Bruno Damando Cury

'Uma empresa não pode estar centrada na pessoa física'


| Tempo de leitura: 10 min
'A empresa é um organismo vivo, não pode estar amarrada a uma pessoa. Bruno estando ou não aqui, o negócio precisa crescer'
'A empresa é um organismo vivo, não pode estar amarrada a uma pessoa. Bruno estando ou não aqui, o negócio precisa crescer'
Natural de São José da Bela Vista, o jovem Bruno Damando Cury nunca pensou chegar ao patamar em que está ou mesmo um dia se tornar empreendedor. Formado em administração de empresas e com especializações na área, ingressou há dez anos no mercado digital, se tornou empresário do ramo e, no começo deste mês, virou notícia nacional ao fechar um negócio envolvendo a agência de marketing digital e e-commerce - a Click Qi - que ele comanda no Jardim Piratininga, em Franca.
 
Embora não revele valores da negociação, Bruno diz que a operação local foi adquirida por uma agência multinacional com sede em São Paulo, a Corebiz, que além de escritórios no Brasil, possui unidades na Argentina e no México e tem planos audaciosos de crescimento. Para 2020, o grupo planeja fechar o ano com um faturamento de R$ 40 milhões e dar sequência ao seu plano de expansão. Há projetos de abertura de novos escritórios no Brasil e em outro país da América Latina, além da ampliação do quadro de colaboradores, que passa agora a contar com 220 funcionários. Somente para Franca, 20 novas vagas estão abertas e, até o final do trimestre, a agência, que passará a adotar o nome de Corebiz Franca, estará em um novo prédio no Jardim Ângela Rosa.
 
Além dos ganhos para a empresa, a negociação alçou Bruno ao cargo de diretor de operações da América Latina, com a missão de interligar todos os escritórios e permitir aos colaboradores a oportunidade de intercâmbio. 
 
Sempre atento às transformações do universo digital, Bruno também é professor universitário nos cursos de pós graduação de gestão empresarial e gestão de projetos no Uni-Facef e defende que uma empresa não pode estar centrada em uma pessoa física, mas ao contrário, deve caminhar sozinha.
 
Quem é Bruno Cury?
Meu nome completo é Bruno Damando Cury, tenho 33 anos, sou de São José da Bela Vista e vim para Franca estudar e aqui me formei. Sou formado em administração de empresas pela Uni-Facef e depois fui para fora fazer MBA. Fiz gestão empresarial, gestão de projetos. Sou pós graduado em gestão de empresas, pois sempre gostei de administração. Meu pai é agricultor, gosto do campo, mas sempre me interessei por administração e negócios em áreas distinta da dele.
 
Quando você entrou para o mercado de trabalho? 
Meu primeiro emprego foi aqui em Franca, na Santa Casa. O negócio começou a ficar um pouco mais sério quando eu fui responsável pelo projeto do Ambulatório Médico de Especialidades aqui da cidade. Foi um projeto que a gente desenvolveu, defendeu e executou. Fiquei responsável pela equipe que realizou o projeto executivo de obras para apresentar ao Governo, pois sou especialista em gestão de projetos. Depois fui convidado para ir para a empresa Gazin, no Paraná, como gerente de marketing e operações. Na sequência assumi a área de direção de e-commerce da companhia e fiquei por lá durante dois anos.

Como surgiu o interesse pelo mundo digital?
Eu estive um tempo na Santa Casa, de um ano mais ou menos, e sai. Nesse hiato de Santa Casa, fui trabalhar na Impec, empresa aqui de Franca e lá eles já tinham a noção de serem digitais. Foi a primeira vez que fui apresentado para esse mundo digital, de e-commerce. Era 2009/2010 e vi que tinha muito para tirar daquele mercado. Fiquei na empresa por pouco tempo, mas ali ficou claro que era uma área que iria crescer. Depois voltei para Santa Casa para desenvolver o projeto do AME e conheci o Tiago Gomes, que era diretor de compras do Walmart. Batendo papo, ele falou do mercado em ascensão e da proposta de ir para o Paraná desenvolver essa área na varejista Gazin. Ele foi e me levou junto. Fui com o mínimo de experiência e lá a curva mudou. O Tiago saiu da empresa e eu fiquei lá, assumi o lugar dele e acabei ficando por mais um ano. Nesse intervalo, ele já havia aberto a Click. 

 
A agência surgiu no seu caminho então quando você estava fora de Franca?
Quando eu estava no Paraná, o Tiago Gomes e o Lucas Leite já haviam fundado a Click. Eu não sou idealizador, eles que criaram e são meus amigos, porém não somos mais sócios. Eles fundaram a Click Qi em São Paulo, em junho de 2011, e depois de seis meses me chamaram para fazer parte. Foi quando voltei para Franca, em abril de 2012, e passei a fazer parte da operação.

Como era a Click quando você entrou?
Ela tinha uma pegada diferente do que é hoje. Era voltada mais para consultoria de e-commerce. Me ofereceram 33% de nada (risos), porém falei que para São Paulo não voltaria, não fazia sentido. Como eles são francanos, fiz a proposta de levarem a operação para Franca, mas sabíamos dos problemas de mão de obra. Naquela época, as primeiras pessoas que vieram para a operação eram do ramo calçadista, ou trabalhavam com tecnologia, na parte de manutenção de computadores – totalmente sem experiência. Hoje esse time é de profissionais gabaritados e especializados no mercado de e-commerce

Didaticamente, o que a agência Click faz?  
A Click começou fazendo consultoria para e-commerce e nós tentamos trazer isso para Franca. Chegando aqui a gente mudou o negócio. Depois de um ano e meio, vimos que a consultoria não era escalável. Era antes de 2014 e estava tendo o boom da digitalização. As empresas de nossa região estavam começando a olhar para o online e nós não podíamos ficar só naquilo. Resolvemos mudar e dividir a empresa em 3 vertentes. Então hoje a Click Qi desenvolve tecnologia para operações digitais, oferece soluções de marketing digital, e acompanha operações de e-commerce ainda dentro do modelo de consultoria.

Quem pode buscar os serviços da Click Qi? Quais áreas do e-commerce vocês conseguem atender?
Conseguimos atender todo o tipo de operação online, independentemente do momento que a mesma se encontre ou de seu tamanho – desde que esteja empenhada em criar um negócio profissional. Se o cliente está buscando dar seus primeiros passos na Internet, podemos auxiliá-lo com nosso time de consultoria ou cursos. Caso a empresa já tenha uma operação de e-commerce consolidada, podemos atuar dentro dos canais de marketing digital, mídia programática, CRM, CRO e UX.
 
O que seria CRO e UX?
CRO é entendido como uma ciência que busca melhorar a experiência do usuário dentro dos canais digitais (dentro do site), e como resultado aumenta a conversão de qualquer que seja o objetivo. E aumento de conversão, está intimamente ligado a aumento de vendas. UX, ou user experience (experiência do usuário) é o método de análise e entendimento de tudo que envolve o modo como qualquer usuário interage com o mundo ao seu redor - no nosso caso dentro das lojas virtuais e aplicativos. O grande objetivo desses dois serviços é sempre entregar uma melhor experiência para o usuário, e isso é tangibilizado em ações de entendimento dos “porquês”? 
Porque o cliente está saindo da loja, não rolou a página para ler toda a matéria ou informação, não comprou, etc... essas hipóteses são transformadas em testes, e isso tudo vira matemática, estatística. Na internet não existe eu acho, existe métrica. 

Quem são os clientes?
O nosso primeiro contrato aqui em Franca foi com a Calçados Online, que continua sendo nosso cliente mais antigo. São quase oito anos. Atualmente o Grupo Gurgel é o detentor da operação. Depois vieram outros clientes, como a Milano, a Rafarillo. Na verdade, a agência não começou com clientes de Franca. Os primeiros eram todos de fora. O primeiro mesmo foi as lojas Manica, no Paraná. Depois vieram outros, principalmente do Rio de Janeiro. Hoje temos Menina Shoes, Babado Top, Calçados Saltare, Doctor Shoes, Grupo Soma, Zinzane, Livrarias Curitiba, etc. São 102 clientes e a Corebiz tem mais 80 operações como Boticário, Nespresso, Motorola, Ambev, Tenda, com projetos desenvolvidos para 12 países.
 
Como surgiu o contato com a Corebiz? As agências eram concorrentes?
Sempre estivemos no ranking das melhores agências desse universo, as top 20 entre mais de 300 e batíamos de frente com a Corebiz na hora de conquistar uma nova conta. A Corebiz também realiza o mesmo trabalho que a gente e um dos diretores veio então nos conhecer. Nesse bate papo, eles entenderam um pouco mais sobre a operação da Click Qi, e também apresentaram alguns planos da Corebiz para os próximos anos – até então, a proposta inicial seria apenas uma sociedade parcial. Depois de mais ou menos um mês, assinamos um termo de confidencialidade (NDA), e após esse processo passamos por uma auditoria financeira e contábil. Foi aí que realmente começamos a desenhar esse plano de negociação e eles fizeram a proposta, agora não mais parcial, mas propondo uma fusão total. Assinamos o termo de intenção no final de dezembro e agora concluímos toda a operação.
 
Como estava a Click antes da chegada da Corebiz?
A gente sempre brincou que não é porque estamos no interior que não fazemos coisas boas. O ano de 2017 para 2018 foi de diferencial para a companhia, a gente mais que dobrou o nosso faturamento e a nossa margem continuou sadia. Ali percebi que um bom negócio podia acontecer. Foi o primeiro alerta. Em 2018 para 2019, dobramos de novo em faturamento e no número de gente também. Faturamos R$ 3 milhões em 2018. Começamos o ano passado com 16 pessoas e continuamos crescendo. Iniciamos agora 2020 com 32 pessoas na operação e estamos com mais 20 vagas abertas. Então, 2019 também foi um ano muito bom para nós.
 
Você pensava em vender a Click?
Quando recebi a visita do Rodolfo (que na época era da VTEX, uma plataforma de tecnologia, hoje sócio e vice-presidente da Corebiz) da primeira vez para conhecer a operação, ele perguntou se eu já havia pensado em ter um sócio ou aumentar o negócio. Foi quando falei que eu prezo muito para que a empresa consiga crescer sem a figura do patrão, da pessoa física. A empresa é um organismo vivo, não pode estar amarrada a uma pessoa. O Bruno estando ou não aqui, o negócio precisa crescer. Disse que quando tivesse essa sensação, iria procurar auxílio e isso aconteceu em meados de 2017. Depois desse bate papo, eu cheguei a pagar pessoas de mercado para questionar a operação. Eu apresentava os resultados e a pessoa mostrava o que estava errado, o que precisava melhorar, qual deveria ser o foco e essas pessoas me falaram que estava chegando o momento de dar outro passo.

Foram essas avaliações que determinaram a venda?
Acredito que foi um dos pilares que somados a tantos outros sustentaram toda a decisão. Cabe ressaltar que boa parte do processo foi dividido com o time interno. Temos uma gestão totalmente aberta. Hoje boa parte do time da Click Qi, mesmo não sendo sócios, participa ativamente da entrega dos resultados e tomada de decisão da companhia. Pessoas que estão juntos comigo desde a fundação da empresa, que diariamente sustentam nosso DNA e nossos valores. Gostaria de agradecer a esses “caras” que lá atrás acreditaram no negócio, ao Eduardo Pereira que trabalhou 3 meses gratuitamente no início da Click Qi e hoje também é sócio, Eduardo Melo. que de vendedor de palmilha se tornou um expert em tecnologia, ao Cláudio Borges e Rômulo Milani, pessoas e desenvolvedores fantásticos, além de todos que estão aqui diariamente fazendo acontecer. O maior ativo de uma empresa de serviços são as pessoas que nela estão.

Como será no futuro?
O próximo passo agora é se tornar um labs, um escritório a mais dentro da Corebiz. A empresa tinha um leque de clientes muito grande e deixava o meio da pirâmide sem atender. Iremos atender essas empresas de médio porte, com faturamento mensal de R$ 500 mil a R$ 600 mil. Planejamos até o final do trimestre estar em um novo prédio, pois esse não está mais comportando a demanda e ao mesmo tempo estamos com 20 vagas abertas para desenvolvedores, pessoal de marketing e design, realizando os processos seletivos. Temos planos de saúde, vale academia, curso de inglês e espanhol e essa fusão vai ser muito positiva para o colaborador pois irá permitir intercâmbio de viagens e também projetos.

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