A cidade do futuro

Uma cidade de olho no futuro


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Franca, vista do alto: cidade chega aos 195 anos repleta de desafios para o futuro
Franca, vista do alto: cidade chega aos 195 anos repleta de desafios para o futuro

Nos últimos anos, Franca, cidade que ao longo da sua história ficou conhecida como a Terra do Calçado e a Capital Nacional do Basquete e que completou 195 anos de emancipação política na última quinta-feira, 28 de novembro, recebeu dezenas de empreendimentos imobiliários, de baixo, médio e alto padrão; acompanhou a abertura do curso de medicina em duas das suas principais universidades; além da chegada de polos de outras faculdades e até uma nova instituição de ensino superior presencial; acumulou títulos como a melhor cidade em saneamento (água e esgoto) no Brasil; ultrapassou os 350 mil habitantes; sagrou-se uma das melhores em qualidade de vida (4ª melhor do interior e litoral do Estado de São Paulo) com destaque para a educação, saúde e o meio ambiente; e é ainda a 41ª em Desenvolvimento do país e 29ª do Estado segundo o IFDM (Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal).

E, pensando nas conquistas e principalmente nos desafios para os próximos anos, buscamos as seguintes respostas de representantes de quatro setores francanos - educação, saúde, indústria e comércio - Qual a Franca que você enxerga e qual a que você quer para o futuro?

Indústria: retomada será gradual

Principal representante da indústria calçadista, que nos últimos anos viu cerca de 200 fábricas serem fechadas e mais de 11,5 mil vagas de trabalho acabarem extintas, o presidente do Sindifranca (Sindicato da Indústria de Calçados de Franca), José Carlos Brigagão do Couto, espera uma recuperação gradual no setor para os próximos anos.

“É preciso considerar a performance na indústria nacional ao longo dos anos. O Brasil sofreu uma verdadeira e arrasadora desindustrialização que se intensificou na década de 1980. Neste contexto, inclui-se o setor calçadista nacional e, consequentemente, o polo calçadista francano. Considerando estes fatores, a recuperação precisará ser gradual, ou seja, a curto, médio e longo prazo, a partir das reformas tanto do Governo Federal como do Governo do Estado. Assim sendo, teremos condições de crescer, recuperando os anos perdidos e principalmente condições para a elaboração de um planejamento estratégico para os próximos anos”, explica Brigagão.

Sobre a preparação da indústria calçadista para as mudanças, o presidente do Sindifranca é categórico ao afirmar que, sem elas, o futuro do parque calçadista de Franca estará comprometido. “A indústria calçadista terá que se reciclar, com foco nas exportações, com novas tecnologias, inovação e, principalmente, em gestão empresarial. É importante destacar que não existe almoço grátis. Com o Governo do Estado de São Paulo fazendo sua parte, os empresários terão de fazer o que lhes competem, que é trabalhar, investir, profissionalizar e aprender a gerir melhor. Temos tudo para ser um cluster fortíssimo, basta querermos.”

Serviços: momento de diversificação

Em contrapartida, os setores de comércio e serviços se fortaleceram nos últimos anos ante a queda da indústria calçadista. Em 2018, segundo dados do Instituto de Economia da Acif (Associação do Comércio e Indústria de Franca), o setor de Serviços mostrou-se o mais promissor em Franca, com 2.596 empresas abertas. Em segundo lugar aparece o comércio, com 1.711 novas empresas.

“Eu enxergo o futuro de Franca muito promissor. Vejo que Franca tem diversificado seus segmentos de atuação em todos os setores, o que colabora para o enfrentamento de crises e desenvolvimento da cidade. Em Franca, os dois setores que estão em ascensão são Comércio e Serviços que, juntos, já empregam mais da metade da população francana e colaboram para o crescimento do rendimento médio local. Isso acabará influenciando, positivamente, o desenvolvimento econômico da cidade. Vivemos um momento de crescimento interno, em que o consumidor francano passa a ter um papel de destaque para a economia. Outro segmento que acredito que se destacará é o de tecnologia. Nos últimos 5 anos, tivemos um crescimento de 55,6% no número de empresas do ramo, chegando, hoje, a 201 empreendimentos locais”, pontoou Tarciso Bôtto, presidente da Acif.

Saúde: investimentos de altos valores

Ao longo dos últimos anos Franca recebeu alguns grandes investimentos na saúde privada e outros estão previstos para o futuro. Enquanto o Hospital e Maternidade Regional foi vendido para o Grupo São Francisco, que faz parte do Sistema Hapvida, a Unimed Franca planeja para janeiro de 2020 o início da construção do seu novo Centro Médico. Serão R$ 85 milhões de investimentos com prioridade para mão de obra francana e compra de matéria prima de estabelecimentos locais.

“Nos últimos cinco anos o setor de saúde suplementar ficou estagnado no Brasil. A Unimed Franca seguiu com os investimentos e esperamos um crescimento orgânico para os próximos anos já com um salto rápido com a reação econômica. Estamos nos preparando para daqui a 3 ou 4 anos”, disse Nilson Salomão, presidente da Unimed.

A construção do Centro Médico deve gerar 500 empregos diretos (todos de Franca), outros 1,5 mil indiretos, além de compras de material com parceiros francanos da Unimed. A expectativa de entrega é de 3 anos e com a conclusão do espaço, devem ser realizadas ainda mais melhorias no Hospital São Joaquim, que entre os anos 2018 e 2019 recebeu um recorde de investimentos.

“Atualmente 80% do que é arrecadado é gasto com o atendimento, 11,5% com os custos administrativos, uma parte para o pagamento de impostos e o restante é investido totalmente. Pensamos no futuro e nos preparamos para ele. Para 2020 nossa expectativa é de crescimento de 10%”, completou Nilson Salomão.

Na cidade desde o começo deste ano, quando a compra do Hospital e Maternidade Regional foi concluída, o Grupo São Francisco tem investido na revitalização e modernização das estruturas de hotelaria e instalações assistenciais, novos equipamentos médicos e de enfermagem, além de reformas nos leitos.

“Com atuação diária em Franca para manter a saúde e dar mais qualidade de vida para seus clientes, a empresa investe não apenas em tecnologia que possibilite melhores tratamentos, mas também em qualidade e acolhimento para as pessoas. O Hapvida acredita em uma Franca mais saudável e quer colaborar neste processo, através de investimentos constantes e a democratização ao acesso de saúde de qualidade”, disse Anderson Nascimento, superintendente Nacional de Rede Própria do Sistema Hapvida.

Outro exemplo do desenvolvimento na saúde francana é a clínica Scullp, onde além de consultórios possui toda a estrutura física necessária para cirurgias serem realizadas no próprio local, proporcionando mais conforto e facilidade para os pacientes. “A saúde tente a prosperar bastante na cidade, com a perspectivas de novos médicos se instalando em Franca. Isso é influenciado pela criação de faculdades de medicina na cidade e pela qualidade de vida”, disse Tales Sabia, cirurgião plástico. “A cada dia mais profissionais estão enxergando as lacunas de determinadas especialidades na cidade e investido nisso. A criação de clínicas que são também centros cirúrgicos abrem uma visão maior para o desenvolvimento”, finalizou.

Seguindo a linha de grandes centros de saúde vem o edifício Santa Maria. Com um total de 129 consultórios, além dos pavimentos para o estacionamento privativo - o empreendimento, que fica localizado no bairro São José, foi idealizado para receber consultórios e clínicas de diferentes especialidades médicas, odontológicas, laboratoriais, além dos serviços das outras áreas da saúde, como fisioterapia, nutrição, psicologia, permitindo uma atuação integrada.

Educação: mais profissionais na cidade

Anhanguera, polo e unidade presencial; polo Unicesumar; cursos de engenharias, psicologia, enfermagem e medicina no Centro Universitário Uni-Facef; e medicina na Universidade de Franca. Estes são apenas alguns dos ganhos de Franca no setor educacional recentemente.

Municipal, o Uni-Facef inaugurou nos últimos anos as unidades I e II e mantém atualmente 14 cursos, além da pós-graduação e mestrado. “A criação de novos cursos trouxe desenvolvimento, através do consumo e também do trabalho social, como o feito por alunos de medicina nas Unidades Básicas de Saúde e também nos ambulatórios-escola e no internato dos alunos na Santa Casa, Pronto-socorro e na Unidade de Pronto Atendimento”, disse o reitor do Uni-Facef, José Alfredo de Pádua Guerra.

Para o reitor, no caso do curso de medicina, a tendência é ter mais profissionais permanecendo na cidade constituindo aqui vínculos e sendo mais opções de profissionais praticando a medicina seja nos consultórios, nos hospitais ou até mesmo como docentes nas faculdades locais.

“O ensino, pesquisa e extensão não podem ser desconectados, eles devem atender aos arranjos produtivos locais, pois servem como ferramenta para formar cidadãos aptos a atuarem na região onde a Instituição está inserida”, disse a reitora da Unifran, Kátia Jorge Ciuffi.

“A medida que a Universidade amplia sua capacidade de formação, ela passa a atender os anseios de sua comunidade e passar a gerar melhor qualidade de vida a população. Voltamos os olhares nacionais e internacionais para a cidade de Franca e dessa forma, aumentamos as ofertas e a qualidade de emprego aqui gerados”, disse a reitora sobre a criação de novos cursos.

Pensamento deve ser no longo prazo

Para o professor Agnaldo de Sousa Barbosa, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Análise de Políticas Públicas da Unesp, Franca ainda é uma cidade na qual o reconhecimento de problemas no que diz respeito ao desenvolvimento econômico, educação, saúde, cultura se dá numa perspectiva imediatista, sem visão de longo prazo, certamente tendo como horizonte resultados pautados pelo calendário eleitoral. “É uma cidade a qual muitos dos aspectos da questão social (amparo à infância, à velhice, ao cuidado e promoção de saúde, etc.) estão enredados em uma teia de interesses que muito pouco tem a ver com o sentido vigoroso de “bem público”, mas com relações de clientelismo e poder que fragilizam o impacto efetivo das políticas públicas: muitas vezes, prepondera a lógica das instituições e seus atores, não as reais demandas do público que necessita dos serviços em função de sua condição de vulnerabilidade”, disse.

Para o professor, a Franca ideal para o futuro é uma cidade que consiga superar totalmente as questões levantadas por ele. “É necessário construir estratégias de desenvolvimento econômico e social que estejam alicerçadas por um planejamento mínimo, visando uma década ou duas à frente. Sustentabilidade, palavra fácil em discursos e que parece remeter apenas às questões ambientais, tem muito a ver com tudo isso: é a capacidade de manter de pé um projeto (sustentá-lo) diante das transformações no cenário nacional e internacional (planejar é também habilidade para construir cenários de futuro!); é a capacidade de sobreviver a conflitos e disputas no jogo de poder sem descuidar do principal foco da política pública: as pessoas e suas necessidades reais”, finalizou.

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