Vindita travestida de bondade


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REAJUSTE A JUÍZES FEDERAIS E SERVIDORES DA UNIÃO SOA COMO VINGANÇA DE TEMER
Como nenhum dos candidatos à presidência da República se manifestou contra, o presidente Michel Temer (MDB) resolveu conceder o reajuste salarial para juízes federais e também para os servidores públicos da União. Esta foi a justificativa do próprio. A “bondade”, que terá impacto de R$ 8 bilhões no Orçamento do próximo ano, contraria pedido da equipe econômica do Governo Federal e soa como uma espécie de vingança do emedebista com o próximo presidente, já que caberá a ele administrar este enorme rombo nas já deficitárias contas da União. Com a decisão, Temer parece ignorar a tragédia econômica que aflige, não só as contas públicas federais, mas todos os brasileiros. Para a maior parte dos cidadãos, sejam eles patrões ou funcionários, o atual momento é de arrocho financeiro, é de negociar a manutenção do emprego, não de reivindicar um aumento. Temer, mais uma vez, dá provas de que seu governo foi e é um erro.
 
A equipe econômica queria adiar o reajuste dos servidores federais para 2020 para garantir a maior parte dessa economia (R$ 6,9 bilhões, em 2019). Mas, na última quarta-feira, Temer fechou acordo com o Supremo Tribunal Federal (STF) concedendo o reajuste de 16,38% para o Judiciário federal em troca do fim do auxílio-moradia. Diante dessa situação, o presidente ficaria em uma saia justa se não concedesse o aumento para os servidores do Executivo. Os reajustes - de 4,75% a 6,65% - foram negociados em 2015, mantidos por Temer quando assumiu e programados para os anos seguintes para mais de uma centena de carreiras. Cálculos de técnicos da Câmara dos Deputados indicam que o acordo com o Judiciário federal acarretará mais R$ 930 milhões somente com despesas decorrentes do aumento salarial para juízes. A conta pode chegar a R$ 1,1 bilhão considerando servidores do Executivo com rendimentos atrelados ao teto do Supremo. Com o reajuste, esse patamar passará de R$ 33,7 mil para R$ 39,2 mil.
 
Como Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, afirmou à agência de notícias Folhapress, “Brasília ainda não entendeu o tamanho da crise fiscal em que se encontra o país. Ajustes salariais a essa altura da crise mostra que os grupos de pressão continuam tendo muita força para impor suas demandas ao Executivo”. Ainda mais quando essa pressão vem de ministros do Supremo Tribunal Federal. As consequências da “bondade” de Temer, atrelada ao caos fiscal da Nação, podem ser catastróficas, como alerta a sócia da consultoria Oliver Wyman, Ana Carla Abrão: “Hoje se concedem aumentos salariais, benefícios e privilégios a custa de investimento. Amanhã será a custa de remédios, escolas, merenda escolar. Está claro que batemos num muro e só não ver quem não quer”.
 
Temer abre os cofres federais, aumento o rombo nas contas públicas e lava suas mãos. Faltam ainda quatro meses de desgoverno. Há muito ainda a se temer.

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