Sempre quisemos servir peixe fresco no Azul e nunca conseguimos. Alguns clientes perguntam se os peixes do menu são pescados ou de cativeiro, e nós respondemos, meio frustrados, que nossos peixes são de cativeiro, comprados de uma empresa de médio porte, aliás, ótima, que garante tempo e qualidade. Nós bem sabemos com o que sonham esses clientes! Nós dormimos juntos e sonhamos o mesmo sonho. Claro, amaríamos receber pela manhã um balaio por onde vazasse água salgada, teríamos no fundo do restaurante, um tanque rústico onde o velho lobo do mar despejaria peixes e crustáceos quase vivos, poder-se-ia ouvir o tec tec das conchas nos seus estertores.
E como nós os prepararíamos?
Começaria pela decoração. Da janela de nossa cozinha, aceitaríamos ver apenas verde, branco e várias tonalidades de azuis, ao invés de dois botijões P43 de gás. Depois, faríamos o peixe assado, acompanhado por legumes – ensinamento da cozinheira que preparou o melhor peixe que já comi, em Paraty. Depois a iluminação seria só de velas, porque a luz bruxuleante se mostrou a melhor para iluminar uma travessa de Barracuda e tubérculos. E todo mundo teria que comer a cabeça do peixe, porque é assim que se faz. E tanto nós, como vós, teríamos tempo, do tipo que só escorre durante as férias.
Então, caímos todos da cama.
Mas a gente se vira com o que tem. Enfim, conseguimos um comerciante de peixes que jura que entregará para nós, toda sexta-feira, peixes frescos, normalmente tilápia (sempre ela) e tambaqui. Ele também acredita que os peixes terão um padrão aceitável de peso. E só. A preparação será a que melhor atende ao paladar: assado na folha da bananeira. Isso sim será desafiante. Embora trabalhoso, esse invólucro se mostrou o melhor, de longe. Parece minucioso falar em aroma ou capacidade de vedação da folha da bananeira, quando temos, por exemplo, papel alumínio, ou papel manteiga. Pois é, não é. Ela é insubstituível.
Depois de tantos anos, vamos tentar algo novo que, acreditamos, seja bom, porque mais justo e natural sem perdermos sabor ou prazer.
Tomara que dê certo, e que possamos nos encontrar na mesa, que é o lugar das coisas concretas.
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