O grande palco

Nada menos que metade dos eleitores de Franca ignorou os candidatos da cidade.

19/08/2018 | Tempo de leitura: 4 min

O jornalista Edson Arantes publica hoje, neste Comércio, reportagem baseada num levantamento das eleições de 2014. De acordo com os dados que voltam à análise por conta do período eleitoral, nada menos que metade dos eleitores de Franca ignorou os candidatos da cidade — eu, incluído, pois fiz em 2014 minha estreia numa disputa eleitoral, concorrendo a federal — na hora de escolher um deputado. Grosso modo, de cada 10 votos, apenas 5 foram direcionados para candidatos de Franca; os outros cinco compreendem os brancos, nulos, votos em candidatos sem qualquer relação direta com a cidade ou, ainda, quem simplesmente nem votou (leia mais clicando aqui). 
 
Os votos desperdiçados fizeram muita falta: se apenas metade deles tivesse sido distribuída entre a Delegada Graciela, Dr. Ubiali e eu, teríamos sido todos eleitos. Franca teria tido então três deputados federais. Como se sabe, a realidade foi muito diversa e ninguém chegou lá. Apenas Adérmis Marini acabou ocupando o cargo, por menos de seis meses, em razão do apoio que seu partido, o PSDB, deu ao governo de Michel Temer. Com a avalanche que o impeachment provocou, deputados tucanos viraram ministros, abriram caminho e Adérmis, oitavo suplente, teve sorte de assumir o mandato. Bom para ele, para a cidade, mas um ponto fora da curva. É raio que não cai duas vezes no mesmo lugar. Para ser eleito, melhor mesmo é contar com — muitos — votos na urna. 
 
O desafio não é fácil. Qualquer um que se dispõe a participar de uma disputa eleitoral, para qualquer cargo e em qualquer lugar neste nosso Brasil de hoje, merece, de pronto, respeito. É preciso, antes de mais nada, altas doses de coragem e disposição. O candidato vai ser xingado, atacado, menosprezado, provocado. Sua família será constrangida. Se tiver filhos pequenos, é certo que, em alguma medida, sofrerão bullying na escola. Além disso, pela simples condição de candidato, o sujeito será imediatamente colocado no mesmo balaio de toda e qualquer político corrupto que envergonha o Brasil, como se todos fossem iguais. E isso, independente da biografia, da ideologia ou dos valores de cada um.
 
Para piorar, terão que enfrentar o conjunto de regras mais excludentes e restritivas dos últimos tempos. Na prática, quem não é conhecido fica sem ferramentas para levar sua mensagem ao eleitor. São apenas 45 dias de campanha efetiva, com praticamente nenhum financiamento (a não ser que seja rico e custeie a própria campanha) e poucas possibilidades para dizer o que pensa, o que pretende fazer e, de quebra, convencer uma multidão de pessoas a digitar o seu número na urna.
 
O Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) traduziu em números o tamanho do problema. O levantamento, publicado pelo jornal O Globo, na sua edição deste sábado, mostra que dos 513 deputados federais, nada menos de 497 vão tentar a reeleição. Deste total, ainda segundo o Diap, 75% vão conseguir. No caso de São Paulo, que tem uma bancada de 70 membros na Câmara Federal, serão apenas 18 “novatos”. É uma dessas vagas que o conjunto de candidatos de Franca disputa. Porque as outras 52 serão preenchidas por quem já está lá. Nenhum deles, da região. É uma disputa para lá de desigual para os homens e mulheres de Franca que tentam conquistar uma vaga na Câmara dos Deputados ou na Assembleia Legislativa.
 
Não sou um deles. Neste ano, decidi não me candidatar a deputado. Fui eleito vereador, estou no primeiro mandato e acredito que continuar na Câmara Municipal foi a decisão acertada. O partido ao qual pertenço, o PSD, não lançou candidatos nem a federal e nem a estadual pela região. Também não vou declarar apoio a ninguém. Decidi agir assim para poder me dedicar a acompanhar, como jornalista, a luta dos candidatos da cidade. É nesta condição que integro o Projeto Sabatinas, que reúne o Comércio, as rádios Difusora AM e Sir FM, o portal GCN e a TV Franca. Todos os 20 candidatos com base eleitoral na região foram convidados a participar — dois deles alegaram não ter “interesse”. Os demais serão entrevistadas às segundas, quartas e sextas, a partir das 11h, com transmissão ao vivo pela Difusora, portal GCN, Facebook e TV Franca. Mesmo tempo, mesmos espaços, a mesma dedicação e seriedade de uma equipe formada por 12 profissionais de todos os veículos que se dedica a preparar cada sabatina. 
 
A aventura já começou. A estreia foi nesta última sexta, com Kaká, candidato a estadual pelo PSDB. Independente de como se avalie o teor de suas propostas, é fato que ele não fugiu de nenhum tema, não evitou nenhuma pergunta, não foi evasivo sobre o que quer que seja. Disse o que pensa, porque se candidatou, o que pretende fazer. Foi um excelente começo. 
 
Outras 17 entrevistas virão. Não tenho a menor dúvida de que as sabatinas e toda sua repercussão representam o melhor ambiente para os candidatos exporem suas ideias e se apresentarem ao eleitor. O palco está pronto. Agora, é com os candidatos. Que todos sejam claros, objetivos, respeitosos. Que a população acompanhe com atenção. E que, fechadas as urnas em outubro, Franca e região consigam eleger representantes em São Paulo e Brasília. Independente de quem seja, qualquer que seja sua ideologia. O que precisamos, acima de tudo, é ter gente de Franca na Câmara do Deputados e na Assembleia Legislativa. Quanto mais, melhor.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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