Artista plástica há 46 anos, a paulistana Edina Síkora, 64, estudou na Belas Artes de São Bernardo e na Cândido Portinari. Fez um pouco de publicidade também. Mas a maior parte do que aprendeu advém de pesquisas, leituras, experimentações, acertos e erros, muita pintura. Seu primeiro ateliê foi montado em 1985, e nele ela lecionou arte e desenvolveu criatividade. Crianças, jovens e adultos desejosos de pintar, desenhar, pesquisar buscavam no ateliê de Edina Síkora seu espaço de sonho. Foi assim até 2005, quando ela precisou parar por problemas de saúde. Mas nunca deixou de fomentar as artes nos lugares por onde passou, fundando associações, criando espaços, participando de movimentos, mostrando seu trabalho em feiras e exposições. Em Franca, em parceria com a filha Luciana Matos, criou em 2006 o Bem-Te-Vi Ateliê, já uma referência. Sua arte de fortes vínculos com a natureza, levou a Natura, indústria de cosméticos, a escolher duas obras assinadas por ela para ilustrar embalagens de perfumes vendidos no País e Exterior. O Comércio conversou com Edina Síkora esta semana.
Comércio- Como veio parar em Franca onde vive há 18 anos?
Edina- Foi buscando uma melhor qualidade de vida para criar meus filhos que morei em algumas cidades do interior de S.Paulo até chegar em Franca em 2001. Gostamos da cidade e aqui minha filha Luciana Matos inaugurou o Bem-Te-Vi Ateliê. Em 2006 tornei-me sócia.
Comércio- Que produtos são oferecidos pelo atelier?
Edina- Criamos peças exclusivas. Bolsas e acessórios em tecido e sintético, arte digital e objetos de decoração. Não usamos nada de origem animal, pensamos sempre no meio ambiente. Todas as nossas peças são únicas. Trabalhamos muito a questão do empoderamento feminino. Somos mulheres fortes em busca de viver da nossa arte.
Comércio- Como é trabalhar em parceria?
Edina- A parceria com minha filha Luciana Matos sempre funcionou muito bem, temos uma afinidade incrível. As idéias surgem ao mesmo tempo. E acredito que essa conexão vai além da relação mãe e filha! Nas obras de arte, cada uma cria e assina a sua.No ateliê elaboramos as peças juntas, embora na maioria das vezes a confecção fique por conta dela.
Comcércio- Qual é o suporte físico para a arte de Edina e Luciana?
Edina- A variedade de material usado por nós é muito vasta. Utilizamos desde os convencionais ( telas, papéis, tecidos, etc.) até objetos e arte digital.
Comércio- Como define seu estilo?
Edina- Acabei criando um estilo próprio. Uma mistura de contemporâneo com naif. Comecei como impressionista, mas havia imagens fortes dentro de mim que queriam saltar para a tela e assim fui pintando essas criações e mudando até chegar ao estilo atual. Porém, novas imagens e idéias sempre surgem para mudanças e novas experimentações. A arte não pode estagnar... Nela tudo flui para evoluir e levar ao próximo patamar.
Comércio- O que significam as cores para você?
Edina- Faço uso das cores para reforçar o sentimento que quero passar na obra. Uso linhas e cores para conferir movimento e emoção à figura central, geralmente mulheres (sou uma eterna feminista) e crianças em momentos iluminados, cheios de amor.
Comércio- Além das mulheres e crianças, que outros temas o público encontra nas obras?
Edina- As minorias sofridas, nosso povo alegre, gentil e solidário. Sinto necessidade de passar energias boas, reflexivas e felizes. Os elementos ao fundo, ou a colcha de retalhos, como costumam chamar, são pedaços de vivências, sonhos que carregamos, a alma do nosso povo. Uma temática que amo é o registro de nossa cultura. Somos riquíssimos em nossa diversidade! Por ter como temática as mulheres e nossa cultura a Natura encontrou meu trabalho e se encantou.
Comércio- Como foi que a Natura a encontrou?
Edina- Estavam procurando uma arte que representasse um perfume que iriam lançar, o “Cheiro de Moça Bonita.” Eu nem sabia que haviam cogitado usar o marketing cultural num produto, mas fiquei muito feliz por ter uma obra minha escolhida. Foi lançado no Brasil com muito sucesso. Em seguida na Europa e no mundo todo. Depois aconteceu o lançamento, no Brasil e toda Amércia Latina, de mais dois perfumes com imagem da obra “Festa das Águas.” As empresas deveriam se utilizar mais desta ferramenta de marketing cultural, é fantástica, alavanca muito as vendas e ainda promove a arte. Isso agrada os consumidores. Apesar de já ter meu trabalho reconhecido no exterior em coleções particulares, fiz novos amigos pelo mundo.
Comércio- E Frida Kahlo, o que significa como motivo?
Edina- Frida Kahlo tem uma história de superação e força que admiramos e nos inspira. As pessoas, por todos os lugares onde passamos, gostam muito de nossas peças. Muito embora o brasileiro de uma forma geral ainda veja a arte como algo supérfluo, distante e caro, as coisas estão mudando gradativamente
Comércio- Em Fanca também?
Edina- Sim, inclusive no cenário artístico e cultural francano. Temos muitos artistas talentosos escondidos por aqui. Uma pena não sabermos aproveitá-los da forma como merecem. A arte vai muito além de uma exposição, um evento ou acontecimento cultural. É toda uma gama de emoções do ser humano que o artista transforma em realidade através de música, filme, quadro, dança, peça teatral...
Comércio- Planos para o futuro próximo?
Edina- Atualmente estamos reunindo um grupo de pessoas que atuam em diferentes áreas, mas têm em comum práticas com vista a um mundo sustentável, ecologicamente correto, num consumo consciente.Prática já existente e bastante difundida nos grandes centros, as feiras ecocriativas são excelente opção para novos conhecimentos, compras e lazer. Estamos buscando espaços para expor nossos produtos e idéias, oficinas e palestras. É nossa maneira de ajudar na realização de um mundo melhor e divulgar nosso trabalho.
Fale com o GCN/Sampi!
Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.