Numa só semente de trigo há mais vida do que num montão de feno”
Khalil Gibran
porção: 10
dificuldade: fácil
preço: econômico
INGREDIENTES
1 xícara (chá) de grãos de trigo inteiros
8 damascos secos
8 nozes
1 ramo de cheiro verde
½ limão taiti
Azeite a gosto
Sal a gosto
Esopo, escravo que viveu no século 6º a.C, talvez na Grécia, talvez na Turquia, recriou histórias em que os animais eram personagens em lugar de humanos. Por meio dos diálogos entre os bichos e das situações em que os enredava, o artista buscava transmitir um saber de caráter moral. Consta que viajou pelo mundo com seu senhor e nesses deslocamentos conheceu muitas coisas novas e aprimorou o gênero em que narrava.
O conjunto de pequenas histórias, onde animais desempenhavam papéis que faziam sentido do ponto de vista moral, ou seja, nas quais tomavam o lugar dos homens e viviam seus dramas comuns,foi muito apreciada na Grécia Antiga e faziam parte de longa tradição oral, como as obras de Homero. Na Idade Média monges fizeram uso das histórias de Esopo com fins pedagógicos, depois que um deles, chamado Planúdio, revisou as narrativas na sua estrutura formal.
La Fontaine tornou-se célebre ao traduzir as histórias para o francês, no século XVII, recriando-as com o objetivo de educar o homem de sua época. Ele achava que se deveria colocar Esopo entre os grandes sábios de que a Grécia se orgulhava, já que sob seu ponto de vista, o fabulista ensinava com sabedoria, e o fazia com muito mais arte do que os que usavam regras e definições.
Apesar de ter surgido há mais de dois mil anos, a fábula continua sendo um gênero que cativa leitores de todas as faixas etárias e não só crianças. Muitos escritores, como Millor Fernandes, por exemplo, recriaram velhas fábulas dando-lhes novas roupagens e conferindo–lhes finais com renovados significados.
Já que estamos no mês natalino, escolhi uma pouco conhecida de Esopo, para contextualizar a receita de salada de trigo, sugestão para a ceia de Natal. Bonita e nutritiva, ela é simbólica, pois se considerarmos a festa religiosa em seu aspecto cristão, e não nos prendermos ao apenas profano, tudo o que Esopo atribui ao trigo pode nos servir de baliza e inspiração para a capacidade de renascer. Vamos lá:
“Durante a colheita, um grão de trigo caiu no solo. Ali ele esperou que a chuva o enterrasse. Foi quando surgiu uma formiga que começou a arrastá-lo para o formigueiro. – Por favor, me deixe em paz! – protestou o grão de trigo. – Mas precisamos de você no formigueiro – disse a formiga; se não tivermos você para nos alimentar, vamos morrer de fome no inverno. – Mas eu sou uma semente viva – reclamou o trigo; não fui feito para ser comido assim. Eu devo ser enterrado no solo para que uma nova planta possa crescer a partir de mim. – Talvez – disse a formiga –, mas isso é muito complicado para mim. E continuou a arrastar o trigo. – Ei, espere – disse o trigo. Tive uma ideia. Vamos fazer um acordo! – Um acordo? – perguntou a formiga. – Isso mesmo. Você me deixa no campo e, no ano que vem, eu lhe dou cem grãos. – Você está brincando – disse a formiga, descrente. – Não, eu lhe prometo cem grãos iguais a mim no próximo ano. – Cem grãos de trigo para desistir de apenas um? – disse a formiga, desconfiada. – Como você vai fazer isso? – Não me pergunte – respondeu o trigo –, é um mistério que não sei explicar. Confie em mim. – Olhe, eu vou confiar em você – disse a formiga, que deixou o grão de trigo em seu lugar. E, no ano seguinte, quando a formiga voltou, o trigo tinha mantido sua promessa. E havia nas hastes muito mais que cem grãos.”
Bom, agora, à receita. Deixe os grãos de trigo de molho durante a noite. Em geral, levam 12 horas para ficar bem hidratados. Escorra, coloque em panela funda com bastante água, cozinhe até que fiquem macios. Experimente apertando um deles entre dois dedos. Deixe esfriar, escorra numa peneira. Corte em tirinhas bem finas os damascos. E bem fininhas a salsa e a cebolinha. Parta em pedaços pequenos as nozes e leve-as ao forno por uns minutos até que desprendam suas moléculas aromáticas. Num pirex coloque aos poucos trigo cozido e escorrido e vá temperando devagar com sal. Experimente para ver se está de seu gosto. Agregue então os pedacinhos de damasco e de nozes e mexa com garfo para misturar bem. Junte o cheiro verde picadinho. Esprema gotinhas de limão e mexa, sempre experimentando. Regue por fim com fio de azeite. Decore a gosto. A salada da foto recebeu um physalis bem no centro. Mas pode ser um damasco inteiro, uma noz, um raminho de salsa... Sirva bem fria, não necessariamente gelada.
PASSO A PASSO
1 - Cozinhe o trigo hidratado desde a véspera, escorra em peneira, salgue
2 - Junte os damascos cortados em tirinhas bem finas e as nozes picadas
3 - Agregue o cheiro-verde picado com delicadeza
4 - Pingue umas gotas de limão e misture com um garfo para ficar soltinho
5 - Regue com fio de azeite, decore a gosto e sirva fria
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