Despedida

Final de semana tenso, trágico, mágico e amedrontador esse último, quando decidimos o futuro político do Brasil, ao escolhermos o candidato que mais se afinava com ideais e esperança de

02/11/2018 | Tempo de leitura: 3 min

Final de semana tenso, trágico, mágico e amedrontador esse último, quando decidimos o futuro político do Brasil, ao escolhermos o candidato que mais se afinava com ideais e esperança de crescimento, respeitabilidade, segurança, decência e paz do povo que habita este canto majestoso e rico do Planeta. Fui questionada, cobrada, criticada naqueles momentos distantes do lançamento da candidatura em que declarei meu voto ao candidato Bolssonaro. Nos dias que se seguiram e, a bem da verdade, quando já no carro a caminho do local de votação do segundo turno, pessoa conhecida ligou e disse, sem que eu tivesse lhe pedido opinião, “quuueee deeecpçããão!”, como se eu lhe devesse alguma explicação, ou ela fosse responsável por minhas idéias políticas...

Tive um amigo, querido amigo, que conheci ainda solteira, primo da vizinha de apartamento, de cuja filha eu era madrinha. Morávamos em cidades distantes e eu tinha notícias dele pela comadre, que também levava as minhas novas para ele. Vidas díspares: ele se tornou jornalista, repórter da Veja e do Caderno de Negócios do Estadão, esteve exilado em Paris por algum tempo quente e eu, simplesmente parideira e andeja. Tinha filho atrás do outro, viajava por este mundo afora. Certo dia veio a Franca e me ligou, precisava entrevistar meu marido, na época industrial atuante. Fui buscá-lo na praça, tinha vindo de avião, voltaria no mesmo dia para compor a matéria. A entrevista foi feita no meu quarto de dormir, ele sentado numa cadeira, meu marido arrumando as malas sobre a cama, que também ia viajar para o exterior. O fotógrafo que o acompanhava, ao despedir, declarou que nunca tinha visto algo semelhante. Que aquele momento tinha sido único e muito engraçado. Algum tempo mais, nos reencontramos. E passamos a nos ver com alguma frequência. Ele, petista grená, de foto do Lula na carteira. Eu, ex-petista decepcionada. Como fatalmente discutiríamos e poderia sobrar algum ressentimento, enquanto convivemos, eu tomei cuidado para evitar o assunto, porque ele já estava em estado adiantado de enfisema pulmonar. Ele até que me provocava. Um dia publiquei no FB a notícia dos chineses condenados à morte por corrupção e me declarei a favor da punição. Pra quê?

O homem virou bicho e ali mesmo, publicamente, vomitou em cima de mim toda a raiva que contida no petista que sofreu alguma derrocada. Escreveu longo texto de ataque, só não me chamou de Cinderela. Engoli seco, pedi que ele se retirasse da minha página, porque eu não o reconhecia como amigo e não me interessava manter inimizades naquele espaço. Passou o tempo, não nos comunicamos mais, ele entrou em fase complicada e um dia recebi recado pedindo que eu fosse vê-lo, que ele queria me ver, antes de partir. Não tive coragem. Não me despedi dele naquele momento. Despedi-me dele no domingo quando a apuração terminou, meu candidato recebeu 55 milhões de votos e foi eleito. Pensei nele, fiquei triste. Ele não acompanhará a mudança que vai se operar nas entranhas deste país que amamos tanto.


Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br 

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