METÁFORA

Salada de Trigo


| Tempo de leitura: 4 min
Já que estamos  tão próximos do Natal, que tal uma  salada de trigo contextualizada por fábula de Esopo com o tema do  renascimento?
Já que estamos tão próximos do Natal, que tal uma salada de trigo contextualizada por fábula de Esopo com o tema do renascimento?
Numa só semente de trigo há mais vida do que num montão de feno”
Khalil  Gibran

 
porção: 10
dificuldade: fácil
preço: econômico
 
INGREDIENTES
 
 1 xícara (chá) de grãos de trigo inteiros
 8 damascos secos
 8 nozes
 1 ramo de cheiro verde
 ½ limão taiti
 Azeite a gosto
 Sal a gosto
 
 
 
Esopo, escravo que viveu no século 6º a.C,  talvez na Grécia, talvez na Turquia, recriou histórias em que os animais eram  personagens em lugar de humanos. Por meio dos diálogos entre os bichos e das situações em que os enredava, o artista buscava transmitir um saber  de caráter moral. Consta que viajou pelo mundo com seu senhor e nesses deslocamentos conheceu muitas coisas novas  e aprimorou o gênero em que narrava. 
 
O conjunto de pequenas histórias, onde animais desempenhavam papéis que faziam sentido do ponto de vista moral, ou seja, nas quais tomavam o lugar dos homens e viviam  seus dramas comuns,foi muito apreciada na Grécia Antiga e  faziam parte de longa tradição oral, como as obras de Homero. Na Idade Média monges  fizeram uso das histórias de Esopo com fins pedagógicos, depois que um deles, chamado Planúdio, revisou as  narrativas na sua estrutura formal.  
 
La Fontaine tornou-se célebre ao traduzir as histórias para o francês, no século XVII, recriando-as  com o objetivo de educar o homem de sua época.  Ele achava que se deveria  colocar Esopo entre os grandes sábios de que a Grécia se orgulhava, já que sob seu ponto de vista, o fabulista ensinava  com  sabedoria, e o fazia com muito mais arte do que os que usavam regras e definições.
 
Apesar de ter surgido há mais de dois mil anos, a fábula  continua sendo um gênero que cativa leitores de todas as faixas etárias e não só crianças. Muitos escritores, como Millor Fernandes, por exemplo, recriaram velhas fábulas dando-lhes  novas roupagens e conferindo–lhes finais com   renovados significados.
 
Já que estamos no mês natalino, escolhi uma pouco conhecida de Esopo, para contextualizar a receita de salada de trigo, sugestão para a ceia de Natal. Bonita e nutritiva, ela é simbólica, pois se considerarmos a festa religiosa em seu aspecto cristão, e não nos prendermos ao apenas profano,  tudo o que Esopo atribui ao trigo pode nos servir de baliza e inspiração para a capacidade de renascer. Vamos lá:  
 
“Durante a colheita, um grão de trigo caiu no solo. Ali ele esperou que a chuva o enterrasse.  Foi quando surgiu uma formiga que começou a arrastá-lo para o formigueiro. – Por favor, me deixe em paz! – protestou o grão de trigo.  – Mas precisamos de você no formigueiro – disse a formiga;  se não tivermos você para nos alimentar, vamos morrer de fome no inverno.   – Mas eu sou uma semente viva – reclamou o trigo; não fui feito para ser comido assim.  Eu devo ser enterrado no solo para que uma nova planta possa crescer a partir de mim.  – Talvez – disse a formiga –, mas isso é muito complicado para mim. E continuou a arrastar o trigo.   – Ei, espere – disse o trigo. Tive uma ideia. Vamos fazer um acordo!  – Um acordo? – perguntou a formiga.  – Isso mesmo. Você me deixa no campo e, no ano que vem, eu lhe dou cem grãos.  – Você está brincando – disse a formiga, descrente.  – Não, eu lhe prometo cem grãos iguais a mim no próximo ano. – Cem grãos de trigo para desistir de apenas um? – disse a formiga, desconfiada. – Como você vai fazer isso?  – Não me pergunte – respondeu o trigo –, é um mistério que não sei explicar. Confie em mim.  – Olhe, eu  vou confiar em você – disse a formiga, que deixou o grão de trigo em seu lugar. E, no ano seguinte, quando a formiga voltou, o trigo tinha mantido sua promessa. E havia nas hastes muito mais que cem grãos.” 
 
Bom, agora, à receita. Deixe os grãos de trigo de molho durante a noite. Em geral, levam 12 horas para ficar  bem hidratados. Escorra, coloque em panela funda com bastante água, cozinhe até que fiquem macios. Experimente apertando um deles entre dois dedos. Deixe esfriar, escorra numa peneira. Corte em  tirinhas bem finas  os damascos. E bem fininhas a salsa e a cebolinha. Parta em pedaços pequenos as nozes e leve-as ao forno por uns minutos até que desprendam suas moléculas aromáticas. Num pirex coloque aos poucos trigo cozido e escorrido e vá temperando devagar com sal. Experimente para ver se está de seu gosto. Agregue então os pedacinhos de damasco e de nozes e mexa com garfo para misturar bem. Junte o cheiro verde picadinho. Esprema  gotinhas de limão e mexa, sempre experimentando. Regue por fim com fio de azeite. Decore a gosto. A salada da foto recebeu um physalis bem no centro. Mas pode ser um damasco inteiro, uma noz, um raminho de salsa... Sirva bem fria, não necessariamente gelada. 

PASSO A PASSO
 
1 - Cozinhe o trigo hidratado desde a véspera, escorra em peneira, salgue
 
2 - Junte os damascos cortados em tirinhas bem finas e as nozes picadas
 
3 - Agregue o cheiro-verde picado com delicadeza
 
4 - Pingue umas  gotas de limão e misture com um garfo para ficar soltinho
 
5 - Regue com fio de azeite, decore a gosto e sirva fria

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