Parece que está todo mundo correndo. Ou pode ser só aquela impressão que temos quando adentramos, novos, a um nicho velho. Como quando a gente fica grávida e percebe que a vizinha, a prima e quase todas as mulheres com quem a gente cruza estão grávidas. Pode ser só mudança de foco. Aliás, a corrida tem lá suas semelhanças com a gravidez. Correr sozinho, por longos trechos, sem papear, convocará, inevitável, nosso mundo particular - e estar grávida é estar permanentemente em contato com um mundo habitado por duas entidades: mãe e filho.
Correr é fácil, é natural e nos faz desfrutar prazeres baratos, muitos até dados – o sol na pele, o vento secando o cabelo molhado há pouco liberto do boné, a jovem capacidade de suar. Preciso mesmo é um chão batido ou asfáltico para a gente principiar o passo na caminhada, depois no trote, para enfim sair correndo com um bom par de tênis, qualquer desses bons tênis que normalmente a gente já tem. Imprescindível: alimentar-se de forma saudável e hidratar-se.
Eis que em busca de outras coisas, talvez reflexo da corrida, encontro uma receita especial: Pirão do Corredor, e daí imagino: não é mesmo possível que todos estejam a correr e até já patentearam um pirão...A dúvida permanece porque a receita é antiga, dada por Ana Suassuna, vinda de um lugar onde se faz é de tudo para segurar as calorias poucas que se tem.
Os ingredientes são: canelas de boi, vinagre, limão, alho amassado, cebola, cebolinha verde, tomatinhos, cominho, colorau, louro, molho inglês, sal e pimenta-malagueta. Pensei: quantos quilômetros isso dá?!
A água e o limão são para lavar os ossos, que devem ser serrados antes. Depois aferventados, cozidos em pouca água até pegar gosto, depois cobertos com água e todos os ingredientes listados, cozidos até delir. Retira-se os ossos e coloca-se farinha branca no caldo, mexendo com colher de pau sem parar - esse é o pirão.
A maneira certa de servir esse prato, isso eu conheço bem, vi meu pai fazer isso inúmeras vezes: um osso em cada prato, raspa-se a cartilagem que estará desmanchando, segura-se o osso com uma mão e com a outra espalmada dá-se um tapa com força na cabeça do osso, normalmente o tutano sairá. E deverá ser amassado no pirão. E se é para suar de verdade, mete-se gotas de pimenta-malagueta e um copinho de cachaça pura para harmonizar essa correria louca.
Gente, o osso da canela do boi chama-se corredor. Por isso, esse é o Pirão do Corredor. O pirão de quem correu, correu, mas morreu na baia de largada sem chance alguma.
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