As viagens de Gilson


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A chegada de Gilson de Souza (DEM) ao comando da prefeitura de Franca trouxe consigo uma profunda mudança na forma de gestão do Executivo Municipal, o que está na raiz de grande parte das queixas e críticas que se fazem à sua administração. Não se trata de questionamento quanto às inovações do ponto de vista ideológico ou filosófico, pois essas eram desejo dos eleitores. O incômodo vem de outra parte.

O problema, ainda pior do que os resultados efetivos da administração, tem sido a forma sui generis com que Gilson governa. É tão singular que soa incompreensível não apenas para quem faz oposição a ele. Secretários, coordenadores, vereadores e mesmo eleitores fiéis têm tido imensa dificuldade de entender, afinal, o que quer Gilson de Souza, diante de tantas mudanças, idas e vindas, demissões e nomeações...

Admito, sem qualquer constrangimento, que sou um desses “perdidos”. Simplesmente não entendo o rumo que o prefeito quer dar ao governo, com mudanças repentinas de ideias, trocas abruptas de secretários, alterações nos escalões inferiores sem que se entenda a lógica, falta de clareza quanto às prioridades, lentidão inaceitável para lidar com questões cujos prazos são mais do que conhecidos

Mas nada, para mim, soa tão misterioso quanto o ímpeto que leva Gilson de Souza a viajar, semanalmente, para São Paulo, em deslocamentos que consomem em média três dias. Sobram, para despachar no paço municipal, as segundas e sextas-feiras, às vezes um pouco mais, noutras tantas um pouco menos. É rotina de deputado, cargo que Gilson ocupou por quase 20 anos. O problema é que agora ele é o prefeito de Franca. Parece óbvio para todo mundo. Menos, para ele.

É bom que se diga que Gilson é econômico. Quem já o acompanhou em algum desses roteiros sabe que ele come em lugares simples, muitas vezes padarias, se hospeda num apartamento que tem na capital, dispensando os hotéis a que faria jus, e passa longe de extravagâncias. O problema não são as viagens. São as ausências que matam.

Tome-se, como exemplo de energia desperdiçada, os últimos quinze dias. Na semana retrasada, Gilson ficou inacreditáveis quatro dias na Capital. Enquanto a cidade estava à espera de sua posição sobre o enfrentamento de um sem-número de problemas, Gilson de Souza despachava na secretaria de Esportes. Difícil imaginar que tipos de benefícios virão destas reuniões que sejam maiores do que sua presença em Franca podia ter proporcionado na solução do contrato do transporte coletivo, dos muitos problemas na Educação ou, até mesmo, do singelo mas histórico passeio Franca-Restinga. Até agora, não vi nada de concreto. Ninguém viu.

Tenho comigo que o prefeito sonhou com a prefeitura, mas decepcionou-se com a rotina do cargo. Ele gosta de conversar, tem genuíno interesse pela vida das pessoas, mas tem dificuldade com tudo que é rotineiro, detesta embates e não se sente confortável em tomar decisões rápidas. Todas, qualidades fundamentais para quem precisa exercer liderança.

“Hoje é sempre o dia certo, de fazer as coisas certas, da maneira certa. Depois será tarde”, ensinou, há mais de 50 anos, o pastor americano Martin Luther King. Conseguiu mudar uma nação que ainda segregava negros de brancos, que ainda dividia as pessoas pela cor da pele. Foi um grande legado. Se Gilson pensa em deixar algum legado, é melhor correr – e mudar. Daqui a pouco, tudo que restará de seu governo serão lembranças. E não serão das melhores.
 

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