Tive o privilégio de acompanhar a cena durante anos. Na Piazza Duomo em Milão, grupos de italianos bem maiores de idade a maioria, e número considerável de aprendizes se reuniam diariamente - antes da pandemia - para praticar o esporte nacional, que todos pensam ser futebol, mas que é discutir política. Ao longo das passagens das galerias que ladeiam a praça, um italiano chegava, outro também. Dois italianos formavam um grupo, quer tivessem a mesma opinião, quer fossem rivais, e sempre havia brecha para bater boca. Aglomeravam-se em progressão geométrica: dois, quatro, oito... De longe acompanhava as formações. Um falava, o outro também e ao mesmo tempo, que italianos têm dois ouvidos: um para ouvir seu próprio discurso, outro para ouvir a imediata réplica e elaborar a tréplica... E outros chegavam, já entravam na discussão, falavam ao mesmo tempo. Praticamente todos fumavam. Praticamentre todos tinham jornais sob o braço. Absolutamente todos tinham óculos escuros. O burburinho produzido somente era abafado pelo arrulhar dos pombos, aos milhões por ali. De repente, eles explodiam. De cabeças juntinhas que estavam, como se estivessem cochichando, alguém falava mais alto, todos se dispersavam, como se tivessem brigado. Um andava para lá, outro para cá, gesticulando muito, parecia que iam embora. Ledo engano. Voltavam um a um ao ponto de origem e continuavam a discussão. Falavam do Berlusconi? Mussolini? Pavarotti? Não sei dizer. De repente, dirigiam-se todos ao café vizinho, pediam cada qual seu ristretto, despediam-se e iam embora civilizadamente, apesar das disparidades de opinião; das divergências e discordâncias. Saciados e com missão cumprida – discutir é uma arte – na manhã seguinte estariam de volta. A lembrança é doce e me acompanha...
Nosso protocolo tupiniquim de discussão é bastante diverso. Primeiro não discutimos idéias, discutimos pessoas. Segundo, queremos abafar a opinião do outro com ataques, raramente com argumentos. Terceiro, queremos que respeitem nossa opinião, mas ouvimos a alheia com atitude de escárnio e gozação. Simples, mas acabamos por esquecer de que não adianta explicar, quando o outro está decidido a não entender.
Tão profunda quanto a certeza de que irei morrer um dia, carrego comigo a convicção de que não adianta discutir, quer seja com quem é de esquerda, quer seja com quem não gosta do Bolsonaro. Não adianta que ninguém vence a máquina da repetição de frases e do discurso sem pontuação tipo Maria do Rosário (PSOL), da Gleisi Hoffmann (PT), do Jean Willys – pra ficar nesses. Com quem não gosta do Bolsonaro, eu até me calaria se a argumentação começasse com a implicância com os filhos dele. Aprovaria se eles fossem calados – até na marra. A atitude “sou filho do dono daqui” do quarteto, sinceramente me incomoda. Mas não tolero que ignorem que Bolsonaro foi legitimamente eleito através de campanha limpa e decente. Incomoda-me pensar que os cofres e instituições brasileiros foram arrebentados por quadrilhas de governos anteriores.
Os palavrões do Bolsonaro incomodam-me bem menos que os discursos sem pé ou cabeça de Dilma, eivados de expressões que a imprensa que lhe é favorável classifica como “confusão léxica” e explícitos na afirmação “Bolsonaro quer destruir a destruição” ou na clássica “Saudação à Mandioca”. Na época me pareceu a melhor opção escolher Bolsonaro e ainda não me arrependi. Deixem o homem governar, depois a gente conversa.
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