. Comida saudável mais muita água mais higienização mais álcool. Curiosamente, água e sabão – sem cheiro mesmo ou grife – seriam mais que suficiente para matar o vírus que atacava qualquer um, com ou sem pedigree. Fecharam as portas das escolas, dos cinemas, dos bares, dos centros esportivos, das nossas casas. Filhos se afastaram dos pais, netos dos avós, tios dos sobrinhos e nós, de nós mesmos. O mundo se tornou sombrio, nem teve mais Estação do Ano. Ficou tudo uma tristeza só. Centenas de estabelecimentos comerciais cerraram suas portas e ainda não se contabilizou o desastre financeiro. Milhares de salas de aula, do Oiapoque ao Chui; do Leste para o Oeste; aqui, ali e acolá; da Antártida à Islândia; tudo que fica sobre, abaixo, acima e dos dois lados do Equador teve que encarar o tal Covid -19 e se proteger dele, que não perdoou idade, sexo, profissão, conta bancária, nacionalidade. Nada.

Foram tomadas medidas drásticas de proteção. Vôos nacionais ou internacionais foram suspensos. Ninguém mais ia ou vinha. O transporte público passou a ser fiscalizado para evitar aglomeração e ou super lotação. Shows – mega ou mini - foram cancelados. Missas e cultos religiosos foram suspensos. Casamentos foram adiados. Há um monte de meninos e meninas pagãos que nem receberam batismo anda. Bancos e autarquias públicas tiveram seus horários reduzidos para atendimento; parques e poliesportivos – ainda que abertos e ventilados, foram fechados. Passamos a usar máscaras. A qualidade do sono das pessoas foi alterada. Os sonhos da maioria tem, garanto, o mesmo cenário. Todos temos saudades de conviver com amigos ao redor de foco de água – piscina, mar, rio, lagoa, ou poça de água mesmo, que até a chuva desapareceu... Por incrível que pareça, ainda há quem esteja ganhando rios de dinheiro mesmo com e apesar destas tristes notícias. De qualquer forma, é muito estranho olhar estabelecimentos comerciais com correntes barrando – ou controlando - a entrada de clientes. É horrível não reconhecer o sorriso ou a careta de quem está atrás da máscara de proteção e é complicado ser obrigado a usá-la.

O que teríamos aprendido com tudo que nos aconteceu nestes últimos meses? É a pergunta que me faço todas as noites, antes, durante e depois da insônia, que minha qualidade de sono desapareceu. Ainda falta muita coisa, sinto. Mas algumas delas já tenho claras dentro de mim, outras são clichês dos mais baratos. Muitas ainda descobrirei... Quer ver só? A vida humana estará sempre por um fio, o que não é nenhuma novidade, já que os gregos mostraram isso num passado assaz remoto, através da lenda das três fiandeiras do destino, as três Moiras. Somos criaturas frágeis: podemos ser abatidos por vírus microscópios e vagabundos, como dizem ser este Covid-19, que o simples lavar de mãos com água e sabão elimina. Somos dotados de grande capacidade de resiliência: meses de confinamento, de distância forçada de amigos e parentes próximos não nos fizeram reféns da angústia e depressão. E, mesmo que neste período você tenha sido assaltado por pensamentos sombrios voltados a seu cônjuge por causa da longa convivência forçada, se ele ainda estiver firme, forte, gozando de boa saúde ... parabéns. Você é um ser estóico, merece o céu

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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