EM BUSCA DO SONHO

O cadeirante que vende balas para pagar faculdade


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Sempre com bom humor, Zezinho vende balas no cruzamento das av. Presidente Vargas e Brasil
Sempre com bom humor, Zezinho vende balas no cruzamento das av. Presidente Vargas e Brasil

Batalhar muito para alcançar certos objetivos é algo comum nas pessoas, mas o poder de superação não é para qualquer um. Principalmente para quem nasceu com paralisia cerebral, com pouca coordenação motora e vive nas esquinas vendendo balas em uma cadeira de rodas. Para José Crispolini Filho, de 38 anos, os obstáculos são bem maiores, mas ele dá uma demonstração de superação a cada dia. “Tinha todos os argumentos para ficar em casa, deitado e desanimado da vida, mas corro atrás dos meus sonhos. Trabalho todos os dias e faço faculdade”, disse o cadeirante, que atualmente tem como “ponto” a junção das avenidas Presidente Vargas e Brasil, na parte central de Franca.

Zezinho, como é conhecido, nasceu prematuro de sete meses. Sua mãe sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) quando estava grávida e precisou fazer o parto às pressas. Por falta de oxigênio, o filho nasceu com paralisia cerebral.

Evidentemente, Zezinho não teve uma infância normal, mas apesar de tudo, estudou na Apae e concluiu o ensino médio no Colégio “Jorge Falleiros”, em Patrocínio Paulista, onde nasceu e morou até 2013. “A paralisia atingiu mais a minha parte de coordenação motora. Estudei na Apae e concluí os estudos no ensino fundamental. Perdi minha mãe quando eu tinha 10 anos. Meu pai tem 80 anos e ainda mora em Patrocínio. Atualmente vivo com uma família em Franca, no Jardim Aeroporto”, disse ele.

Zezinho, que também chegou a vender meias, prestou exame do Enem posteriormente, conseguindo entrar na faculdade. “Estou no segundo ano do curso de Teologia na Faculdade Metodista, polo de Franca. Pago minha faculdade com o dinheiro que ganho vendendo balas. Não sou pedinte, eu trabalho”, disse ele.

Zezinho revelou que arrecada em média R$ 50 por dia e que tem 50% de desconto na faculdade. “Pela nota do Enem pago apenas metade do valor do curso. Mas é mera ilusão uma pessoa achar que sua despesa é somente a mensalidade. Precisamos de computadores, internet e toda estrutura para poder estudar. Somando tudo, o gasto total é imenso”.

O curso de teologia gira em torno de R$ 600/mês, cada unidade de bala custa R$ 2. Para atingir o valor da metade da mensalidade da faculdade, ele precisa vender mais de 150 balas no período dentre cada vencimento da parcela. “Trabalhei no Centro muitos anos, mas tem muita gente lá. Hoje em dia saio andando e vendendo as balas nas esquinas com preferência no semáforo do cruzamento da Presidente Vargas com a Brasil. Nesse local passam muitos carros e o movimento é grande”, diz o cadeirante, que se fantasia com um bigode e chapéu (estilo gaúcho), e com um nariz de palhaço.

Zezinho disse que, às vezes, pessoas ficam olhando e até perguntam como ele tem condições de ter uma cadeira motorizada. “Tinha uma cadeira antiga e contei com a ajuda de uma pessoa para adquirir essa. Outra pessoa também me ajudou recentemente para eu poder trocar as rodas que quebraram. Outra coisa: cheguei a ficar inadimplente com a faculdade por seis meses porque priorizei o pagamento das prestações de um notebook que comprei em nome de outra pessoa, e não poderia sujar o nome dela. Um mulher ficou sabendo da história, foi lá na faculdade e quitou as seis parcelas que estavam atrasadas. Também conto com a colaboração de pessoas boas como essas”, destacou o cadeirante, que tem mais 10 irmãos.

Muito inteligente, Zezinho já proferiu palestra na Fundação Casa e é missionário evangélico. “Eu decido o que fazer e onde ir. Não é a cadeira que vai impedir minhas vontades. Somos do tamanho de nosso sonho”, finalizou Zezinho. 

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