Nas muitas lutas que cada um de nós enfrenta no seu dia a dia, a rotina costuma ter um impacto devastador. Com frequência, o esforço para conseguir o dinheiro que precisamos para pagar uma conta, a coragem necessária para enfrentar uma doença, a energia exigida para suplantar uma dificuldade, a força demandada para reverter uma injustiça, ou mesmo o simples mas nem por isso menos difícil desafio de dar conta do que precisa ser feito, drenam todo o nosso tempo.
Muitas vezes, temos a impressão de ter acordado há cinco minutos quando o dia, de fato, já se aproxima do fim. Não raro, acabamos privados de perceber a importância de eventos históricos que acontecem no nosso tempo. Um deles foi anunciado ao mundo na última semana. Uma foto, impressionante. Mas pouca gente entendeu, de fato, o tamanho e a relevância do que ele significa.
A imagem em questão foi divulgada pela National Science Foundation (Fundação Nacional de Ciências), nos Estados Unidos, e mostra um buraco negro. O feito foi possível graças a um esforço conjunto que uniu oito radiotelescópios espalhados ao redor do mundo, “sincronizados” graças a um algoritmo. “Combinados”, se “transformaram” num único telescópio com lente equivalente ao tamanho do próprio planeta Terra. E foi assim, mirando para a galáxia M87, distante 55 milhões de anos-luz de nós, que o engenho humano conseguiu capturar um buraco negro. Até terça-feira, buracos negros eram hipóteses descritas, especialmente a partir da Teoria da Relatividade, de Albert Einstein, e razoavelmente comprovadas por experimentos. Mas a partir de quarta-feira, não há dúvidas: eles existem. E estão por aí. Dá, inclusive para ver. E fotografar.
Não se trata de mera curiosidade. Os buracos negros, como postulado por Einstein, surgem no Universo a partir da explosão de estrelas. Geram, no processo, as supernovas e, no fim, um “corpo” tão denso e pesado - bilhões de vezes mais pesados que o Sol, por exemplo – que nada escapa do seu entorno. Nem mesmo a luz. Mais importante ainda: dentro de um buraco negro, tempo e espaço não existem como conhecemos. Deixam de ser constantes, e sequer podem ser explicados pelas leis tradicionais da física. Passado, presente e futuro podem coexistir ao mesmo tempo – ou, sequer, existir.
Stephen Hawking, outro físico brilhante, morto recentemente, acreditava ainda que alguns buracos negros podem não apenas absorver tudo que o rodeia, mas também transportar matéria para outro lugar do Universo. Seriam os buracos de minhoca. Não é difícil imaginar que num futuro qualquer suas teses sejam também confirmadas. Mas, certamente, isso não acontecerá nesta geração.
Os números que envolvem a descoberta do buraco negro da M87, por si só, mostram nossa insignificância diante do Cosmos. Se houvesse uma máquina capaz de voar à velocidade da luz, o que não apenas não existe como seria impossível de construir, por várias razões, com a tecnologia que dispomos hoje, seria preciso viajar durante 55 milhões de anos, o que é impraticável, por razões óbvias, só para chegar lá. Ainda estamos longe de viajar no tempo, de chegar a outras estrelas, de percorrer galáxias e conhecer novos mundos. Mas ainda assim, a foto da M87 mostra que tudo isso – e mais um monte de outras possibilidades – é mais que teoria. É real. Maravilhosamente real.
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