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Carlos de Assumpção, o filme


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 Carlos de Assumpção
Carlos de Assumpção

Incansável, persistente e determinado. No auge dos seus 92 anos de vida, essas são só algumas das características que remetem ao poeta Carlos de Assumpção. Mas, não dá para resumi-lo assim. Ele é muito mais. O paulista, que adotou Franca como morada há décadas, é desinquieto no que se refere a arte da escrita e da palavra dita. Carlos é um incentivador e entusiasta da cultura negra e, agora, após várias obras criadas nos últimos anos, ele teve seu talento repercutido na mídia brasileira de alcance internacional e, paralelo a isso, a produção de um filme documentário sobre sua existência e obras.

A matéria publicada no dia 7 de setembro deste ano, no impresso e na versão online, do jornal Folha de São Paulo, foi de autoria do poeta e ensaísta Alberto Pucheu, que também é professor de teoria literária da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e assina a direção de “Carlos de Assumpção: Protesto”.

Autor de Protesto, lido pela primeira vez em 1956 na Convenção Paulista do Negro e 1º lugar no concurso de Poesia Falada de Araraquara (SP), Carlos é membro da Academia Francana de Letras, formado em Letras e Direito, pela Unesp e Faculdade de Direito de Franca, diretor do Coral Afro-Francano e um dos fundadores do Grupo Veredas. O escritor premiado tem o texto mais famoso traduzido em inglês, francês e alemão. Além disso, ele é idealizador do Sarau Protesto – o qual mantêm com recursos próprios de sua aposentadoria como professor estadual e municipal e ajuda de amigos.

Como uma das atrações do 3º Festival Literário, o filme documentário foi lançado ontem em Franca. Hoje, domingo, volta a ser exibido às 17 horas, na Casa da Cultura e do Artista Francano Abdias do Nascimento, localizada na rua Dr. Alcindo Ribeiro Conrado, 1516 – Centro. A entrada é gratuita.

Como o senhor conheceu o professor e poeta Alberto Pucheu, responsável pela publicação da matéria na Folha e diretor do seu primeiro filme?
Ele é professor de teoria literária no Rio de Janeiro e andou enveredando pelo lado da poesia negra. Nas pesquisas ele encontrou meu nome e conheceu “Protesto”, a minha obra mais famosa. Ele disse ter ficado encantado e quis me conhecer. Logo veio a ideia do filme documentário e todo este movimento me deixou muito feliz. A ficha ainda não caiu.

Como foi o período de gravação do filme documentário “Carlos de Assumpção: Protesto”?
Está tudo tão recente e foi muito rápido. Há dois meses ele veio aqui em casa, passamos alguns dias juntos. Ele me entrevistou e eu declamei as minhas poesias e poemas. A mulher dele [Danielle Magalhães] fez as filmagens enquanto conversávamos. Foram vários dias de vivência falando da minha trajetória pessoal e literária.

Como se sente conquistando esta evidência?
A gente que trabalha tanto um dia a conquista tem que aparecer. A persistência é parte da vitória. Há duas editoras interessadas no meu trabalho – editora Todavia e Companhia das Letras. Estamos em fase de negociação. Isso tudo aconteceu depois da matéria do Pucheu e o filme que já está sendo exibido nos teatros de bolso no Rio.

Qual a sensação de ser comparado a Drummond?
Nossa, eu achei absurdo (risos)!. Mas, ele me comparou a Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Ferreira Gullar... Só que tem uma coisa: eu estou fazendo o que eu posso. Mas, eu tenho as minhas limitações.

Nestas andanças em prol a divulgar a cultura, o senhor conta com algum apoio financeiro para custear seus gastos das apresentações nas escolas e do Sarau Protesto?
Na última edição do Bolsa Cultura, da Prefeitura de Franca através da FEAC, eu tentei conseguir respaldos para o Sarau Protesto. Foi frustrante. Nos disseram que nosso projeto é irrelevante. Oras! Não gostamos desta justificativa. Eu não quero pedir nada para ninguém porque, afinal de contas, eu não dependo deles para fazer o que eu faço. Isso não nos desencoraja. Nossa resistência vem de longe. Fomos na Fundação Casa recentemente e ver os olhos deles (os jovens) brilharem de esperança nos nutre. Eles ficam impressionados. Falamos sobre liberdade, responsabilidade, sonhos...Eles vibram.

Como é resistir e tentar repercutir este trabalho na tentativa de combater o racismo?
Eu aprendi desde a infância com o meu avô. Que era analfabeto, mas sabia lidar com as circunstâncias da vida e me ensinou. Eu não me abalo com muita coisa. O racismo é difícil de me pegar. Apesar que ele existe e é muito forte. Eu acho que as famílias podem dar uma espécie de escudo aos seus filhos para se prepararem e conseguirem enfrentar estes preconceitos através do conhecimento e da educação. O racismo não atrapalha só o negro, atrapalha o branco também. O racismo é combatido com educação. Porque ele é ignorância.

Qual a sua análise sobre o cenário literário e cultural em Franca, mais precisamente colocar em evidência a cultura e a luta dos negros nos livros e apresentações?
Franca é uma cidade conservadora. Mas, eu já estou acostumado a lutar pelo que eu quero nesta vida desde criança. Minha família sempre lutou e passou essa resistência e eu absorvi. Meu pai era analfabeto, minha mãe tinha o primário e gostava de ler. Lutar é procurar abrir os olhos. Primeiro abrir os nossos, para depois tentar fazer o mesmo pelo próximo. Não adianta sair querendo reformar o mundo, primeiro a gente tem que reformar a si mesmo.

 

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