Hesitação demais

Governar é difícil. Sobram problemas. Ainda assim, nenhum eleito tem o direito de reclamar.

12/08/2018 | Tempo de leitura: 3 min

Governar é difícil. Sobram problemas e dificuldades. Ainda assim, nenhum eleito tem o direito de reclamar. Ninguém vira vereador, prefeito, deputado, senador, governador ou presidente da República contra sua vontade. Pode se cansar, pode se sentir injustiçado, pode achar que o fardo é pesado, mas deve sempre se lembrar de que, se foi eleito, pediu por isso. Pode também sonhar com aplauso e aprovação, mas sem ficar refém de um, nem de outro. Quem faz isso flerta com a terrível possibilidade de produzir o efeito oposto e desagradar todo mundo. 
 
O problema da vez, o da extinção dos cargos comissionados da prefeitura de Franca, com a consequente exoneração de seus 215 ocupantes, que inclui praticamente toda a equipe estratégica do governo, é um bom exemplo de como uma decisão qualquer é sempre preferível a decisão nenhuma.
 
Muita gente já disse o que pensa sobre o problema. Há quem defenda que o concurso é a solução para todos os males, inclusive para diretores de escola. Tem quem ache que concurso vale como regra para cargos de chefia e coordenação, mas que diretores deveriam ser escolhidos por eleição direta ou, então, por uma lista tríplice encaminhada ao prefeito para definição final. Um grupo acredita que funções estratégicas deveriam continuar a ser preenchidas pela escolha do prefeito, até para manter alinhamento com o plano de governo, e que novos cargos comissionados precisam ser criados, corretamente.
 
O problema é grande, grave e complexo. É verdade que tem origem há mais de 20 anos, mas não é exclusivo de Franca. Outras tantas cidades paulistas, como Guarulhos, Ribeirão Preto, Sertãozinho, Valinhos e Cajamar, além da Câmara Municipal de São Paulo, se debruçam no enfrentamento de desafio semelhante. O que incomoda profundamente, neste instante, é a perturbadora hesitação da administração municipal. O fato do problema ter se originado em outro governo serve de consolo, mas nada além, mesmo porque já se vão oito meses desde que o Tribunal de Justiça determinou que a situação fosse corrigida. A letargia não traz solução, não inspira confiança, não resolve o impacto anunciado nos serviços públicos. 
 
O prefeito precisa, urgentemente, abandonar a ilusão de construir uma solução que agrade a todos. Sempre haverá questionamentos - do sindicato, dos servidores, do Ministério Público, dos comissionados, dos secretários municipais, dos vereadores, de seus opositores e até de quem o apoia. É assim com qualquer assunto polêmico. O aplauso só vem depois, quando se demonstra que o caminho escolhido produziu um bom efeito. Nado disso acontece sem enfrentamento, o que exige coragem e disposição.
 
Passou da hora do prefeito Gilson de Souza dizer qual o caminho a seguir. Se ele confia na procuradoria do município para elaborar, pela terceira vez, a nova estrutura administrativa da prefeitura, que assim o faça. Se prefere entregar a missão a uma comissão de secretários, que anuncie isso. Se internamente não há como construir este projeto, que contrate uma consultoria especializada. Só não vale ficar parado, à espera de um consenso que, em nenhuma hipótese, surgirá espontaneamente. É imperativo escolher um caminho e seguir nele - sem recuos, sem confusão, sem hesitação. É o que Franca espera. Para ontem.
 
 
Corrêa Neves Júnior, jornalista e vereador em Franca
email - jrneves@comerciodafranca.com.br

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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