“Em política, o que começa com o medo acaba, geralmente, com a loucura”
Samuel Taylor Coleridge, poeta inglês
O presidente Jair Messias Bolsonaro é um homem muito inteligente. Tão terrivelmente inteligente que, muito antes de qualquer outra pessoa, descobriu que a covid-19 não era nada. Brilhante como nenhum outro dos 7 bilhões de habitantes deste nosso planeta, logo viu que era tudo uma “gripezinha”, um “resfriadozinho” sem maiores consequências. Deu baile em médicos, cientistas, analistas e pesquisadores não apenas do Brasil, mas de qualquer outra parte.
Detentor de um intelecto sofisticado, do tipo que só um deputado federal que ao longo de quase três décadas de mandatos sucessivos sem conseguir aprovar um único projeto relevante poderia ter, Bolsonaro logo viu que a tal gripezinha era coisa de comunista e podia ser facilmente combatida por cloroquina, um genial medicamento desenvolvido para malária e doenças autoimunes que facilmente resolveria o problema.
Jair dividiu sua esplendorosa sabedoria com o ministro da Saúde Luiz Mandetta, que burro como uma porta, não conseguiu entender que bastava tomar cloroquina – com coca-cola, uísque ou água de coco – para resolver o problema. Não precisava construir hospitais de campanha, criar leitos de UTI para receber os pacientes, comprar respiradores, máscaras, muito menos usar álcool gel. Era só tomar o remedinho, em duas versões – cloroquina ou hidroxicloroquina – que não haveria mais doença a combater. Claro, uma ou outra pessoa até poderia morrer – mas nada teria a ver com coronavírus. Morreriam de qualquer jeito, porque estavam velhos, ou com muitas outras doenças, e já tinham um pé na cova e outro na casca de banana mesmo...
Somos muito afortunados em ter Jair no comando do país. Todas as demais nações do mundo, seus líderes, ministros, especialistas, dirigentes esportivos, comandantes de empresas - todo mundo, sem exceção, foi incapaz de fazer a análise que nosso presidente fez. Seguiram, inutilmente, impondo medidas de isolamento social às suas populações. Sem que precisassem, fecharam os comércios, os cinemas, os parques de diversões, os bares e restaurantes, os hotéis, as praias, as indústrias, cancelaram os voos, os cruzeiros, o transporte de cargas. Imagine quanto teriam economizado se tivessem escutado o Jair? Pensem em como o mundo inteiro teria “salvado” tantas vidas – tirando os velhos, que não contam, como bem já explicou Jair – se tratassem a gripezinha com cloroquina. Que povo mais idiota são todos os que têm o azar de não serem governados pelo nosso Messias, meu Deus!
Sem alternativas para salvar o Brasil com Mandetta, o presidente, acertadamente, demitiu o ministro, que ficava insistindo com esta bobagem de distanciamento social, de “ciência”. Patriota como ele só, nosso querido Jair precisava mesmo cuidar do país. E, naquela altura, já estava claro que, além de irrelevante, a gripezinha estava mesmo indo embora.
Escolheu como substituto Nelson Teich, médico como seu antecessor. Doutor bom, oncologista, acostumado a tratar de doença séria, como o câncer. Certamente resolveria a porcaria do “vírus chinês”, essa gripezinha inventada pela mídia comunista, num par de dias. Além disso, muito mais importante que qualquer outra virtude acadêmica, Teich era também um patriota, que tinha participado da campanha que levou nosso grande líder ao Planalto. Problema resolvido, talkey?
Mas tudo indica que a cadeira de ministro emburrece a pessoa. Foi se sentar lá que o prodígio Teich começou a perder o juízo. Ao invés de apoiar as magníficas teses do nosso presidente, Teich parece ter sido afetado por alguma mandinga feita pelo burro do Mandetta. Passou a repetir a mesma bobagem. Ficou contra a posição do nosso sensível líder, que queria acabar com o isolamento, e para piorar, ainda passou a duvidar da cloroquina. Logo ele? Um patriota nunca tem minhoca na cabeça, mas esse Teich parece que tinha. Teve um pessoal que até achou uns antepassados dele comunistas, mas acho que não... Para mim isso foi “trabalho” do Mandetta, aquele invejoso, amigo do traíra do Moro e cúmplice do Dória. Só pode.
Coitado do presidente. Mais uma vez, teve que encarar a decepção. Vinte e oito dias depois de nomear, fez Teich se demitir. Mas agora, não ia errar. Médicos são todos idiotas, percebem? De que outra forma você explicaria alguém precisar estudar dez anos para atender alguém? E ainda vestem branco. Se médico prestasse, vestia verde-oliva camuflado e trocava bisturi por fuzil. Por que não?
Gênio é gênio. E assim, nosso presidente, em outro vislumbre que ninguém mais teve, resolveu botar os bons comandantes das forças-armadas para tomar conta do Ministério da Saúde. Escalou para a função suprema o general Pazuello, especialista em logística convertido em chefe da Saúde no meio da maior epidemia dos últimos 100 anos. Coisa incrível, né? Mesmo porque, gente como o Pazuello não pensa sozinho. Obedece, simplesmente. Segue a hierarquia. É ou não é a solução? Agora tem comando, pô!
Não sei o que acontece que a realidade teima em contrariar o grande presidente Bolsonaro. Depois dos governadores todos insistirem em combater o vírus, dos prefeitos terem que abrir covas para enterrar alguns milhares de vítimas, da mídia golpista esparramar terror, até o “irmão” Trump começou a criticar a gente. Primeiro, cortou os voos. Depois, proibiu os brasileiros ou quaisquer outras pessoas que passem por aqui de pisar na América. Patifaria! Como é que o Eduardo 02 vai fazer para visitar os amigos da hambugueria onde trabalhou na América? Para piorar, o Trump ainda falou nesta semana que o Brasil e a Suécia não servem de exemplo para ninguém. E que se eles tivessem seguido o nosso caminho estariam contabilizando 2,5 milhões de mortos, ao invés dos 100 mil que perderam a vida por enquanto nos Estados Unidos. Sacanagem!
Quando os amigos decepcionam e ninguém entende a genialidade de uma ideia, às vezes é bom olhar o que fazem os inimigos. Mentes brilhantes como a de Bolsonaro estão muito à frente de seu tempo. Mas o bom é que pessoas do calibre dele nunca desistem. Portanto, se as pessoas insistem em desafiar a gripezinha e continuam a morrer, se os casos não param de se multiplicar, se ninguém entende que cloroquina é como chá de sete ervas e cura tudo, o que fazer?
Copia a Coreia do Norte e a China. Comunista é uma merda, mas de controle eles entendem. Isso a gente tem que admitir. Já viu oposição por lá? Governador dando entrevista? Mídia publicando o que quer e insistindo nesta bobagem de verdade? Então, é só fazer igual. Foi assim que o presidente Bolsonaro teve mais essa ideia fantástica nesta semana. Se as pessoas insistem em se infectar e morrer, vamos parar de contar os infectados e os mortos, igualzinho a China e a Coreia do Norte fazem. Simples, fácil, eficiente.
É só mandar o general Pazuello fazer que ele faz. Foi assim que o presidente mandou começar a atrasar a divulgação do boletim de novos casos e mortes todos os dias. Não adiantou, porque a mídia comunista ficava esperando para soltar as notícias ruins. Aí, o presidente matou a pau. Ao invés daquele monte de números, de gráficos, de falar em acumulado de mortes, simplificou tudo. Só os números de casos das últimas 24 horas, e sem somar. Vale o mesmo para as mortes. E números bem pequeninos, igualzinho letra miúda em contrato sacana, só depois das dez da noite.
E os números antigos? Vão ser “auditados”. Assim, o presidente pega três mortes e transforma em uma. Imagina a gente ganhar de Itália, de França, de Espanha em número de mortes? Nunca! É problema de estatística. Os novos relatórios feitos pela equipe do general Pazuello vão mostrar que temos menos casos do que eles. Se alguém contar os mortos, o presidente desmente, porque ele sempre está certo, ainda que esteja errado. De quebra, ainda presenteia o planeta com um novo conceito na pandemia. No mundo inteiro, discute-se a subnotificação, ou seja, há mais casos do que os relatórios conseguem identificar. No Brasil, graças à perspicácia do presidente Bolsonaro, teremos agora a supernotificação. O único lugar onde os dados oficiais serão considerados “maiores” do que a realidade.
Depois de ser o único país relevante onde o presidente ignora as orientações dos médicos, faz campanha contra o isolamento social, atravessa a pandemia sem ter visitado um hospital sequer com pacientes internados, não ter feito nem mesmo uma singela homenagem aos profissionais de saúde que lidam no front e, muito menos, ter demonstrado qualquer misericórdia com as famílias das vítimas, seremos conhecidos também como a nação que criou o conceito de casos supernotificados.
É uma linda jabuticaba! Vamos culpar os doentes pelas mortes, as estatísticas pela pandemia, os governadores pela crise econômica e os comunistas pelo resto. E, ao invés de perder tempo com pesquisa e ciência, é só refazer o relatório e resolver o problema dos infectados e dos mortos, talkey?
I-na-cre-di-tá-vel, não é mesmo? Bolsonaro é ou não é um orgulho para todos nós?
Fale com o GCN/Sampi!
Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.